Não… já começo logo dizendo que a Comunicação (enquanto uma área ou atividade) não constrói reputações. Se alguma agência de Comunicação tentar te vender um serviço de “construção de reputação positiva” responda “não, obrigada”. E economize um bom dinheiro.
Reputação é o resultado da observação sobre algo ou alguém, durante algum tempo. É a percepção do observador sobre como aquele alguém – ou, no caso do que tratamos aqui nesta coluna – como alguma empresa se comporta, como age, como se manifesta. É mais sobre o que ela é do que sobre o que ela diz ser. Isso se considerarmos que comunicação é apenas o que se diz, expressa, publica, claro. Porque o que a empresa faz, as políticas que ela adota internamente com seus funcionários, como os trata – isso comunica muita coisa. Por outro lado, tem muita campanha por aí ‘vendendo’ um comportamento que qualquer observador mais atento identifica imediatamente que não corresponde ao que ela é de fato. E aí, sabe qual será o resultado de uma comunicação maquiada? O reforço de uma reputação ainda mais negativa, porque além de não ser, ainda mente que é. Ruim? Pode piorar.
Pense comigo: você acredita mais num anúncio de uma empresa que diz manter uma relação “humanizada e ética” com seus funcionários ou no depoimento de um amigo seu que trabalhava nessa empresa e foi desligado abruptamente no meio de uma reunião fria, online, convocada de última hora, com mais 12 colegas, onde o responsável do RH simplesmente convoca essas pessoas no meio do expediente e sem qualquer preparação e anuncia “todos os que estão nessa reunião estão desligados da empresa a partir desse momento e receberão mais instruções por email” – e imediatamente retira todos os acessos desses funcionários? Pois é… Não citarei nomes, mas isso aconteceu essa semana com alguém que eu conheço e dentro de uma grande empresa – umas das maiores marcas da America Latina, que passou os últimos seis meses reforçando todos os dias da semana e repetindo para o time que não faria lay off de jeito nenhum… mas fez. Assim. Por meio de várias reuniões simultâneas e orquestradas, em que times inteiros estavam sendo desligados sem que ao menos o líder da equipe tivesse sido informado previamente. Choque. No grupo de desligados, gestantes, pessoas em pleno gozo de férias e até quem tivesse sofrido um luto há dois dias. “Humanizada?”. O discurso em todas as campanhas conhecidas pela mídia diz que sim. A atitude desmente. A ‘Comunicação’ comunicou uma coisa – o comportamento comunicou outra.
Vamos acompanhar o desenrolar dessa novela e ir comentando aqui. Em cena, dezenas (centenas?) de ex-funcionários em choque, se organizando em grupos na internet para tentar entender e para analisar (e comentar e propagar) esse comportamento da empresa. Muitos já se organizando e iniciando ações na justiça também. Quanto tempo a marca resistirá sem arranhões? Façam suas apostas.
Profissional de Relações Públicas pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação organizacional pela ECA-USP, é também jornalista, empresária, palestrante e consultora de empresas com mais de 20 anos de experiência em comunicação interna e relacionamento com a imprensa. Professora universitária por 16 anos nos cursos de Comunicação, Marketing, Administração e Recursos Humanos nas instituições UniFaat, Fecap, Uniso e PUCCampinas.