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O presidente da Federação, Fábio de Salles Meirelles, compartilha dos receios dos produtores, mas entende a necessidade da inversão do calendário para manutenção das garantias sanitárias.
Os produtores rurais da pecuária de corte e de leite devem ficar atentos ao calendário de vacinação contra a febre aftosa, segundo alerta a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP). Normalmente todos os bovinos e bubalinos são imunizados em maio e depois, em novembro, apenas os animais com até 24 meses. Mas este ano o Departamento de Saúde Animal (DSA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) inverteu essa ordem. Deste modo, em maio de 2022 serão vacinados os animais com até 24 meses, e apenas em novembro será vacinado todo o rebanho. A medida foi tomada porque o estoque atual de doses é insuficiente para a totalidade de bovinos e bubalinos já em maio.
O presidente da FAESP, Fabio de Salles Meirelles, compartilha dos receios dos pecuaristas, mas entende a necessidade da inversão do calendário para manutenção das garantias sanitárias. “A FAESP foi a entidade que pleiteou a vacinação de todo o rebanho em novembro com objetivo de mitigar a ocorrência de eventuais perdas. De todo modo, entendemos a decisão do MAPA, pois é muito importante garantirmos a imunização desta faixa etária essencial do plantel agora, com as doses que temos à disposição, para em novembro termos o quantitativo necessário de vacinas para todo o rebanho”, observa.
A FAESP alertou em inúmeras ocasiões os órgãos responsáveis quanto à falta do imunizante em muitos pontos de revenda. Esse problema de fornecimento causou diversas vezes a prorrogação dos prazos da campanha de vacinação, prejudicando a logística dos pecuaristas.
Segundo Gabriel Adrian Sanchez Torres, auditor fiscal federal agropecuário e responsável pelo Plano Estratégico do Programa Nacional de Vigilância para a Febre Aftosa (PE-PNEFA), está ocorrendo um descompasso entre a produção de vacinas e a diminuição do número de animais imunizados. “A gente vive um momento do programa nacional de vigilância da doença em que o País está avançando no status sanitário e alguns estados estão retirando a vacinação, substituindo-a por ferramentas de vigilância e detecção precoce. Com isso, os fabricantes estão reduzindo a produção, tendo em vista esse novo cenário”, diz ele.
São Paulo é um dos estados que está se preparando para se tornar zona livre de febre aftosa sem vacinação, a fim de ter acesso a novos mercados no exterior. Como, em tese, a demanda é menor, as indústrias também reduziram a fabricação, mas para uma quantidade muito baixa, insuficiente para abastecer os pontos de revenda — e é isso que está gerando os problemas de fornecimento do imunizante. “O DSA estudou a oferta de vacinas em estoque nas revendas, comparou com a programação de produção e chegou à conclusão que apenas com a inversão das etapas será possível atender às necessidades”, destaca Torres.
A alteração do calendário deste ano ocorre então porque, se em maio fosse ocorrer a vacinação de todo o rebanho, conforme o esquema usual, não haveria doses suficientes. Imunizando apenas os animais com até 24 meses, as indústrias terão mais condições de atender à demanda — no Estado de São Paulo, os bovinos e bubalinos dessa faixa equivalem a 42% de todo o rebanho paulista.
Além disso, haverá mais tempo para confeccionar quantidade suficiente para a segunda etapa em novembro. A produção é feita continuamente ao longo do ano por três fábricas no Brasil, uma em São Paulo e duas em Minas Gerais — no passado havia outras duas em São Paulo que saíram do mercado, acompanhando a tendência da redução.
Ele afirma que a inversão ocorrerá apenas este ano, e que não causará problemas quanto à condição de saúde dos animais. “Não existe nenhum risco de comprometimento à imunização. O rebanho continuará sendo totalmente atendido uma vez por ano e os animais mais jovens, até 24 meses, duas vezes ao ano. Apesar da alteração, a frequência da vacinação continua a mesma”, conclui Torres.
INVERSÃO
Até 2016 o esquema era como esse proposto pelo MAPA para este ano: em maio os animais até 24 meses e em novembro todo o rebanho. Mas naquele ano a FAESP pleiteou mudanças porque causava problemas para o setor. Wander Bastos, coordenador da Comissão Técnica de Bovinocultura de Leite da FAESP, expõe algumas questões que preocupam o pecuarista.
“A mudança que será feita este ano, voltando ao que era até 2016, prejudica o gado de corte por causa da estação de monta, que começa em agosto para depois, em novembro, o criador conduzir o gado no curral para outros procedimentos de manejo. No caso do gado de leite, o mês de maio é mais quente e úmido, período em que geralmente chove. Para manejar o gado de leite no curral é complicado, há quebra de leite. Em novembro, quando a temperatura é mais baixa, é melhor de lidar com o gado de leite, por isso a inversão das etapas pode trazer alguns transtornos ao pecuarista”, explica o coordenador.
Apesar das preocupações, os criadores não têm alternativa, terão de cumprir o determinado pelo MAPA e buscar amenizar as possíveis perdas que ocorrerão, tanto na quebra da produção do leite quanto o provável prejuízo na procriação do gado de corte para quem trabalha com estação de monta. Segundo o determinado pelo MAPA, a movimentação de animais durante as etapas de vacinação continuará seguindo o esquema usual, ou seja, propriedade adimplente com a etapa de imunização em curso poderá movimentar normalmente seus animais. A mudança do calendário também tem o apoio do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal (Sindan).