CEO da Alibra Ingredientes critica a dependência de exportação de commodities no Brasil, defendendo investimentos em tecnologia para agregar valor ao mercado interno de alimentos

A indústria alimentícia no Brasil enfrenta um debate sobre a prática chamada de “turismo de ingredientes” — o processo de exportar matérias-primas para importá-las novamente na forma de insumos para alimentos processados. Embora as exportações de commodities agrícolas tenham batido recordes em 2023, com volumes como 102 milhões de toneladas de soja, 31 milhões de toneladas de açúcar e 55 milhões de toneladas de milho, o país ainda depende da reimportação desses produtos processados, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

De acordo com Luiz Gonzatti, CEO da Alibra Ingredientes, essa prática representa uma oportunidade perdida para o país. “Somos um dos maiores produtores agrícolas do mundo, com uma agropecuária sólida e a maior biodiversidade do planeta, então por que não nos concentramos em suprir as nossas necessidades internas?”, questiona Gonzatti. “Poderíamos agregar mais valor às nossas commodities ao desenvolver novas tecnologias e produzir ingredientes alimentícios exclusivos”, completa.

Além disso, Gonzatti destaca que o desenvolvimento de soluções inovadoras internamente é essencial diante de fatores globais como dificuldades logísticas após a pandemia e conflitos geopolíticos, que aumentam a instabilidade e afetam o comércio exterior. “Esses desafios criam uma necessidade urgente de fortalecer nossa produção interna e reduzir a dependência de importações”, afirma.

Iniciativas e P&DI no Brasil

Para minimizar o impacto do “turismo de ingredientes”, algumas indústrias alimentícias têm investido em parcerias com o setor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P&DI). A Alibra, por exemplo, busca desenvolver insumos diferenciados com base em matérias-primas locais, utilizando tecnologias que valorizam a cadeia láctea ao transformar componentes como proteínas e lactose em ingredientes de alto valor para o mercado de alimentos. “Parte desse processo técnico, de transformar componentes do leite em ingredientes inovadores, é feito por nós. Isso nos orgulha, pois agregamos valor à cadeia e aos produtos desenvolvidos com ingredientes lácteos. É uma forma de descomoditizar o setor”, ressalta Gonzatti.

Agenda ESG e impacto socioeconômico

Segundo Gonzatti, esse tipo de inovação permite que as empresas atendam a demandas globais, como as da agenda ESG (Ambiental, Social e Governança), e estimulem o desenvolvimento local. “Hoje, o cuidado com o meio ambiente anda lado a lado com a geração de renda eficiente, o que requer que oportunidades sejam criadas para as comunidades locais. Elas são o motor para acelerar o desenvolvimento do Brasil no cenário competitivo atual, tornando nossa produção primária ainda mais relevante”, finaliza o executivo.

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