Medida entra em vigor em agosto e pode causar prejuízos bilionários à indústria brasileira; especialista alerta para risco sistêmico e necessidade de reação estratégica

A partir de 1º de agosto de 2025, todas as exportações brasileiras para os Estados Unidos estarão sujeitas a uma tarifa de 50%. O anúncio, feito pelo presidente norte-americano Donald Trump, marca um dos episódios mais tensos nas relações comerciais entre Brasil e EUA nas últimas décadas, com impactos diretos sobre a economia brasileira, as exportações e a estabilidade do sistema internacional de comércio.

Segundo o professor João Alfredo Lopes Nyegray, coordenador do Observatório de Negócios Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a decisão representa uma escalada sem precedentes e está inserida em uma estratégia mais ampla de retaliações tarifárias por parte dos EUA, com foco especial nos países do BRICS e seus aliados.

Exportações ameaçadas: prejuízo estimado em bilhões

Os Estados Unidos são o segundo principal destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China. Em 2024, o Brasil vendeu mais de US$ 35 bilhões para o mercado norte-americano. Produtos como aviões, aço, celulose, suco de laranja, café e bens industrializados de alto valor agregado estão entre os mais afetados.

“Uma tarifa de 50% tornará esses produtos imediatamente menos competitivos, podendo gerar prejuízos bilionários, fechamento de fábricas e perda de empregos”, alerta Nyegray.

Setores como o aeroespacial, metalúrgico e agroindustrial são os mais expostos, e estados fortemente inseridos nas cadeias globais de valor — como o Paraná — sentirão os efeitos de forma ainda mais acentuada.

Diplomacia da intimidação agrava cenário

O professor destaca que Trump politizou o comércio internacional ao associar a tarifa a decisões internas do Brasil, como o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo STF e alegadas restrições à liberdade de expressão no país. Essa postura representa o uso da chamada “bully diplomacy”, ou diplomacia da intimidação.

“É uma postura que fere os princípios da OMC e rompe com a lógica da previsibilidade multilateral, substituindo o diálogo por coerção bilateral”, afirma Nyegray.

Impacto sistêmico sobre o comércio global

A ofensiva tarifária também se insere em uma tentativa dos EUA de reafirmar sua hegemonia econômica frente ao crescimento do BRICS, agora ampliado com a entrada de países como Irã, Arábia Saudita e Indonésia. Trump argumenta que o grupo estaria promovendo uma agenda “antiamericana”, principalmente no esforço de reduzir a dependência global do dólar.

Nesse contexto, a tarifa imposta ao Brasil representa não apenas um embate pontual, mas um risco sistêmico à ordem multilateral e à estabilidade do comércio internacional.

Respostas urgentes: o que o Brasil e as empresas devem fazer

Diante do novo cenário, o especialista defende que o Brasil precisa reagir com firmeza e inteligência estratégica, tanto no plano diplomático quanto no empresarial.

No âmbito internacional, o país deve:

  • Acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC);
  • Solicitar consultas formais no Órgão de Solução de Controvérsias;
  • Articular respostas conjuntas com outros países afetados.

Internamente, o setor empresarial brasileiro terá que:

  • Revisar contratos de exportação;
  • Diversificar mercados, buscando acordos com União Europeia e países asiáticos;
  • Expandir a presença internacional, com foco em fábricas ou centros logísticos nos EUA;
  • Investir em inovação, agregando valor aos produtos para resistir às barreiras tarifárias.

“A nova ofensiva comercial de Trump é mais que um desafio conjuntural. É um teste à resiliência da política externa brasileira e à capacidade de adaptação do nosso empresariado”, conclui Nyegray.

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