*Por: Luiz Cláudio Santos

Muitos dos amigos que leem esse artigo talvez nem nascidos eram quando a maior catástrofe paulista e brasileira, produzida pela ação do fogo em edificação elevada, ficando apenas atrás das torres gêmeas em Nova Iorque, assolou a agitada metrópole de São Paulo, há exatos 50 anos, no fatídico 01 fevereiro de 1974. Eu mesmo contava com 09 anos nessa data e pouco me lembro do ocorrido, pois nem morava na capital paulista. 

O então edifício Joelma, no Vale do Anhangabaú inaugurado em 1971, contava com 25 andares, sendo dez de garagem e o prédio fica no número 225 numa das avenidas mais movimentadas da capital paulista, a Av. Nove de Julho, junto à Praça das Bandeiras. 

Por volta das 08h50, o edifício se incendiou depois de um curto-circuito no sistema de refrigeração do Banco Crefisul, que ocupava boa parte do Joelma. O incêndio começou no 12º andar, durou mais de três horas, destruiu 14 pavimentos e deixou 187 mortos e mais de 300 feridos. Apesar da estrutura do edifício ser de concreto armado, as chamas tomaram conta do edifício com rapidez. 

As salas eram repartidas por divisórias e havia carpetes, móveis de madeira, cortinas de tecido e outros materiais inflamáveis que contribuíram para o alastramento do fogo. Além disso, os botijões de gás de 13 kg nas copas das empresas, com o calor irradiado lançaram grande quantidade de gás butano que explodiam em contato com as diversas fontes de calor, lançando partes da estrutura de paredes para baixo. 

Não haviam escadas de incêndio ou heliporto na cobertura do Joelma, o que impossibilitou o pouso dos helicópteros, que se aproximavam apenas para jogar toalhas molhadas e cordas. 

Mais de sessenta pessoas que fugiram para o terraço morreram carbonizadas. Várias caíram ou se atiraram do edifício. Os corpos ao atingirem o solo se espatifavam e os membros eram simplesmente separados do tronco em alguns casos. Os que não conseguiram abandonar o prédio na laje superior tiveram parte de seus corpos fundidos com a laje absurdamente aquecida com o calor de 300º a 400 º C.

Quando a população paulistana começava a se esquecer do pavoroso incêndio do edifício Andraus, ocorrido a 24 de fevereiro de 1972, uma outra tragédia voltaria a acontecer. 

A polícia técnica e peritos haviam ido até o Joelma para fazer uma vistoria no que restou do prédio. O trabalho de rescaldo dos bombeiros continuava, assim como a busca por corpos entre os escombros. Havia filas para a identificação dos mortos do lado de fora do Instituto Médico Legal. Para facilitar a remoção e o sepultamento das vítimas, um cartório foi montado no próprio IML. 

O glorioso Corpo de Bombeiros tinha resgatado muitas vítimas com a ajuda das auto escadas e todas as plataformas disponíveis à época, conhecidas popularmente na mídia desde aquela época como escadas Magirus (nome do fabricante), bem como com a exploração corajosa dos bombeiros pelos corredores e salas do edifício ainda em chamas. Muitos corpos que haviam dado entrada no IML ainda não tinham identificação, e que mais de setenta feridos haviam sido transportados para hospitais da região. 

Logo no início, os bombeiros enfrentaram diversas dificuldades que atrapalharam os trabalhos – e, claro, o resgate das vítimas. Apesar de possuir um reservatório (caixa d’água) com capacidade para 40 mil litros, os registros estavam fechados e os hidrantes do prédio, inexplicavelmente, não funcionaram, obrigando a utilização de caminhões-pipa de órgãos públicos e particulares, além das próprias viaturas auto tanques do bombeiro. Os ventos eram desfavoráveis. As auto escadas só chegavam até o 16º andar, dificultando o resgate nos andares superiores, para onde as pessoas corriam ou se escondiam da fumaça e do fogo. Isso provocou a perda de um tempo precioso na operação e, provavelmente, custou muitas vidas.

Hoje, as duas torres que compõem o edifício tem um novo nome: Praça das Bandeiras, mas elas nunca terão um novo passado, pois sem dúvida o desastre descomunal colaborou para um novo futuro.

Bem, nesse breve histórico, permito-me finalizar o grandioso desastre em nossa história de grandes calamidades tupiniquins, para que nosso próximo artigo eu passe a relatar aos amigos leitores as consequências desse incêndio. Mas gostaria de aqui ressaltar o nome de um honrado e destemido oficial do Corpo de Bombeiros – Coronel Hélio Barbosa Caldas (1935-1999), o mais bravo de todo o contingente do Corpo de bombeiros que salvou, juntamente com os demais integrantes da instituição, diversas vidas, e que recentemente foi condecorado e homenageado post mortem na Câmara Municipal de São Paulo por sua bravura inconteste. 

Até a próxima amigos leitores. 

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