Caro(a) leitor(a), saudações.

Nesse artigo vou abordar dois temas que afetarão o nível de atividade econômica nos próximos meses, em especial o comportamento da inflação e das taxas de juros, e como esses tenderão a influenciar seus negócios e as estratégias dos investidores.

No mês de agosto houve queda de 0,02% na inflação. O destaque ficou por conta da queda na média do preço dos alimentos (- 0,44%) e habitação (- 0,51) que, respectivamente, possuem peso de 21% e 15% na variação da taxa de inflação oficial (Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA). Apesar disso, caso não ocorram novos choques internos ou externos, a inflação deve subir nos próximos meses devido aos efeitos da seca que tenderá a afetar a produção e oferta de alimentos e as tarifas de energia elétrica.

A boa notícia é que nesse ano a inflação deve ficar dentro da meta prevista entre 1,5% e 4,5%. pelo Banco Central (Bacen) Apesar disso, o IPCA vinha aumentando desde maio e, segundo o último Boletim Focus, a projeção de inflação para esse ano é de 4,30%, próxima ao teto da meta.

Sempre é bom destacar que aumentos na inflação desvaloriza o poder aquisitivo da moeda e dos salários, diminui a capacidade de compra e afeta as escolhas dos consumidores (esses se esforçam para cortar gastos, substituir marcas de produtos e ou demandar menos atividades do setor de serviços), que já estão de joelhos devido as ondas de choque secundárias na atividade econômica, ainda provocadas pela pandemia.

Segundo o Instituto Datafolha a melhora em certos indicadores econômicos, como o aumento de 1,4% no PIB do último trimestre (sustentado principalmente pelo aumento dos gastos do setor público) e queda na taxa de desemprego, não foi percebida por boa parte dos consumidores. Em parte isso se deve a memória quanto ao aumento acumulado de 3,2% nos preços dos alimentos ocorrido nesse ano, ante aumento acumulado de 2,85% no IPCA no mesmo período.

A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), que define a taxa básica de juros básica da economia, Selic, ocorrerá entre 17 e 18 de setembro. A expectativa do mercado é que haverá aumento de 0,25% nessa, passando de 10,50% para 10,75%. Tal taxa é importante pois afeta diretamente o nível de atividade econômica, os custos das operações de empréstimos e financiamentos realizados pelas famílias e empresas e as taxas de rentabilidade dos investimentos. Vamos entender melhor esses temas.

A taxa básica de juros é um dos instrumentos de política econômica empregados pelas autoridades monetárias para reduzir ou estimular o nível de atividade econômica como meio de controlar a inflação. Quando ocorre expectativa de aumento da inflação, sobretudo a futura, tende a haver aumento na Selic, fato que torna maior o custo do dinheiro (taxa de juros), reduzindo as decisões de consumo das famílias e de investimentos nas empresas. Ambos são importantes para o crescimento do produto e da renda, mas novos investimentos geram mais emprego hoje e aumentam a capacidade de produção futura da economia.

Além disso, a desaceleração da atividade econômica atenua a elevação nos preços, mas reduz sensivelmente a demanda e a oferta por bens e serviços. Nesse contexto, a lucratividade das empresas tende a recuar e, concomitantemente, o retorno esperado dos investidores que aplicam em ações. Tais títulos de renda variável geram ganhos de capital (derivados da elevação do preço das ações das empresas negociadas na Bolsa de Valores) e dividendos (lucros distribuídos periodicamente pelas empresas aos seus acionistas).

Ao investir em ações os investidores correm os riscos do negócio decorrentes das flutuações nas receitas e custos das empresas. Assim, a desaceleração da economia afeta as expectativas dos investidores em relação a obtenção de tais ganhos. Quando isso acontece, muitos investidores tendem a buscar outros meios de obter rentabilidade e minimizar riscos aplicando em títulos emitidos pelo governo, em especial os atrelados à taxa Selic (Letra do Financeira do Tesouro Nacional – LFN) ou ao IPCA (Tesouro IPCA+ – NTN-B Principal).

A Selic também afeta o rendimento de outros instrumentos de renda fixa, como os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e as debêntures, emitidos, respectivamente, pelos bancos e empresas. Esses títulos têm como característica o fato de funcionarem como meios de transferência da poupança das famílias para os bancos ou empresas, tendo sua rentabilidade diretamente trelada a taxa Selic.

Se por um lado aumentos na Selic torna mais atrativo investir em renda fixa, por outro isso impacta diretamente a rentabilidade dos CDBs e de outros investimentos de renda fixa pois, além de servir como referência para investimentos em renda fixa, esses constituem um dos principais instrumentos de captação de recursos dos bancos para a realização de novas operações de empréstimos e financiamentos aos consumidores e às empresas; ou seja, quando a Selic aumenta também aumenta o custo de captação dos bancos e as taxas de juros por esses praticadas em suas operações de crédito.

Considerando o cenário, certos fatores causam preocupação: (i) impactos adversos sobre o consumo e investimentos, devido a elevação no custo de capital provocado pela elevação nas taxas de juros; (ii) menor o espaço do setor público na manutenção das taxas de crescimento da economia, não apenas nos próximos meses, mas também em 2025, sobretudo se não houver maior esforço fiscal do governo no corte de seus gastos; (iii) intensificação da volatilidade no mercado de ações, resultando em maior atratividade dos investidores em títulos de renda fixa, dada a maior incerteza de ganhos com investimentos em títulos de renda variável.

Vamos acompanhar esses movimentos.

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