Desde a nossa última conversa, reafirmada foi a ideia de que não existem monotonias política e econômica, em nosso amado país. Cenário político ainda agitado, por conta do 8 de janeiro, como deverá permanecer por um bom tempo, haja vista as necessárias investigações e outras providências. Cenário econômico, que merece nosso foco, está emocionante, para dizer o mínimo.
O “teto de gastos” permanece sob críticas do governo federal, que promete propor novas regras fiscais ainda neste semestre. Que “regras”? A expectativa dos agentes é enorme, quanto às novidades nesse campo. Nosso governo também declara que reforma tributária tem total prioridade, por ser “essencial para retomada do crescimento”, com o que concordo totalmente, mas a dúvida é: ela virá? Certamente, desejo que sim, mas meu desejo, nesse caso e em muitos outros, não é uma ordem. Posição antiprivatizante do governo, não dá qualquer sinal de arrefecimento, o que não causa surpresa, diante da base filosófica do nosso governo. O que mais estaria emprestando cor aos tempos atuais, no Brasil, no que se refere à economia? Os insistentes comentários de nosso presidente acerca da condução da política econômica – insistentes e, penso, pouco adequados.
Nosso presidente não ajuda a economia brasileira, quando critica clara e insistentemente a atuação de nosso Banco Central, cuja autonomia representou enorme conquista em direção ao desenvolvimento. Os comentários presidenciais, como têm sido feitos, só trazem mais incertezas para um cenário já com muitas delas. Essas incertezas a mais impõem, isso sim, maior dificuldade ao Banco Central em reconduzir a inflação para a meta e, consequentemente, promover a redução da taxa de juros básicos brasileira. Na última quarta-feira, o Copom fincou bandeira no solo de sua autonomia e deixou claro, para quem for capaz de interpretá-lo corretamente, que eventos que provoquem mais incertezas, contribuirão para a manutenção do nível atual de juros básicos (13,75% a.a.) e, ainda pior, poderão inspirar a autoridade monetária a elevá-los. Sempre é possível piorar.
Sobre isso e a caminho da conclusão, destaco trecho do comunicado em que o Copom anunciou sua mais recente decisão, com grifos meus.
“O Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período mais prolongado do que no cenário de referência será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflaçãocomo também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que têm mostrado deterioração em prazos mais longos desde a última reunião. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.”
Embora o título do texto de hoje possa ter sugerido interfaces com agropecuária e meteorologia, a referência pretendida foi à posição do Banco Central de deixar claro aos críticos de sua condução da política monetária, que os juros básicos não podem ser reduzidos e, se com perspectivas de piora da inflação, poderão ser elevados. A mensagem, “podem tirar o cavalo da chuva”, tão conhecida por nós, foi enviada ao governo e a seus concordantes na crítica que comentei com vocês.
Até breve!
Economista e Mestre em Administração, desenvolveu carreira em instituições financeiras de grande porte. Paralelamente e por escolha, tem trabalhado em educação corporativa e acadêmica, neste último caso, exercendo docência e gestão de cursos. É autor e revisor de material didático para diversos cursos de graduação e pós-graduação, além de autor de livros não didáticos. No meio corporativo, dedica-se à consultoria e assessoria, na gestão financeira e na análise de conjuntura econômica.