Reflexões sobre um texto de Humberto Rohden

Qual o mais profundo desejo do ser humano? “O sexo”, diria Freud, “a transcendência”, diria Jung, “o poder” profetizaria Nietzsche, “fama e dinheiro”, diria qualquer influencer de plantão.

O que representa o supremo e mais veemente desejo dos seres humanos é o anseio de ultrapassar a si mesmo; compreender o grau de evolução onde estamos agora e projetar um plano possível, porém ainda distante. Esta busca evolutiva é um processo individual, nossa “jornada”. Vivemos na percepção da incompletude, e sentimos muitas vezes ter potencial muito maior do que utilizamos atualmente – nesta direção, invariavelmente encontraremos nosso destino (quem sabe até a felicidade), e a caminhada trará sentido à nossa vida!

Nem todos compreendem este caminho da autorrealização – buscamos recompensas mais imediatas, de sobrevivência, segurança, identidade e reconhecimento – e nem todas trazem a dita felicidade! E como conciliamos a compreensão da autorrealização como um “chamado interno”,  neste momento de transição civilizatória que vivemos, onde nossos desejos de poder, fama e riqueza nos confundem?

José Mujica, ex-presidente uruguaio, em recente entrevista à BBC, fala no altar de seus 90 anos: “ou vivemos por uma causa, ou passaremos a vida pagando contas…” ou resumindo: à serviço do que estamos? Se não compreendemos nossa missão/jornada pessoal, vamos passar a vida à serviços das causas alheias!

Para quem deseja o PODER, faz da sua caminhada uma “arrancada para cima”, na política, nas corporações, nas instituições religiosas – os mortos do caminho são “danos colaterais”, e a vida passa a ser a manutenção do poder, disseminando o medo, a carência, a desinformação, aos que precisam de segurança e identidade.

Quem apenas deseja FAMA E DINHEIRO, e não compreendeu que ambas as coisas não são objetivo, mas resultado de centenas de escolhas que fazemos na vida – estes estão fadados a adorar seus bezerros de ouro, sejam líderes religiosos, ídolos do esporte, políticos e qualquer forma de estelionatário(a), real ou digital, acreditando ser isso, e só isso, sua caminhada na terra!   

Flor de Maslow” – conceito revisitado pelo autor

Quem ousa pelo caminho da autorrealização, procura compreender a si e aos outros – busca feedbacks, se permite a curiosidade, estuda e aprende a lidar com sentimentos e angustias existenciais próprias e alheias. Poderão até galgar espaços de poder, ganhar fama e riquezas, porém terão consciência que estas coisas apenas fazem parte da nossa vida, mas não definem o que somos!

Estes seres “despertos” compreendem os movimentos e angústias de nossa sociedade, e não raro se tornam líderes legítimos e agentes de difusão de ideias, conhecimento, movimentos que possam impactar positivamente a raça humana. Estes legados externos serão sempre reflexos de sua missão pessoal: o desejo de fazer nascer o que está latente dentro de si transborda, e se materializa em realizações e legados externos.

Vamos encontrar estas pessoas em nossas vidas, muitas no papel de educadores, escritores, artistas, poetas, monges… são tradutores do seu tempo e espaço! Nem sempre terão consciência de seu potencial de influência externa, pois seu foco é na jornada pessoal, contudo, como pessoas esclarecidas, sempre estão disponíveis para encontrar seus “iguais” – gente que tem o sincero desejo de transcender a compreensão rasa da vida e do mundo e…”realizar-se a si mesmo(a)”!

Ao olhar que vê e entende, cabe a escolha sábia das palavras ou do silêncio, uma vigilância necessária, pois a verdade, a ética e a justiça, são valores que só cabem nos ouvidos de quem deseja entender. Só quem segue o caminho da autorrealização consegue driblar as tentações do ego e aos poucos levanta o véu de compreensão de sua missão espiritual neste mundo terreno!

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