Aqueles que leram ao menos um texto sobre estratégia, sabem que ela tem origem na guerra. Em situação de guerra, conhecer o inimigo é o diferencial que distingue vencedores e “os outros”. Se o inimigo não é conhecido e para que se evitem ações suicidas, alguma coisa precisará ser feita e essa “alguma coisa” poderá ser a elaboração de um conjunto de simulações de características do oponente, maquetes de instalações, de equipamentos, etc. O grande valor dessas simulações é o de permitir que sejam estimadas algumas possíveis ações e reações do “inimigo”, em situações reais. Dessa forma, é possível planejar várias situações e as maneiras de agir em cada caso. Assim garante-se a vitória? Não, mas as chances da pretendida vitória aumentam consideravelmente! Com algumas poucas alterações, a introdução que você acaba de ler pode ser aplicada à estratégia empresarial.
Nessa nova situação – a empresarial, o inimigo não é um outro contingente armado, mas um concorrente ou um outro tipo de ameaça, que pode ser uma externalidade, isto é, fato impossível de ser gerenciado pela empresa, a exemplo de uma oscilação no câmbio, no clima ou em uma situação política nacional ou internacional. Aprendi, há alguns anos, que planejar não é tentar adivinhar o futuro, mas preparar-se (ou à empresa) para ele, acerca do qual tem-se uma só certeza: a de que ele chegará! O que a informalidade chama de “plano A”, “plano B” etc., no ambiente empresarial chamamos de “cenário A”, “cenário B” e outros.
Ao menos três cenários são elaborados, em ações de planejamento, mais frequentemente: um otimista, um pessimista e um mais próximo de acontecer, ou realista. O primeiro retrata o melhor dos mundos; o segundo, sua antítese – o pior dos mundos e o terceiro (também chamado de central) pretende representar um modelo de circunstâncias mais próximas de serem constatadas. Em cada cenário, os gestores deverão estar preparados para reagir, com a menor possiblidade de “danos” e, claro, com a maior possibilidade de obter benefícios. Até aqui parece fácil, certo? A etapa crítica, mais exigente, é a de elaboração dos cenários.
A atividade de construir cada um dos cenários exige que seus construtores sejam muito bem-informados sobre economia, política, finanças e, certamente, sobre seu segmento de operações. Não basta reconhecer fatos e circunstâncias relevantes para a construção dos modelos (cenários); é necessário saber relacioná-los, entre si e às possíveis implicações para o negócio. O atendimento à essa necessidade exige do construtor dos modelos (o cenarista) constante exercício intelectual de acompanhar fatos, interpretá-los, buscar antecipar-se aos fatos (com a consistência dos estudos, a possibilidade dessa “antecipação” aumenta bastante).
O aqui chamado cenarista deve dedicar-se ao acompanhamento daqueles atores relevantes em cada um dos cenários. Quem são eles? Como pensam? Que dados históricos, sobre esses personagens, são relevantes para que se possa imaginar essa ou aquela “sua” reação, diante de um determinado fato? Informação e competência técnica farão a diferença, aqui. Não é tarefa simples, mas é tarefa necessária. Por isso, quanto se trata de cenários econômicos, sempre faço referência à sua elaboração e interpretação.
Comemoro ter visto, nos últimos anos, um crescimento em “rampa acentuada”, da conscientização por parte do pequeno empreendedor, da imprescindibilidade da utilização dos cenários ou, ao menos, da necessidade de compreender melhor o que ocorre à sua volta, com câmbio, juros, política, geopolítica e a sensibilidade de seu negócio a cada um desses elementos influentes. Em tempos de eleições gerais, como o que vivenciamos, aumenta a quantidade dos eventos (debates, palestras, mesas-redondas etc.) promovidos por entidades de classe, empresas (independentemente do porte – essa é a novidade, porque as “grandes” há muito o fazem!), o que evidencia a maior importância atribuída à compreensão dos cenários econômicos e sua utilização no planejamento empresarial.
Até breve!

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