A girafa, um jaguar e a selva do marketing

No vasto e competitivo ecossistema do marketing, marcas são como animais selvagens que precisam se adaptar para sobreviver. Algumas se camuflam, outras se tornam predadoras ágeis, mas há aquelas que, como a girafa, se transformam para alcançar horizontes mais altos. Contudo, a evolução da girafa não foi repentina. Milênios de adaptações permitiram que ela desenvolvesse aquele longo pescoço, útil tanto para alcançar as folhas no topo das árvores quanto para avistar predadores ao longe.

Essa reflexão me veio ao observar o rebranding radical da Jaguar. A marca britânica, conhecida por sua elegância e tradição, deu um salto ousado, quase abrupto, para se reposicionar como um símbolo de modernismo exuberante e inovação. O resultado? Um misto de aplausos e críticas. Entre os aplausos estão os que veem uma Jaguar destemida e ousada, pronta para conquistar novas gerações. Já as críticas vêm daqueles que enxergam uma ruptura brusca com a identidade que a consolidou no mercado de luxo.

O que me intriga é o risco desse movimento na perspectiva evolutiva. Será que um animal na selva pode mudar sua estratégia da noite para o dia sem desorientar os aliados? A Jaguar parece ter optado por abandonar sua savana tradicional para se aventurar em um território completamente novo. Enquanto isso soa excitante, me pergunto: e os consumidores tradicionais? Aqueles que associam a Jaguar a valores como prestígio britânico e sofisticação clássica?

Se a girafa tivesse decidido, de repente, ter um pescoço de 2 metros a mais, sem passar pelas adaptações graduais da evolução, provavelmente seria uma presa fácil. Na selva do mercado, o tempo e a consistência são aliados poderosos. Adaptações rápidas podem parecer inovadoras, mas também podem alienar quem já confia na marca.

Um exemplo clássico é a Coca-Cola, que tentou reformular seu produto nos anos 80 com a “New Coke”. Foi um fracasso. A empresa aprendeu que mudanças abruptas podem ser confundidas com rejeição ao público fiel. Voltaram atrás e reforçaram o que já os fazia líderes: tradição e consistência.

No caso da Jaguar, a aposta é em um público mais jovem, “mindset designer” e disposto a gastar. Mas será que os consumidores tradicionais, os que viram o Jaguar como o veículo ideal para vilões charmosos em filmes ou como ícone de status, continuarão a seguir a marca? Ou a Jaguar está preparada para abandonar esses clientes em busca de uma nova geração?

Acredito que a evolução das marcas deva ser como a da girafa: gradual, pensada, quase imperceptível a olho nu, mas fundamental para o sucesso a longo prazo. Talvez a Jaguar pudesse ter mantido suas raízes tradicionais enquanto introduzia elementos de modernidade aos poucos. Afinal, tradição e inovação não precisam ser opostos; podem coexistir de maneira harmônica, como a força e a elegância de um jaguar na selva.

O marketing moderno exige coragem, mas também requer paciência e estratégia. Rebranding é uma ferramenta poderosa, mas, sem respeito ao passado e cuidado com o presente, pode virar uma armadilha. Na selva das marcas, sobreviver não é só questão de ousadia, mas de equilíbrio.

E assim fica minha reflexão: talvez seja hora de Jaguar aprender com a girafa. Na evolução do branding, mais vale um pescoço longo e bem pensado do que um salto que pode custar caro.

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