Durante muito tempo, trocar de emprego com frequência era visto como um erro de carreira. Algo a se evitar. Mas hoje, principalmente para quem nasceu na Geração Z, isso pode ser um movimento natural e até estratégico.
Sim, o fenômeno do job hopping está aí. E ele está fazendo muita gente coçar a cabeça: líderes desconfiados, RHs confusos e empresas inteiras se perguntando como lidar com jovens que “não param” em lugar nenhum.
Mas e se, em vez de julgar, a gente tentasse entender? (Eu sei que é difícil, mas você vai ver que vale a reflexão).
Segundo o LinkedIn, 25% dos profissionais da Geração Z mudaram de emprego no último ano, o maior número entre todas as gerações. E tem mais: o relatório da Deloitte de 2023 revelou que quase metade (49%) desses jovens planeja trocar de trabalho nos próximos dois anos. (chegou os dois anos!)
Num primeiro olhar, parece falta de compromisso. Mas será que é só isso?
Como disse Adam Grant, psicólogo organizacional que eu admiro muito:
“O compromisso genuíno não está em permanecer no mesmo lugar, mas em buscar ambientes onde você possa contribuir com o melhor de si.”
E eu acho que essa fala resume bastante do que a Geração Z está tentando nos mostrar.
Essa geração não é só inquieta. Ela é reflexiva, crítica e está em busca de sentido. Eles não querem apenas um salário ou um cargo legal no LinkedIn. Eles querem:
- Trabalhar em lugares que respeitem sua saúde mental e tempo pessoal.
- Ter clareza de propósito (inclusive no dia a dia do trabalho).
- Sentir que estão evoluindo de verdade, com feedbacks reais e espaço para crescer.
- Pertencer a uma cultura diversa e autêntica, onde não precisam se moldar o tempo todo para serem aceitos.
Eles estão dizendo, de um jeito ou de outro: “Eu quero contribuir, mas preciso me sentir parte, preciso enxergar futuro aqui dentro.”
Eu entendo as empresas também. Não é fácil investir tempo, energia e dinheiro num colaborador que pode sair em seis meses. Não é simples criar uma cultura forte com ciclos tão curtos.
Mas talvez a resposta não esteja em tentar prender essas pessoas… e sim em tornar o tempo que elas passam com a gente mais significativo.
Herminia Ibarra, professora da London Business School, tem uma frase que eu gosto muito:
“Carreiras não são mais trilhas lineares, são mosaicos. A habilidade das empresas em lidar com essa fragmentação pode ser seu maior diferencial competitivo.”
Ou seja: o jogo mudou. E está tudo bem.
Existem três reflexões que eu levo para as empresas que acompanho:
- Redefina o que é “reter talento”
Talvez o sucesso seja formar um bom profissional em um ano, e não em segurá-lo por dez. - Crie trilhas de impacto rápido
A GenZ é veloz. Eles gostam de desafios e resultados claros. Mostre o valor do trabalho logo nas primeiras semanas. - Pense como um ecossistema formador
Toda empresa, no fundo, é uma escola (Já falo disso há bastante tempo por aqui). E quanto mais você formar pessoas, mais seu nome será lembrado, mesmo por quem for embora.
Por trás do job hopping tem uma geração inteira tentando descobrir onde pode fazer diferença. Eles não querem pular de galho em galho. Eles só não vão ficar onde não se sentem vistos, valorizados ou desafiados.
O desafio agora não é “consertar” a Geração Z, mas recalibrar os ambientes de trabalho para que talentos e empresas possam crescer juntos, com mais escuta, mais flexibilidade e mais confiança.
Como o próprio Satya Nadella, CEO da Microsoft, disse:
“Empresas que não aprendem com as novas gerações param de evoluir.”
E eu costumo dizer que:
A Geração Z não é um problema a ser resolvido. É um ativo a ser desenvolvido.

Palestrante, comunicador e entusiasta das gerações. Estuda recursos humanos e empreende nas áreas de Comunicação e Marketing. Criou a primeira agência de marketing do Brasil focada em comunicação geracional (Pós Z Company), sediada em Bragança Paulista, onde atualmente só contrata colaboradores da Geração Z e Geração Alpha. Dedica-se a construir um ecossistema de comunicação geracional para preparar jovens para o mercado de trabalho futuro e conscientizar as empresas para receberem esses jovens com sua nova agenda e visão de mundo.