Nesta semana foram publicados dois importantes relatórios, no que se refere ao emprego e renda no Brasil. (1) o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), documento mensal, assinado pelo Ministério do Trabalho e Previdência e que considera contratações e desligamentos de trabalhadores sob CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) – trata de trabalho formal, portanto. (2) a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), fonte de informações trimestrais sobre “a força de trabalho em âmbito nacional”, assinada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e que trata do trabalho, seja ele formal ou informal. Em tempos de muita atenção à inflação e preocupação com a recuperação da atividade econômica, a criação de postos de trabalho, a performance da renda média e o nível de atividade da economia estão no centro do debate e é natural que assim seja.
Há, entretanto, alguns cuidados necessários à essa análise, da mesma forma que em outras. A análise histórica recente mostra diferenças entre as performances da atividade econômica e dos níveis de emprego. Sobre isso, as explicações do que pode parecer “muito estranho” passam, necessariamente, pela performance da renda média. Diante do crescimento do emprego, é certo que a massa de renda originada no trabalho aumenta, mas há que se considerar a média dessa renda, se a pretensão é avaliar o poder de compra das famílias, e, portanto, o impacto positivo no consumo. Esse é um ponto a destacar!
Em economia, nada se considera definitivo(a), exceto a certeza de que mudanças ocorrerão, em alguma intensidade, em algum prazo, sobre alguma variável. Por que isso? Porque estamos tratando de uma ciência que depende do comportamento humano, inclusive de suas reações diante de fenômenos naturais. Digo isso para que dados momentaneamente indesejáveis não sejam considerados uma pena perpétua à produção, aos investimentos, ao crescimento, à economia. Com competência de gestão e alguma ajuda do imponderável, deveremos assistir às melhoras.
A taxa de desemprego no 2º. trimestre (9,3%) anunciada hoje (29jul22) é a menor em muitos anos, mas a renda média do trabalho ainda cresce menos que a inflação em 2022, embora haja melhora também nesse ponto. A inflação – ameaçadora, sempre – induz à manutenção dos dois dígitos da taxa de juros, o que deverá ocorrer em todo o tempo restante de 2022. Alta taxa de juros, significa alto custo do financiamento à produção e ao consumo. Não há solução simples, tampouco rápida, mas a economia brasileira é considerada forte em seus fundamentos.
Quem acompanha este tema, notará um debate maior sobre o nível da taxa de desemprego que possa estimular a inflação, ou, dito de outra forma, a taxa de desemprego que deveria ser considerada um “piso”, para que a inflação não seja incentivada. No caso brasileiro, essa taxa-limite, chamada de taxa natural de desemprego, pode estar pouco abaixo dos atuais 9,3%. O assunto exige uma abordagem mais técnica, com baixa margem especulativa, para que a credibilidade dos analistas não seja questionada.
E, em se tratando de “abordagem mais técnica” sobre a relação as variáveis que compõem o título deste texto, indico o excelente artigo do pesquisador Eduardo Duque (FGV/IBRE), baseado no CAGED de junho/22 (base maio/22, portanto) e disponível em https://bityl.co/DXia. Leitura muitíssimo interessante, didática e, por isso mesmo, muito útil aos que, como eu, buscam aprender algo sobre economia, todos os dias.
Sapere aude!
Até breve!
Economista e Mestre em Administração, desenvolveu carreira em instituições financeiras de grande porte. Paralelamente e por escolha, tem trabalhado em educação corporativa e acadêmica, neste último caso, exercendo docência e gestão de cursos. É autor e revisor de material didático para diversos cursos de graduação e pós-graduação, além de autor de livros não didáticos. No meio corporativo, dedica-se à consultoria e assessoria, na gestão financeira e na análise de conjuntura econômica.