Há menos de um ano, conversava com pequeno empreendedor sobre o andamento de seus negócios, planos etc., enquanto almoçávamos (ambos atentos aos respectivos relógios). Eis que recebo a seguinte pergunta: “Você conhece alguma empresa que tenha ‘quebrado’, por falta de capital de giro?” Minha resposta afirmativa certamente não contribuiu para melhorar o apetite do meu interlocutor. No pouco tempo de que dispunha, passei a descrever, embora tardiamente, algumas armadilhas que ameaçam empresas (particularmente os pequenos empreendimentos), no que se refere à gestão do capital de giro. Infelizmente, aquela conversa ocorria com muito atraso, o que não permitia algumas ações, que, no tempo certo, teriam sido salvadoras. Não foi minha primeira experiência com a demora no tratamento de um assunto vital para qualquer empreendimento: a gestão do capital de giro (CG).

Não é sem razão que o CG, em se tratando da sustentabilidade empresarial,  é comparado ao oxigênio para a vida humana: em ambos os casos, os melhores substantivos aplicáveis são imprescindibilidade e imediatismo. O primeiro explicita  a impossibilidade de sobrevida, diante da privação por algum tempo; o segundo, deixa claro que esse tempo é muito curto, afinal poucos seres humanos sobreviveriam por mais de 5 minutos, se privados de oxigênio. Com necessárias adaptações, o mesmo pensamento se aplica às entidades empresariais. Como se vê, a questão é aguda.

Dentre os componentes do CG, está o Caixa da empresa. Sua administração e gestão eficientes e eficazes são, portanto, fatores críticos de sucesso no empenho pela longevidade e saúde corporativa. Você acabou de ler “administração e gestão ”, não foi? Terá o colunista cedido a alguma distração? Não, prezados, não. Gestão e administração não são sinônimas, considerados os respectivos alcances. Enquanto técnicas de gestão permitem melhora de resultados, ganhos de eficiência e de rentabilidade, redução de riscos etc., as boas técnicas de administração, por sua vez, permitem controles adequados, coordenação de interfaces com áreas parceiras da financeira e planejamento adequado ao perfil de cada administrador (agressivo, moderado ou conservador).

O planejamento do Caixa é iniciado por seu orçamento. Não há unanimidade para a definição de um horizonte para a elaboração do orçamento de caixa, mas o prazo de 12 meses tem muitos adeptos. Muito mais que isso, traz inconsistência ao trabalho, haja vista a relação direta entre tempo e incerteza – não há discordância quanto ao fato de que para mais distante futuro, maiores são as dificuldades para estimativas. No prazo mais curto e no dia a dia, a ferramenta passa a ser o fluxo de caixa, que será ajustado (o mais rapidamente possível), a partir da comparação de valores estimados com os valores efetivamente realizados. Dessa comparação resultará o refino das outas estimativas do fluxo de caixa, podendo justificar alterações no orçamento de caixa.

Se o CG se resumisse ao Caixa, os gestores financeiros teriam menos problemas, mas essa não é a situação real. Diversas contas a receber e a pagar, de diversas naturezas, mas em prazo mais curto, compõem o Capital de Giro, tão importante para as empresas, como vem sendo afirmado aqui.

Da mesma forma que a vida humana, que, se não for cuidada no curto prazo (diariamente!), terá reduzidas as chances de conhecer épocas futuras mais distantes, a vida corporativa, se não cuidada em seus ciclos mais curtos (o de Caixa, por exemplo), poderá não ser muito saudável, tampouco longeva. Se problemas se avizinham, o melhor a ser feito é equacioná-los e buscar alternativas de solução, enquanto é possível fazer isso, isto é, enquanto o nariz está acima da linha d’água. Parece trágico? Pode ser, mas eu prefiro denominar de realista.

Até breve!

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