Olá, leitor(a), espero que todos estejam bem.

Vamos falar um pouco sobre as características dos investimentos em renda fixa e variável? Na esteira desse assunto, vou apresentar alguns dados “curiosos” derivados de pesquisas que trataram de apostas online no Brasil e nos EUA. Adianto que essas refletem o nível de educação financeira dos investidores.

Conforme o IBGE, no segundo trimestre de 2024 o nível de poupança em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) foi de 16%. Tal taxa está abaixo da média da América Latina e do Caribe, que em 2022 foi de 20%. Já nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e no mundo essas foram de 23% e 26% do PIB. Baixos níveis de formação de poupança reduzirem a taxa de crescimento, pois é por meio dessa que ocorre a ampliação nas taxas de investimento do setor produtivo e do emprego.

Os agentes econômicos que possuem capacidade poupar têm como opção aplicar esses recursos em títulos emitidos pelas empresas, bancos ou governo. Enquanto as empresas emitem títulos para captar recursos para financiamento de suas necessidades de curto e longo prazo, os bancos normalmente o fazem para ampliar reservas de fundos destinados à concessão de crédito aos seus clientes na forma de empréstimos ou financiamentos.

Já o governo, lança títulos por duas razões: financiamento ou rolagem da dívida pública ou controle do nível da atividade econômica e inflação. Nesse caso, foi o que fez o Conselho de Política Econômica (Copom) no mês passado, quando aumentou a taxa Selic de 10,50% para 10,75%, dada a expectativa de aumento da taxa de inflação brasileira, medida pelo IPCA, e instabilidades no cenário externo, sobretudo devido as incertezas quanto ao nível de atividade econômica e possibilidade de aumento na taxa de juros básica nos EUA (hoje entre 4,75% e 5%).

Há duas opções de aplicação no mercado financeiro: renda fixa e renda variável. Os títulos de renda fixa possuem as seguintes características: o investidor sabe, no momento da aplicação, o prazo e a taxa de remuneração, ou seja, quanto o emissor pagará de juros ou o índice que servirá de referência para formá-lo. Considerando a taxa de juros, os títulos de renda fixa podem ser prefixados ou pós-fixados. No primeiro caso, a taxa contratada é fixa, por exemplo 12% a.a.; já no segundo, o investidor conhecerá de antemão qual índice de referência que será empregado no processo de formação dos juros. Nesse caso, a remuneração pode estar atrelada à taxa DI, taxa de inflação, taxa básica de juros da economia (Selic), dentre outras.

Cabe salientar que o nível da Selic meta influencia o custo de todas as operações financeiras, incluindo as taxas aplicadas nas operações de crédito bancário e a remuneração dos diferentes títulos de renda fixa ofertados no mercado financeiro. Por exemplo, atualmente as aplicações na caderneta de poupança rendem 70% da Selic e as Letras Financeiras do Tesouro (LFT), emitidas pelo governo por meio do Tesouro Direto, são remuneradas pela taxa Selic.

Outro exemplo de títulos de renda fixa pós-fixados são os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). Esses figuram entre os mais conhecidos títulos de renda fixa emitidos pelos bancos e costumam oferecer um percentual da taxa DI como remuneração. Por exemplo, há títulos que chegam a pagar até 130% da taxa do CDI. É importante destacar que a taxa do CDI (Certificado de Depósito Interfinanceiro) é outra referência importante e constitui a média das taxas de juros aplicadas nas operações de empréstimo de curtíssimo prazo realizadas entre os bancos. Tais operações acorrem para cumprimento de norma fixada pelo Banco Central (Bacen) que obriga que todos os bancos fechem, ao final do dia, com saldo de caixa positivo. O objetivo da norma é evitar que o sistema financeiro corra riscos de quebra provocado pelo crescimento de dívidas assumidas prelos bancos. Finalmente, o nível da taxa DI e da Selic são muito próximos, sendo normalmente iguais.

As principais características dos investimentos em renda fixa são: menor risco, rentabilidade previsível, liquidez (a maior parte dos títulos de renda fixa pode ser vendido a qualquer momento), é uma aplicação protegida pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) em até R$ 250 mil, no caso de quebra do emissor, e possuem tributação regressiva (o Imposto de Renda é calculado sobre o lucro tem sua alíquota reduzida quanto maior o período que o investidor mantiver os recursos aplicados).

