O relatório “Predictions 2025”, da Ipsos, realizado em 33 países, traz uma visão ampla sobre as macrotendências globais que irão moldar o comportamento de consumo nos próximos anos.

Aqui, apresento uma síntese dos principais insights da pesquisa, destacando os desafios, oportunidades e mudanças que impactarão consumidores e empresas.

A dualidade da tecnologia e da inteligência artificial

A relação dos consumidores com a tecnologia é marcada por um paradoxo. Enquanto avanços tecnológicos prometem conveniência, inovação e soluções personalizadas, também geram medo e incerteza.

O estudo revela que 65% das pessoas temem que a inteligência artificial (IA) substitua empregos, embora 43% reconheçam o potencial dessa tecnologia para gerar novas ocupações.

A aceitação dos carros autônomos ainda enfrenta resistência: só 40% das pessoas acreditam que esses veículos se tornarão comuns em suas cidades.

Por outro lado, os mundos virtuais estão ganhando força, com 59% prevendo que passarão mais tempo nesses ambientes. Esse contexto abre espaço para marcas investirem em experiências digitais envolventes e seguras.

No Brasil, a integração de tecnologias em setores como serviços e educação, traz tanto oportunidades quanto desafios.

Plataformas de ensino à distância têm democratizado o acesso à educação. Porém, a falta de infraestrutura digital em áreas rurais ainda limita o alcance dessas soluções.

No setor de serviços, assistentes virtuais e chatbots são cada vez mais usados para melhorar a experiência do cliente, mas enfrentam resistência de consumidores que preferem interações humanas.

A segurança de dados é uma preocupação central: 57% dos consumidores globais temem vazamentos de informações. No Brasil, os recentes episódios críticos de cibersegurança tornam ainda mais urgente a necessidade de soluções confiáveis e eficazes.

Pressões econômicas e impacto no consumo

Em termos globais, 79% dos consumidores esperam que os preços subam mais rapidamente que suas rendas em 2025. Além disso, 74% das pessoas esperam um aumento na carga tributária, enquanto 70% acreditam que a inflação continuará alta, criando um cenário de consumo mais contido e desafiador.

No Brasil, onde a inflação é historicamente um desafio, essa previsão intensifica a busca por alternativas acessíveis.

Algumas empresas têm investido em soluções como promoções semanais dinâmicas e programas de fidelidade para atrair consumidores mais cautelosos.

Startups financeiras vêm oferecendo opções de crédito e controle de gastos que ajudam a reduzir o impacto da instabilidade econômica no orçamento das famílias.

Nesse cenário, as empresas precisam investir em estratégias criativas, como ofertas personalizadas e precificação dinâmica.

Uma demanda crescente por sustentabilidade no Brasil

As questões ambientais seguem impactando fortemente o comportamento de consumo.

Para 80% dos entrevistados, o aquecimento global é uma preocupação urgente, e o Brasil, com sua rica biodiversidade, ocupa um papel central nessas discussões.

Eventos como os incêndios na Amazônia e as estiagens prolongadas destacam ainda mais a importância de iniciativas sustentáveis.

Consumidores brasileiros estão cada vez mais atentos a práticas sustentáveis. Algumas marcas nacionais têm se destacado com iniciativas de economia circular e produtos com pegada ambiental reduzida.

Uma delas utiliza materiais reciclados em suas embalagens e implementa programas de reflorestamento para neutralizar emissões de carbono. Outra, além de lançar linhas de produtos sustentáveis, desenvolveu um programa de coleta e reciclagem de itens usados.

Outras empresas estão investindo em bioplásticos e expandindo iniciativas de refilagem de produtos, contribuindo para a redução do consumo de plástico descartável.

A adoção de embalagens recicláveis e programas de neutralização de carbono podem ser uma forma de conquistar o público engajado, além de atender às demandas de exportação para mercados exigentes.

Transformações sociais e impacto no mercado

No Brasil, a imigração desempenha um papel importante, especialmente nos estados do Sul e Sudeste, que acolhem populações de países vizinhos, como Venezuela e Haiti.

Esse movimento não apenas altera a demografia local, mas também impacta o consumo, ampliando a demanda por produtos acessíveis e inclusivos.

No ambiente corporativo, a diversidade ainda é um desafio. Marcas que investem na inclusão, seja por meio de suas campanhas ou de práticas de contratação, têm mais chances de conquistar consumidores exigentes.

Campanhas autênticas que valorizem a diversidade e produtos voltados para atender às necessidades de públicos sub-representados podem fortalecer a fidelidade e diferenciar as marcas no mercado.

Segurança e resiliência em um mundo incerto

As ameaças globais, como pandemias e conflitos armados, afetam a percepção de estabilidade.

Globalmente, 49% dos consumidores acreditam que o uso de armas nucleares é uma possibilidade real, e 47% consideram provável o surgimento de uma nova pandemia.

No Brasil, a memória recente da Covid-19 mantém essas preocupações vivas, impulsionando setores como tecnologia em saúde e produtos de higiene pessoal.

Essas incertezas têm aumentado a busca por estabilidade e resiliência, com reflexos na demanda por produtos que promovam bem-estar e segurança. Marcas que oferecem soluções inovadoras, como aplicativos de telemedicina ou produtos sanitizantes sustentáveis, podem capturar a atenção do consumidor brasileiro.

Setores como saúde, tecnologia de higiene e soluções digitais para bem-estar pessoal têm a oportunidade de crescer.

Ao mesmo tempo, as marcas devem estar preparadas para comunicar seus valores de maneira empática e responsável, alinhando-se às preocupações mais profundas de seus públicos.

O novo niilismo e os desafios em um mundo de incertezas

Além das tendências mencionadas, a pesquisa “Predictions 2025” da Ipsos aponta uma tendência emergente chamada “novo niilismo”, inspirada na concepção filosófica do século XIX, que descreve uma crescente desilusão global, especialmente entre as gerações mais jovens, com as promessas de um futuro melhor.

Essa tendência reflete uma postura cética e pessimista em relação às expectativas globais, em um cenário de instabilidade política, crises econômicas e desafios ambientais.

O novo niilismo não apenas influencia o comportamento individual, mas também apresenta desafios para marcas e organizações que buscam engajar esses públicos.

Globalmente, um número crescente de consumidores passa a questionar o valor das promessas de progresso contínuo, demonstrando uma falta de confiança nas instituições, políticas públicas e até mesmo nas tecnologias, que antes eram encaradas como soluções para os problemas do futuro.

Este novo niilismo se traduz em um comportamento de consumo mais cauteloso, com consumidores mais seletivos e desconfiados em relação a inovações que prometem transformar o futuro.

No Brasil, essa tendência se mostra mais evidente em grupos que enfrentam desigualdade social e altos índices de violência, ampliando a busca por estabilidade em um cenário marcado por incertezas e vulnerabilidades.

Para as empresas, isso representa um desafio, mas também uma oportunidade de se conectar de forma mais significativa com os consumidores, oferecendo produtos e serviços que realmente entreguem valor, além de transmitirem segurança e transparência em suas ações.

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