O resultado das eleições nos Estados Unidos sinaliza uma nova fase de desafios geopolíticos e econômicos para o Brasil e o cenário internacional, com aumento do protecionismo e possíveis impactos na economia global.
A recente vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos levanta questões cruciais sobre o impacto dessa nova fase de seu governo na economia global e nos cenários político e diplomático. Com um discurso fortemente protecionista e políticas voltadas para o incentivo da produção interna, Trump promete adotar tarifas mais altas para produtos importados e intensificar sua abordagem em relação à imigração e subsídios industriais.
Segundo analistas, essa combinação de políticas pode representar uma elevação da dívida pública americana, aumento da inflação e diminuição da corrente de comércio global, o que terá reflexos diretos para economias emergentes, como a do Brasil. O professor Victor Missiato, do Mackenzie Tamboré, observa que o conservadorismo em expansão nos EUA significa, para a América Latina, uma possível restrição ao comércio e pressões para que os países busquem alternativas de mercado. “O protecionismo defendido por Trump poderá afetar as relações comerciais brasileiras, pois diminuiria seu poder de exportação. Por outro lado, tais políticas podem forçar o governo brasileiro a adotar uma nova agenda de reformas a fim de não perder competitividade em um comércio internacional mais restrito”, afirma Missiato.
Impactos Econômicos e Comerciais
A nova gestão de Trump propôs, durante a campanha, aumentos tarifários de 10% a 20% para todos os parceiros comerciais e até 60% para produtos chineses, o que pressiona países exportadores como o Brasil a reavaliar suas rotas comerciais e buscar novos mercados. Em especial, o Brasil poderá enfrentar um ciclo de dólar mais alto, associado a uma possível redução nas exportações para o segundo maior parceiro comercial do país.
Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, o protecionismo tarifário acentuado pode ter consequências drásticas. “Ou vira inflação ou vira redução de demanda” nas palavras de Gonçalves, que alerta para o efeito desse tipo de política sobre a economia americana e, por consequência, o mercado internacional. Ao aumentar drasticamente os impostos sobre produtos chineses, por exemplo, o consumidor americano enfrentará uma situação de encarecimento de produtos essenciais. Esse cenário ou força o consumidor a pagar mais caro por determinados produtos, ou reduz a demanda, afetando o consumo e a estabilidade de preços.
Repercussões Geopolíticas
A possível continuidade das políticas protecionistas de Trump deve acirrar as tensões comerciais entre os EUA e a China, influenciando a diplomacia internacional e forçando outros países a posicionarem suas estratégias comerciais. No caso brasileiro, Missiato observa que uma nova guerra comercial poderia prejudicar o agronegócio nacional, aumentando a necessidade de ajustes na política comercial do Brasil. “O Brasil precisará se posicionar de forma assertiva e talvez reavaliar acordos e parcerias para não perder competitividade no mercado global”, complementa.
A postura de Trump sobre conflitos em regiões como a Europa Oriental e o Oriente Médio também deve ter impacto na geopolítica. Com a Rússia, por exemplo, especialistas apontam para uma relação distante neste novo mandato, o que pode sinalizar mudanças na atuação americana em territórios europeus e na relação com a Ucrânia. No Oriente Médio, a continuidade dos Acordos de Abraão e os conflitos com o Irã e grupos como Hamas e Hezbollah também estarão sob pressão, pois a política externa dos EUA tende a seguir uma linha dura na tentativa de manter a estabilidade em áreas de influência estratégica.
Conclusão
A vitória de Donald Trump representa um marco para a geopolítica global e um ponto de atenção para a economia mundial. A expectativa é de que os próximos anos tragam um cenário de forte concorrência comercial e desafios para países como o Brasil, que precisarão ajustar suas estratégias para enfrentar um mercado internacional mais volátil e protecionista.