Diferentemente de títulos de renda fixa, as ações são títulos de renda variável e não garantem remuneração predeterminada aos investidores. Como parcela do capital de uma empresa, as ações têm sua remuneração condicionada pela capacidade da empresa emissora gerar lucros por meio do uso de seus ativos (máquinas, equipamentos, instalações, entre outros) e distribuí-los como dividendos. Dessa forma, quem investe em ações se torna sócio da empresa e, como tal, corre o risco de sucesso ou fracasso das estratégias de investimento, financiamento e operacionais adotadas pelas empresas de capital aberto (empresas autorizadas a captar recursos por meio da emissão de títulos negociados na Bolsa de Valores – B3).

Nessa modalidade de investimento, os investidores também podem obter ganhos de capital, sendo esse formado pela variação no preço das ações. Por exemplo, o investidor pode comprar uma ação por R$50 e, após alguns dias, essa pode ser cotada em R$70. Nesse caso, o ganho será de R$20 por ação ou de 40% em relação ao valor de aquisição. No entanto, o preço da ação pode variar para baixo, ocasionando perdas aos investidores.

Em contraste com os títulos de renda fixa, os títulos de renda variável, sobretudo as ações, possuem como principais características: maior nível de risco, pois não garantem ganho fixo ou a devolução do valor investido; imprevisibilidade (o preço das ações pode variar para mais ou para menos), os investidores não têm como saber quanto obterão de rendimento; as ações não possuem prazo de vencimento, permitindo aos investidores manterem a titularidade ou posse da ação pelo período que desejarem.

Outra característica importante é que as variações no preço das ações ocorrem devido as expectativas dos investidores. Isso acontece porque parcela dos investidores “apostam” no bom desempenho das empresas e na valorização no preço das ações negociadas. Em contraste, outra parcela forma expectativas contrárias. É por meio dessas duas forças que o preço de cotação das ações é formado. Finalmente, embora a maior parte das ações negociadas possuam elevada liquidez, quem investe nessas pode precisar vendê-las em momentos em que o preço dessas estiver em declínio ou pior, quando esse estiver abaixo do preço de aquisição, causando perdas significativas.

Agora vamos tratar dos jogos online. As apostas online se tornaram populares no Brasil e, de acordo com levantamento realizado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em 2023: 14% dos brasileiros fizeram ao menos uma aposta online; 40% dos entrevistados encaravam que as apostas podem garantir ganhos de recursos em casos de necessidade; 22% acreditavam que as apostas online são um “tipo de investimento”. Ainda segundo a pesquisa, tal percentual é cerca de oito vezes superior ao de indivíduos que aplicaram na Bolsa de Valores durante o mesmo período. Essas estatísticas mostram a precariedade da educação financeira dos brasileiros, mas isso não é “privilégio” apenas nosso.

Segundo o portal Infomoney, uma pesquisa sobre o assunto realizada pelo JPMorgan indicou que nos EUA a “legalização das apostas esportivas reduziu significativamente a participação no mercado de ações, especialmente para famílias com mais restrições financeiras”. O estudo evidenciou ainda que, desde a legalização das apostas esportivas nos EUA em 2018, houve redução nas atividades das corretoras, aumento nas dívidas causadas pelo uso de cartões de crédito e maior uso de saques a descoberto (operação semelhante ao uso do limite de créditos em conta corrente), especialmente entre a população de baixa renda.

A dura realidade é a seguinte:

  • A taxa de formação de poupança no Brasil é baixa, o mercado de capitais é ainda incipiente e é necessário melhorar o nível de educação financeira dos brasileiros.
  • A renda fixa, prefixada ou pós-fixada, apresenta baixas taxas de retorno e menor nível de riscos, tanto no curto quanto no longo prazo.
  • As ações são boas opções de investimento pois, embora apresentem maior nível de riscos no curto prazo, no longo prazo tendem a gerar taxas de remuneração mais elevadas que os investimentos em renda fixa.
  • Já as bets podem até gerar “retornos” no curto para alguns “apostadores afortunados”, mas não são forma de investimento e, no longo prazo, sempre os “investidores” acabarão perdendo; afinal, quando se trata de jogos de azar, a banca é que sempre ganha.

Ao investir, além de considerar seu perfil de investidor, é necessário considerar a relação risco-retorno de cada alternativa de investimento, a capacidade em manter os recursos aplicados e nada de considerar bets como alternativa de investimento.

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