No dia das mães quero trazer uma reflexão sobre quem é essa mulher, mãe de alguém, filha e neta de alguém, mulheres que durante gerações levam compulsoriamente a função de aprender e repassar o que a vida lhe ensina, transmitindo às proles suas emoções, seus valores (sejam quais forem) e seu entendimento de como sobreviver nesse mundo.

Costumo lembrar sempre que somos mamíferos, e nossas fêmeas tem o estigma de gerir, parir E amamentar os filhotes, o que traz à espécie humana um mindset instintivo de defender território, buscar segurança de abrigo e alimentação, e defender a prole. Ainda que a linguagem e convívio social colocaram os humanos num outro patamar dentro da escala da sobrevivência, nossa essência mamífera nunca deixará de existir.

Como filhos, enxergamos nossas mães de forma diferente durante a vida: é a mãe fada da infância, e a mãe que “é foda” da adolescência… na vida adulta conciliamos nosso entendimento sobre a maternidade e podemos reconhecer em nossas mães boas conselheiras, se estiverem disponíveis para isso.

Não desejo falar no dia das mães daquela mãe estereotipada dos contos infantis e comerciais de TV – mães nem sempre cozinham bem, não fazem milagres, quase nem sempre tem razão (ou não?) e nem sempre embalam nosso sono com as histórias contadas pelas mães e avós delas. Mas podemos refletir sobre as mães endeusadas pela cultura e religião, a Pachamama para os quíchua, deusa do tempo que cura, da terra e da fecundidade, ou de Nossa Senhora, virgem imaculada que pariu sem prazer, ou Oxum, a mãe da mitologia umbandista, senhora da fertilidade e da concepção, mas não de cuidar das crianças, que é da conta de Iemanjá…

Pachamama – deusa andina do tempo, da terra, da fecundidade

O que dizer das mães do mundo que já nascem com a a obrigação milenar de lidar com o patriarcado e tudo que representa, o preconceito, a violência, a exclusão social… ou das mães nascidas na pobreza, muitas entrando na maternidade ainda adolescentes, antes que compreendam como funciona o mundo e a vida… e todas ativam seu instinto e cuidam da prole mesmo sem as mínimas condições para isso. Essas mães-mulheres-guerreiras que buscam significado para suas vidas, assumindo protagonismo na casa, na sociedade e no trabalho, equilibrando tudo com a maravilhosa tarefa de fazer nascer e criar filhos.

Ah! Essas mães que são objeto de nossas lamúrias nos consultórios terapêuticos, a quem muitas vezes culpamos pelo que não nos entregaram, sem considerar que o pouco que recebemos era na verdade tudo que elas tinham para dar! Essas mães que não recebem o adeus ou necessário agradecimento quando os filhos voam de casa para estudar, casar, ou simplesmente se encontrarem na vida… será a mãe um útero que nos hospeda durante anos, do qual saímos de repente por que acreditamos ter encontrado a luz?

Em algum momento da vida temos a obrigação de cortar os cordões umbilicais que nos ligam, o que não significa abandonar todas as crenças que construímos em relação à imagem materna – a que gere e cria, dona do tempo da esperança. Vamos olhar a mãe essa que tem orgulho do dever cumprido, que sente falta de um telefonema e visita, de uma agrado e convivência para além dos aniversários e festas natalinas… essa mãe que nos sonhou, que idealizou sua vida em função dos filhos, e segue avante como marco eterno em nossa existência.

Essa mãe que não recebeu o kit completo, pois a mãe dela também não fazia a mínima ideia como a vida funcionava quando pela primeira vez olhou nos olhos ainda cerrados do bebê. São mulheres de verdade, as mães de todos nós, e as mulheres que as geraram e outras mulheres antes delas, a construir todo o universo feminino e todas as crenças da maternidade, pilar inquestionável de nossa existência como espécie e civilização.

No dia das mães, comemoremos com uma reflexão silenciosa sobre o que precisa ser honrado, o que precisa ser perdoado, e como amamos nossas mães, seres humanos que também cometem todos os erros que a vida nos permite cometer, que aprenderam com seus erros e  também acertaram muito para sermos quem somos. Sejam presentes ou vivendo em saudade, peço a bênção destas mulheres que significam tanto em nossas jornadas.

E feliz dia das mães!!

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