Hoje, quero levar você a um mergulho num caldeirão que ferve na cabeça de muito pequeno empresário: a tal da publicidade. Será que vale a pena? É só para os grandões com rios de dinheiro? Ou será que existe uma receita secreta para fazer esse investimento dar um retorno saboroso, mesmo com o orçamento mais apertado que calça de toureiro?
Vamos ser sinceros: para quem está na batalha diária de uma pequena ou média empresa (PME), cada real conta. A pressão por justificar cada centavo gasto, especialmente em algo que às vezes parece tão etéreo quanto marketing e publicidade, é real. A gente ouve falar de campanhas milionárias, de criatividade que ganha prêmios internacionais , e pensa: “Isso não é para o meu bico”. Mas será mesmo?
Minha missão hoje é desmistificar essa história e mostrar que a publicidade, quando bem temperada com estratégia e criatividade, pode ser justamente o ingrediente que falta para o seu negócio não só sobreviver, mas prosperar, principalmente se você está numa cidade menor ou jogando com um orçamento limitado.
Primeiro, a pergunta de um milhão: Publicidade funciona mesmo ou é só fumaça?
A boa notícia, confirmada por diversos estudos, é que, no geral, existe sim uma relação positiva entre investir em comunicação e o valor (e o faturamento!) da empresa. Ou seja, não é só papo de publicitário querendo vender job. Investir em se comunicar com o mercado tende a agregar valor ao negócio.
Mas, e sempre tem um “mas”, essa relação não é mágica nem automática. Não basta jogar dinheiro na fogueira e esperar o churrasco ficar pronto. O como você investe é tão ou mais importante do que quanto você investe. Fatores como a cultura do seu mercado, o setor em que você atua e, claro, o tamanho da sua empresa influenciam (e muito!) o resultado final. Uma estratégia que funciona para uma gigante em São Paulo pode ser um tiro n’água numa cidade do interior.
Quando falo em publicidade “bem feita e criativa”, não estou falando só de um anúncio bonitinho ou engraçadinho. Estou falando de estratégia pura. É sobre contar a história única da sua marca de um jeito que prenda a atenção, crie conexão e, principalmente, fique na cabeça do consumidor. É o famoso “pensar fora da caixa”, mas com um objetivo claro: fazer o cliente lembrar de você na hora de decidir a compra e, claro, impulsionar os resultados do seu negócio.
Pense na campanha “Real Beleza” da Dove. Eles não focaram só no sabonete, mas numa conversa cultural relevante, gerando uma conexão emocional fortíssima. Ou, mais recentemente, o fenômeno “Barbie” , que pintou o mundo de rosa com uma estratégia 360º, mostrando que consistência e ousadia geram um burburinho impossível de ignorar. São exemplos de gigantes, sim, mas a lógica se aplica: a criatividade nasce de entender o público e ter coragem de fazer diferente.
E a melhor parte? Criatividade não é sinônimo de gastar fortunas. Como disse Stephan Vogel, CCO da Ogilvy & Mather Alemanha, “Nada é mais eficiente do que a publicidade criativa. […] funciona com menos gastos de mídia”. Ou seja, uma ideia genial pode fazer seu orçamento render muito mais. É a inteligência superando o volume.
Ai você decidiu investir. Mas como saber se o dinheiro gasto em publicidade está voltando como faturamento? Aqui entram em cena duas siglas que tiram o sono de muito marqueteiro, mas que são essenciais: ROI e ROAS.
- ROI (Return on Investment ou Retorno sobre Investimento): É o chefão da métrica. Ele te diz, de forma geral, quanto você lucrou para cada real investido em toda a sua ação de marketing (incluindo custos de equipe, ferramentas, produção, etc.). A fórmula básica é: ROI = (Receita Gerada – Custos Totais) / Custos Totais. Um ROI de 9, por exemplo, significa que para cada R$1 investido, você teve R$9 de lucro líquido. Nada mal, hein?
- ROAS (Return on Advertising Spend ou Retorno sobre Gasto com Anúncios): É o especialista. Ele foca especificamente no retorno gerado pelo dinheiro gasto diretamente com a veiculação de anúncios pagos (Google Ads, Facebook Ads, etc.). A fórmula é: ROAS = (Receita Atribuível aos Anúncios / Custo dos Anúncios) x 100. Um ROAS de 300% (ou 3:1) significa que cada R$1 gasto em anúncio trouxe R$3 de receita bruta.
Calcular isso pode parecer complicado no começo, especialmente o ROI que exige levantar todos os custos. O ROAS costuma ser mais fácil de acompanhar nas plataformas digitais. Mas a verdade é: ignorar essas métricas é como cozinhar sem provar. Você não sabe se está salgado, doce ou se vai agradar o cliente. Acompanhar esses números, mesmo que de forma simplificada no início, te dá o poder de ajustar a receita e otimizar seus investimentos. E não se esqueça de outras pistas importantes, como cliques, engajamento, alcance – elas são os “cheiros” que indicam se o prato principal está no caminho certo.
Bem, depois de tudo isso explicado, agora vou falar sobre com a gente olha para o mercado local e só vê limitações. Mas e se eu te disser que existem vantagens escondidas?
Primeiro, a concorrência em plataformas digitais como Google Ads pode ser menor, o que significa que anunciar para o seu público local pode sair mais barato (CPC mais baixo) do que nas metrópoles. Segundo, o senso de comunidade costuma ser mais forte. As pessoas se conhecem, confiam mais nas indicações, o famoso marketing boca a boca tem um poder imenso. Uma marca que se conecta de verdade com a vibe local, que participa da vida da cidade, cria laços muito mais fortes e duradouros.
