Pesquisa também mostra que empresas não estão compreendendo o tamanho desse público entre os seus colaboradores e isso pode gerar dificuldade no desenvolvimento de ações efetivas

Uma nova pesquisa do Boston Consulting Group (BCG) mostra que empregadores em todo o mundo subestimam o número de pessoas com alguma deficiência ou condição especial de saúde entre seus funcionários: enquanto a estimativa das corporações é que entre 4% a 7% dos profissionais contratados tenham alguma das condições mencionadas, entre os 28 mil colaboradores respondentes foi verificado que o número chega a 25%. No Brasil a situação não é muito diferente: 19% dos participantes do estudo se identificam como deficientes ou com alguma condição de saúde que precisa de atenção ou suporte.

Segundo o material do BCG, essa disparidade entre o valor estimado pelas empresas e a realidade pode ser explicada devido ao preconceito. 53% dos brasileiros entrevistados disseram não revelar sua condição ao empregador por receio de sofrer algum tipo de discriminação. A razão desse silêncio fica clara ao verificarmos que, entre os que revelam suas condições, 35% afirmam terem sido discriminados no trabalho. Apesar desse panorama, a pesquisa do BCG mostra que quando os funcionários encontram ambientes inclusivos e falam sobre suas deficiências ou doenças a sensação de inclusão é maior, além de ser mais provável que esses profissionais sejam autênticos no trabalho.

“Se os empregadores não sabem das condições e das necessidades específicas de seus colaboradores é mais difícil desenvolver ações que podem trazer benefícios significativos para esses profissionais”, diz Juliana Abreu, diretora executiva e sócia do BCG. “Mesmo no Brasil onde existe a Lei de Cotas há mais de 30 anos, é importante lembrar que há deficiências que não são contempladas pela legislação e, a não ser que as pessoas comuniquem essas condições, não há como os empregadores saberem. Para reverter esse quadro, é preciso ganhar a confiança dessas pessoas e mostrar que a empresa tem realmente um ambiente inclusivo“, completa.

As conclusões do novo relatório são baseadas em pesquisas que tiveram como fonte a literatura produzida sobre o tema, entrevistas com funcionários com deficiência e especialistas em inclusão, além de análises usando o Índice BLISS (sigla em inglês de livre de preconceitos, liderança, inclusão, segurança e apoio) do BCG – que conta com uma metodologia para a avaliação do sentimento de inclusão entre profissionais e fornece um modelo quantitativo para entender a experiência de trabalho em um ambiente profissional. As pontuações variam de 1 a 100 e consideram uma modelagem estatística rigorosa. Nesse estudo, foi encontrado que, em média, os valores do índice para pessoas com deficiência são 3 pontos mais baixos em relação a pessoas sem deficiências ou condições crônicas de saúde, e isso se reflete nos resultados dos 16 países pesquisados pelo BCG.

Com a clara necessidade de uma cultura mais inclusiva em locais de corporativos, o BCG reforça que as organizações podem promover e alavancar os sentimentos de inclusão dessas pessoas executando algumas iniciativas:

– Políticas e programas focados nas pessoas

  • As organizações que investem em políticas com foco em pessoas contam com médias do Índice BLISS entre profissionais com alguma deficiência ou condição especial de saúde que chegam a ser 23 pontos mais altas quando comparadas com outras sem esse tipo de cuidado. Nessas empresas mais acolhedoras, a diferença com os demais profissionais é de apenas 1 ponto.
  • Entre aqueles que trabalham para organizações que não investem em práticas centradas no funcionário, as pontuações do Índice BLISS para pessoas com deficiência foram 4,5 pontos mais baixas.

– Mentoria para PCDs

  • Ter um mentor melhora a sensação de inclusão desses profissionais. A pontuação média do Índice BLISS para PCDs com um mentor é quase 8 pontos maior do que para funcionários com condições especiais de saúde e com deficiência que não têm esse apoio.
  • Um programa de mentoria melhora a felicidade no trabalho: 77% dos PCDs com mentor dizem que são felizes, contra 57% dos PCDs sem mentoria.

– Adaptações nas empresas

  • Quando as pessoas com deficiência ou condição especial de saúde solicitam adaptações, como um equipamento ou software específicos, acordos de trabalho flexíveis ou ajustes em seu ambiente físico e essas solicitações são aprovadas, os resultados do Índice BLISS melhoram significativamente: 17 pontos em relação às pontuações cujos pedidos foram negados.
  • Nos casos em que os pedidos de adaptações são negados, o impacto é profundamente negativo. As pontuações do Índice BLISS despencam, caindo 15 pontos abaixo das pontuações entre esses colaboradores que não solicitam adaptações e 18 pontos abaixo das dos funcionários sem alguma condição.

As empresas precisam mudar seu olhar sobre as deficiências e condições crônicas de saúde. Reconhecê-las como uma parte da identidade dos colaboradores é essencial para garantir políticas e processos internos mais inclusivos, o que garantirá um ambiente seguro para que cada um possa ser autêntico. Os benefícios surgirão para ambos os lados“, finaliza Juliana.

O estudo completo está disponível, em inglês, no site do BCG.

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