Imagino que o tema não surpreenda e espero que não decepcione, pois há muito que comentar acerca de reflexos do conflito no Brasil e perspectivas para o curto prazo.

Real brasileiro valorizado perante o dólar estadunidense – Por quê? A expectativa “moldada pela história” seria de situação oposta, por conta do conflito entre Ucrânia e Rússia – o que o cenário presente não confirma.

Causa 1: a guerra impactou diretamente os preços internacionais de algumas commodities. Rússia é o maior exportador de trigo (18% da produção mundial, aproximadamente) e Ucrânia é a vice-campeã, com 10%; de lá, importamos 25% de nossos fertilizantes (outro “ponto de atenção”, pois a Ucrânia já aumentou seus preços para o Brasil); os russos são grandes produtores mundiais de petróleo e gás (note o alcance potencial desse fato!). Esses e outros dados inspiradores de tensão podem, em alguns casos, ter seu lado positivo. É o que ocorre com a pauta brasileira de exportações de commodities agrícolas. Somos grandes exportadores mundiais e estamos vendendo mais caro (em US$), o que direciona mais moeda estadunidense para nossas reservas, o que, por sua vez, é um fator redutor de preço daquela moeda no Brasil.

Causa 2: diante das expectativas de inflação alta, o governo tem estabelecido metas mais altas para nossa taxa básica de juros (a SELIC). A meta mais recente (16/março) foi estabelecida em 11,75% e os mercados esperam valores maiores (o mais recente Relatório Focus – 25/março/22 mostra expectativa de 12,75% para maio/22). Tem “lado bom” nisso? Para o câmbio e seus reflexos, sim! Esse nível de taxa de juros (tanto nominal quanto real) nos coloca entre os Tops globais (no caso de taxa real, estamos “colados” na… Rússia). O investidor estrangeiro que acompanha países emergentes de risco “moderado” para “baixo”, com nossas taxas atrativas, manda seu dinheiro para cá, o que significa mais dólares em nossas reservas e mais pressão de baixa na cotação. Ponto para o real brasileiro.

Causa 3: nossa Bolsa de Valores está “barata” e o investidor estrangeiro vê isso, também. Resultado: mais dólares para nossas reservas e mais valorização do real brasileiro. Até quando? Existe uma brincadeira entre economistas, segundo a qual “o dólar existe para que os economistas sejam mais modestos”. De fato comentar futuro de câmbio exige cautela de quem o faz, afinal (segundo minha crença) “prever” futuro não é atributo humano. Podemos falar de “tendência”? Podemos. Desde que não haja um grande solavanco internacional, o real deverá continuar fortalecido – ao menos até proximidades de outubro, por conta de nossas eleições gerais.

Recomendo especial atenção ao comportamento dos juros nos Estados Unidos. Se a taxa subir lá, “alguns” dólares internacionais deixarão de vir para cá (risco brasileiro é superior ao estadunidense) e “alguns” dos que já estão aqui partirão para lá.

Atenção diferenciada deve ser dedicada ao preço internacional do petróleo, influente em nosso preço de combustíveis e, consequentemente, na inflação brasileira. Essa mesma inflação, se for “esperada” alta, motivará o Banco Central a inspirar taxas básicas mais altas etc.

Há muito que tratar sobre esse assunto. Considerem esse texto um início, por favor.

Até breve!

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