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O polêmico projeto de construção de um mirante na Pedra Grande, em Atibaia, movimentou a comunidade local, artistas, ambientalistas, políticos e muitos cidadãos conscientes. Seria muito fácil fazer o coro “Na Pedra Não”, mas vamos aproveitar este artigo para fazer perguntas que raramente são feitas e melhorar a qualidade da discussão.
20 milhões?
Por que um investidor em sã consciência fará um aporte de 20 milhões (valor que vem sendo divulgado pela mídia) num atrativo turístico que gera polêmica, em área de conservação institucionalizada pelo Estado, mas constituída de propriedades privadas, e que não possui modelo de governança implantado? Como consultor e empreendedor, não vejo a mínima possibilidade de retorno financeiro deste delírio vítreo – não tanto pela falta de estrutura receptiva sustentável (que até pode ser montada), mas pela pouca atratividade da Pedra Grande para atrair centenas de milhares de visitantes, comparada a outros atrativos no entorno de São Paulo e Campinas – os grandes centros emissores. A não ser que alguém sonhe no meio da jornada em um mágico aporte de recursos públicos, do ponto de vista de investimento, a meu ver o projeto não tem pé nem cabeça!
Militância?
Tenho a convicção de que muitos engajados na causa de impedir a construção da ponte de vidro na Pedra Grande jamais subiram na Pedra, não sabem o que é uma unidade de conservação, não participaram de discussões e audiências do Plano de Manejo, Plano Diretor de Atibaia (e acho que nem sabem o que é isso), o que não minimiza a indignação e potencial oportunidade para conhecer e compreender a complexa relação de conflitos em torno do nosso monumento natural. Eu costumo dizer que a indignação é a porta de entrada para o mundo real, mas a maioria dos indignados fica do lado de fora do problema, sem querer de fato engajar e contribuir para as soluções. É uma frágil zona de conforto, que oportunistas utilizam como plataforma de visibilidade para seus interesses particulares, em nome de uma “causa” coletiva, à qual de fato não irão se dedicar quando passar a onda. Sabemos isso por militar de verdade nas causas sociais e ambientais, onde questões como violência contra a mulher, racismo, direitos LGBTQIA+, desmatamento e fome, raramente contam com o clamor das arapongas e maritacas de plantão.
Balão de ensaio?
Se não for de fato economicamente viável o empreendimento, e já gerou tanto ruído e indignação, por que foi divulgado? Certamente não há licença ambiental, desconheço que tenha havido discussão pública sobre o empreendimento, mas também não vi posicionamentos efetivos da prefeitura ou da Fundação Florestal. A quem interessa esta narrativa de apresentar um empreendimento polêmico “caído do céu” e pendurado no espaço? Será que estamos diante de um consciente balão de ensaio, para testar o humor da sociedade em torno do projeto? Ou é um delírio de empreendedores para testar o humor dos potenciais investidores (se for, não deu certo…)? Ou uma fumaça para distrair a nossa atenção de alguma outra intervenção?
Terra de ninguém?
Importante pontuar que a Pedra Grande tem formulado seu Plano de Manejo e Plano de Uso Público – ações e intervenções permitidas e pactuadas em audiências públicas que asseguram visitação sustentável – visualizar em: https://www.infraestruturameioambiente.sp.gov.br/fundacaoflorestal/planos-de-manejo/planos-de-manejo-planos-concluidos/mona-pedra-grande/.
Para realizar a gestão da unidade de conservação estimo ser necessário investimento próximo a R$ 1 mi ao ano, em manutenção, equipe receptiva, equipe técnica, brigadas de incêndio, comunicação e despesas gerais. Há interesses mercantis nem sempre convergentes e que convivem no território, mas não vejo nenhum empreendedor ou organização pública ou privada que se aventure em assumir a gestão e governança da Pedra… A ponte de vidro é polêmica, indesejável, elitista, gera impactos imprevisíveis, mas é a única iniciativa que vi em anos recentes que pode ajudar a pagar o custo de gestão do Monumento Natural da Pedra Grande. Se gosto da ideia? Não. Mas a indignação sozinha não paga a conta!
Empreendedor social, consultor empresarial, educador e músico, pai da Mariana e cidadão de Atibaia. Possui mais de 40 anos de trajetória profissional transitada entre o meio corporativo e o terceiro setor. Atualmente é dirigente da ONG Mater Dei de Atibaia-SP e violonista do grupo Sentido do Samba.
Perfeito, Gianm… a Pedra está literalmente abandonada há anos, esse pessoal todo, que usa isso para visibilidade, sem dúvida, não foi capaz de colocar lá uma lata de lixo… o que não torna o projeto vítreo uma boa opção, mas não o faz uma opção ruim, em princípio. Muita estranha, sim… mas, como disse, a única iniciativa em anos para fazer algo de prático para pagar a conta… “salvar” a Pedra e abandoná-la ao uso desregrado não vai salvar nada… não vai ter ponte de vidro, mas não vai ter nada… nem lata de lixo, nem estruturas mínimas… só o vai-e-vem, pisoteamento, sujeira etc… Vejamos, por exemplo, a Cachoeira dos Pretos, como exemplo. Era totalmente abandonada, há anos atrás, só sujeirada e insegurança… o projeto de exploração turística fez mal para a cachoeira? Sair na frente , posando de “defensor” da ecologia é bem visto socialmente, mas não resolve problemas práticos… Parabéns pela sua posição coerente e corajosa.