O desafio é justamente usar essa proximidade a seu favor. Não adianta tentar copiar a estratégia fria e distante de uma multinacional. O tempero aqui é a autenticidade, a conexão real.
Então, como fazer publicidade de impacto sem esvaziar o caixa? O segredo está em ser esperto e usar os recursos certos. Pense nisso como um “marketing de guerrilha” – táticas criativas, não convencionais e de baixo custo para surpreender e conquistar seu espaço.
Aqui vão algumas ideias que funcionam (e muito!) para PMEs locais:
- Domine o território digital local:
- Google Meu Negócio (GMN): é de graça e poderoso! Mantenha seu perfil atualizado com fotos, horário, informações corretas e peça avaliações aos clientes. É a sua vitrine digital para quem busca na região.
- Anúncios hiperlocais: se for investir em anúncios pagos, comece pelo Google Ads focando em quem já está procurando o que você vende na sua cidade (ex: “manicure centro Atibaia”). É tiro certo!
- Redes sociais com sotaque: esqueça estar em todas. Foque onde seu público local realmente está (Facebook? Instagram?). Mostre os bastidores, converse com as pessoas, responda comentários, crie conteúdo que tenha a ver com a cidade. Seja autêntico!
- Conteúdo que conecta: crie posts, vídeos curtos, dicas que sejam úteis e interessantes para a comunidade local. Fale sobre eventos da cidade, compartilhe histórias de clientes (com permissão!), mostre que você faz parte dali. Incentive seus clientes a postarem sobre sua marca (Conteúdo Gerado pelo Usuário – UGC) – é publicidade gratuita e autêntica.
- Parcerias estratégicas “daqui”: junte-se a outros negócios locais que não sejam seus concorrentes diretos. Uma loja de roupas pode fazer um evento com um salão de beleza. Uma padaria pode criar uma promoção com a floricultura vizinha. Dividir custos e somar públicos é uma jogada de mestre.
- O poder do bom e velho boca a boca: não espere acontecer, incentive! Crie um programa de indicação simples (desconto para quem indica e para o indicado). Peça ativamente por avaliações online. Um atendimento espetacular é o melhor marketing que existe.
- Marketing de guerrilha na prática: pense em ações inesperadas e de baixo custo. Adesivos criativos em locais estratégicos? Uma instalação artística na frente da loja usando seus produtos? Uma ação interativa na praça principal? O objetivo é gerar buzz, fazer as pessoas comentarem. Medir o ROI direto pode ser difícil, mas o aumento de visitas no site ou menções nas redes sociais locais são bons termômetros.
Lições da Linha de Frente: O Que Funciona na Prática
Embora seja raro encontrar PMEs divulgando abertamente seu ROI detalhado, alguns exemplos (mesmo que de outros contextos) nos ensinam muito. Vimos casos de PMEs brasileiras alcançando ROAS altíssimos em plataformas como a Amazon, usando conteúdo criativo e otimização constante. Vimos campanhas de jogos online no Brasil com ROI de mais de 100% usando publicidade nativa (focada em conteúdo) e otimização inteligente. Até mesmo empresas usando o TikTok com conteúdo que vai além do último clique e aumenta os resultados.
O que esses casos têm em comum?
- Foco no digital: as plataformas online são aliadas poderosas.
- Otimização constante: ninguém acerta de primeira. É preciso testar, medir e ajustar sempre.
- Criatividade adaptada: o conteúdo precisa fazer sentido para a plataforma e para o público.
A lição é: o sucesso financeiro da publicidade para PMEs hoje está menos numa única “ideia genial” e mais na maestria de usar as ferramentas digitais certas, segmentar o público com precisão e ter disciplina para otimizar sem parar. A criatividade entra como o tempero que dá sabor a essa execução inteligente.
O tempero final
Chegamos ao fim da nossa conversa temperada. O que fica? A publicidade bem planejada e criativa não é um bicho de sete cabeças nem um luxo inalcançável para as pequenas e médias empresas. Pelo contrário, pode ser um motor poderoso para o seu crescimento, mesmo (e talvez principalmente) em cidades menores e com orçamentos enxutos.
O potencial de retorno existe e é real. A criatividade funciona como um multiplicador de eficiência. E as ferramentas digitais e estratégias locais colocam esse poder ao alcance das PMEs.
A receita do sucesso? Combine a inteligência digital local com um forte engajamento na sua comunidade. Tempere tudo com criatividade, que fale a língua do seu cliente e da sua cidade. E, acima de tudo, meça, aprenda e ajuste constantemente.
Não tenha medo de experimentar, de colocar seu tempero único na sua comunicação. A publicidade pode ser aquele ingrediente especial que transforma um negócio bom em um negócio irresistível. Vá em frente e tempere sua marca!

Sou um apaixonado por contar histórias e temperar as marcas das empresas que atendo. Sou graduado em Publicidade e Propaganda pela UNIFAAT, com pós-graduação em Marketing e Comunicação e especialização em Criação Publicitária e Planejamento de Campanha, ambas pela Universidade Anhembi Morumbi. Possuo mais de 15 anos de experiência em comunicação e marketing. Atualmente sou sócio e Diretor de Criação na Mokeka Publicidade e professor universitário de Redação Publicitária no curso de Comunicação Social.
Visão importante que o Igor nos traz no profissionalismo competente do marketing para todos os portes de empreendedores, bem como, aplicação das métricas que balizam corretamente os resultados, com sabedoria, nos clarifica tratar-se de investimento e não despesa. Abraço.