Na data em que este texto é publicado faltam 23 dias para o 2º. Turno das eleições para Presidente da República – 23 intermináveis dias, diga-se. Desinformação prolifera nas redes sociais, tornando-as parcialmente tóxicas, nada atrativas. Vídeos grosseiramente adulterados, fotos montadas não menos grosseiramente e de nível muitas vezes subterrâneo. Discussão política em redes sociais é desestimulada pelo risco alto e real dos bem-intencionados debatedores serem ofendidos, ameaçados ou desrespeitados de outras formas menos violentas. Delitos de “violência política” são mostrados na imprensa, horrorizando as pessoas de bem e os debatedores racionais, ordeiros, éticos. Em que tudo isso ajuda a economia brasileira e, finalmente, o Brasil? Tenho certeza de que nenhum dos prezados leitores teve dúvidas para responder. Em nada! Ao contrário, o dano para o Brasil é enorme e já no curto prazo. Dano irrecuperável? Não acredito nisso. Entendo que o dano pode ser grave, mas passível de recuperação, mas não com a mesma velocidade.

Ontem, tive o prazer de conversar com um amigo, residente no exterior há quase 20 anos. Ponderado, respeitado por seus amigos (eu, honrosamente, entre eles), ele tinha a voz triste, sob meu ponto de vista. Triste pelo que tem visto e ouvido (de estrangeiros) acerca de nosso país, lá onde reside. Triste, também, porque um compatriota nosso, também residente no país que acolheu meu amigo, deixou de conversar com ele, por conta de divergências político-partidárias. Triste por algumas notícias que recebe daqui, diariamente. Estará meu amigo “vendo coisas”? Definitivamente, não! Brilhante em sua profissão, ele é consultado pela competência para “esclarecer coisas”, em temas de altas complexidade e consequências, não para “ver coisas”. Este testemunho que ofereço, totalmente confiante em minha fonte, é uma pequena, porém significativa amostra do que um debate político “pesado” pode implicar para nosso país, em que aqui penso, sob o ângulo da Economia.

Não devo opinar sobre estratégia política, por dois motivos: (1) falta-me o conhecimento para isso; (2) se o tivesse, não seria este o espaço adequado. “Opinar” não devo, mas “demonstrar algum estranhamento” posso. Não seria melhor que os eleitores brasileiros soubessem quem será o encarregado de compor a equipe econômica, no caso de vitória oposicionista? Havendo vitória situacionista, a permanência do atual Ministro da Economia é considerada uma quase certeza (o “quase” se justifica, por estarmos tratando de evento futuro, portanto não passível de absoluta certeza ). Essa é uma questão-exemplo, de minha parte. Tenho outras dúvidas, direcionadas às duas candidaturas. Minha expectativa é a de que, em dias próximos e anteriores ao 30 de outubro, alguns esclarecimentos sobre intenções de reformas estruturantes, sobre gestão fiscal e sobre outras questões tão relevantes quanto essas, possam favorecer aos eleitores decidirem e aos planejadores internos e externos melhorarem a nitidez de seus cenários para o curto prazo brasileiro.   

Como já apresentado por esta coluna e por muitos analistas, estamos sob ameaça de recessão global, o que já é uma externalidade suficientemente preocupante e inspiradora de cuidados muito especiais de nossos estrategistas. Tudo que não precisávamos, nesses tempos, era um debate político de má qualidade como se tem visto. Uso “má qualidade”, para me referir às consequências sobre, por exemplo, nossa Economia, sobre o que posso tratar um pouco, sem prejudicar os leitores.

Diante do que apresentei, conservador que sou, tenho sugerido cautela e decisões limitadas às que sejam inadiáveis ou de baixo risco associado. Aí está um fator muito influente no risco empresarial: a impossibilidade de planejar por mais tempo, com mais informações, com menor peso das famosas “expectativas”. Para os meus colegas que têm perfil agressivo, essa inquietação é bem menor, porque, por definição, preferem o ambiente de risco.

Até breve!

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