Fomento de políticas públicas de distribuição de renda e de valorização do salário mínimo estão entre as recomendações de estudo

O Instituto de Referência Negra Peregum e o Afro-Cebrap, com apoio do Banco Mundial, lançam estudo que apresenta recomendações para a inserção de jovens negros no mercado de trabalho. Entre as principais soluções apresentadas por especialistas, estão: a redução de obstáculos econômicos para a conclusão escolar; subsídios de transporte como assistência à procura de emprego; investimento em programas abrangentes para trabalhadores autônomos; realização de campanha ou política de promoção da inclusão tecnológica; e ações afirmativas no setor privado. Leia o estudo completo.
 

Para Vanessa Nascimento, presidente do Instituto de Referência Negra Peregum, é preciso realizar iniciativas para jovens nem sempre contemplados por ações que visam a inserção no mercado de trabalho. “Algumas ações tendem a ser implementadas por grandes empresas ou em grandes centros urbanos e que não atingem jovens sem ensino superior, sem segunda língua ou, ainda, com restrições de acesso à internet”, afirma ela.

Entre as principais recomendações do estudo, está a realização de campanhas ou políticas de promoção da inclusão tecnológica. Tanto o acesso a computadores como o fornecimento de internet de qualidade gratuita, ou a preços acessíveis, poderão impactar na escolarização e no mercado de trabalho nos próximos anos. Já no setor privado, programas de trainee específicos para negros, ainda que de suma importância, não conseguem atingir jovens como os que participaram dessa pesquisa qualitativa. Portanto, é necessária uma maior permeabilidade territorial e iniciativas de maior escala. Nesse sentido, programas de subsídios salariais podem ser boas alternativas.

O estudo ainda traz como a redução de obstáculos econômicos para a conclusão escolar é importante para que crianças e jovens — negras e negros e com deficiência de origem desfavorecida — prosperem academicamente. Trata-se de mecanismos de transferências de renda a subsídios e outras formas de apoio.

O estudo discute as taxas educacionais, os números de empregabilidade e os tipos de vínculo empregatício desagregados por raça, gênero e deficiência, bem como os desafios e as oportunidades para a inclusão a partir da percepção dos jovens negros. “Vale destacar que o termo ‘nem-nem’, usado para falar de jovens que não estudam e não trabalham, não é corroborado por essa pesquisa. São inúmeras desigualdades que impactam a juventude negra e dizer que eles não ocupam esses espaços por falta de interesse não condiz com a realidade”, reforça Vanessa.

A pandemia foi o motivo mais citado pelos jovens entrevistados que não estavam estudando. No período, a evasão não se deu apenas para estudantes de ensino médio, mas também entre quem já estava cursando o ensino superior. Dos entrevistados, 37% evadiram: 18,5% o fizeram na transição entre o ensino médio e o ensino superior, 7,4% durante o ensino superior e 4,9% e 6,2% durante os ensinos médio e fundamental, respectivamente.

Entre os entrevistados diretamente pela presente pesquisa, 60% afirmaram ter wi-fi em casa. Ainda assim, foram relatadas dificuldades frequentes para seguir as aulas à distância. Os problemas listados consistiam na ausência de internet no domicílio, na baixa velocidade da conexão e na ausência de estrutura — como equipamentos e ambiente adequado para o estudo.

Metodologia

A pesquisa teve por objetivo analisar, entre março e junho de 2021, a inserção de negros no mercado de trabalho, com especial atenção aos entrecruzamentos de raça com gênero e portadores de deficiência. Além disso, foi realizada para uma maior compreensão e para a redução de desigualdades.

A equipe de pesquisadores elaborou um desenho pioneiro de pesquisa qualitativa com metodologia participativa. Foram selecionados jovens pesquisadores negros e negras para realizarem entrevistas com outros jovens sobre o assunto em diferentes comunidades no território brasileiro, em cinco regiões do país. A estratégia partiu da premissa de que os jovens não são objetos da pesquisa, mas agentes na produção do conhecimento, na elaboração de análises e nas recomendações de políticas. Ao todo, foram 81 entrevistas em Belém, Recife, Brasília, Belo Horizonte e Porto Alegre.
 

O trabalho também analisou dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) de 2019, do Censo de 2010 e da Pnad-Covid, de novembro de 2020. Dezenas de investigações serviram de insumo e instrumento para aprofundar as reflexões a respeito dos fenômenos analisados. São trabalhos realizados por pesquisadoras e pesquisadores dedicados aos temas filiados a centros de referência em pesquisa.
 

Sobre o Instituto de Referência Negra Peregum

Criado por militantes da luta por educação, o Instituto compõe o Movimento Negro Brasileiro. É uma organização sem fins lucrativos, com natureza de direito privado e tem a missão de fortalecer a população negra e periférica, trazendo para a centralidade do debate e das práticas sociais demandas específicas e urgentes de maneira a transformar as políticas públicas e as pessoas no sentido de uma sociedade antirracista. A organização atua em parceria com iniciativas, projetos, organizações e coletivos que auxiliem pessoas negras, moradoras e moradores de territórios periféricos, com foco em quatro eixos programáticos: Educação Popular, Proteção e Cuidado, Incidência Política e Clima e Cidade.

Sobre o AFRO

O AFRO é um núcleo de pesquisa, formação e difusão sobre a temática racial vinculado ao Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). Tem como prioridade a produção de pesquisa em diálogo com a sociedade civil, formadores de opinião e público interessado no debate sobre a temática racial e seus desdobramentos.

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