Amigos leitores, vamos conversar um pouco sobre investimentos em ativos financeiros?
A fazer isso, vamos discutir as principais características dos títulos de renda fixa e de variável enfatizando, no caso desses últimos, medidas de performance das ações que apresentam o melhor e o pior nível rentabilidade nos últimos meses?

Sendo o primeiro de dois artigos que produzi para o JVN, adianto que o propósito não é esgotar o assunto, mas apenas apresentar algumas formas de medição da relação risco-retorno e chamar a atenção sobre os fatores que afetaram o desempenho das ações da Embraer (EMBRA3) e Azul Linhas Aéreas Brasileiras (AZUL4) e Assaí Atacadista (ASAI3), comparando-os com medidas de performance do Ibovespa (IBOV) e da Letra do Tesouro Nacional (LTN ou Tesouro Prefixado), título emitido pelo Governo Federal e negociado por meio do Tesouro Direto (TD). Isso nos permitirá compreender mais de perto o funcionamento e a dinâmica do Mercado de Capitais.
Relação risco e retorno
Como sabemos, investir sempre foi importante e depende de nossas escolhas. Dada a renda disponível, renda por nós recebida após o desconto dos tributos, cada ato de consumo é inversamente proporcional à capacidade de poupança.
Tecnicamente, a rentabilidade dos diferentes ativos financeiros negociados no mercado representa um prêmio pago aos indivíduos que renunciam uma parcela de consumo presente para ampliar sua capacidade de consumo futuro por meio do recebimento de juros. O nível de rentabilidade obtido dependerá da relação risco-retorno de cada produto ofertado no mercado financeiro e de capitais.
Quanto maior o nível de risco maior tende a ser a taxa de retorno oferecida pelo ativo financeiro; ou seja, dado o risco, cada produto financeiro paga diferentes níveis de prêmio de risco. Vamos retornar a esse tema a seguir. Antes cabe frisar que, normalmente, a decisão de investimento gera muitas dúvidas. A principal dessas é: qual é a melhor opção de investimento?
Perfil do investidor
Para conhecer seu perfil de investidor, qualquer analista de investimentos lhe responderá fazendo perguntas. Dentre as principais, se destacam: (i) quanto você pretende investir e por quanto tempo? (ii) que uso pretende fazer com os recursos? Esse também vai tentar compreender qual o seu nível de tolerância em relação ao risco das diferentes opções de investimento.
Devido a difusão do uso de aplicativos providos pelos bancos tradicionais e fintechs, dispomos, além dos serviços tradicionais de pagamento e transferência de recursos, de uma ampla gama de opções de investimento.
Por meio do celular, cada um de nós tem acesso ao banco na palma das mãos, fato que inclui o acesso à inúmeras alternativas de investimento. Grande parte dos aplicativos possuem mecanismos destinados a fazer uma “filtragem do perfil do investidor”. O objetivo é ofertar a melhor alternativa de investimento dado o perfil do investidor.
Seja qual for esse, há dois grupos de opções de investimento: aplicação em ativos de renda fixa e ou em ativos de renda variável.

Investimentos em renda fixa
Os ativos de renda fixa podem ser classificados de três maneiras: quanto ao emissor, taxas empregadas no processo de formação dos juros e periodicidade de pagamento desses.
No primeiro caso, esses podem ser emitidos pelos bancos para captação de recursos (como os Certificados e os Recibos de Depósito Bancário – CDB’s e RDB’s), pelo Tesouro Nacional, por meio do Tesouro Direto (como o IPCA+, a Letra do Tesouro Nacional e a Letra Financeira do Tesouro Nacional, LTN e LFT, também conhecida como Tesouro Selic) e pelas empresas de capital aberto (como as Notas Promissórias e Debêntures), autorizadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pela BM&FBovespa para lançar ações e outros valores mobiliários na Bolsa de Valores (B3).
Quanto as taxas de remuneração, há os títulos de renda fixa prefixada e pós-fixada. Os primeiros são títulos cuja taxa de juros e prazo são determinados no momento da aplicação. Já os pós-fixados são títulos cuja rentabilidade fica atrelada à variação de um índice de mercado, dentre os principais destacam-se:
- Taxa DI (taxa de depósito interfinanceiro): indicador que representa a média dos juros cobrados em empréstimos de curtíssimo prazo realizados somente entre instituições financeiras;
- Taxa Referencial (TR) de juros: taxa calculada pelo Banco Central (Bacen) com base na média das taxas de juros praticadas na concessão de empréstimos interbancários (DI), remuneração de títulos públicos federais, sendo normalmente empregada na formação do rendimento da Caderneta de Poupança, certos títulos de capitalização, saldos de financiamentos do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e das contas do FGTS);
- Outras taxas: índices que medem a inflação, como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e a taxa Selic meta, definida nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) e empregada como instrumento de Política Monetária para o controle da inflação e da atividade econômica.
Finalmente, quanto ao pagamento dos juros, há títulos de renda fixa que pagam juros periodicamente (cupons) até o vencimento e os que pagam os juros apenas em sua data de vencimento. A maior parte dos títulos de renda fixa pode ser vendido antes do vencimento, sobretudo os negociados no TD. Caso o investidor mantenha o título até o vencimento, receberá a taxa pré ou posfixada contratada no momento da aplicação; caso venda o ativo antes do vencimento, a remuneração normalmente será proporcional ao período em que manteve a posse do título.

Quanto a tributação, investimentos em renda fixa estão sujeitos a uma tabela regressiva de Imposto de Renda (IR), pois as alíquotas diminuem conforme o prazo do investimento. A alíquota mais alta é de 22,5%, para aplicações mantidas pelo investidor por até seis meses. Sobre as aplicações mantidas por seis meses a um ano, a alíquota do IR é de 20%. Aplicações mantidas por até dois anos pagam 17,5% e as mantidas por dois ou mais anos pagam 15%. Essas mesmas regras de tributação se aplicam aos recursos aplicados em CDBs, fundos de investimento, debêntures e outros títulos de renda fixa.
É importante salientar que, ao investir em títulos de renda fixa prefixada o investidor sabe exatamente a rentabilidade que obterá no vencimento do título (até novembro, a taxa média de juros paga pelos títulos emitidos no TD foi de 13% a.a.). Normalmente, títulos renda fixa prefixada lançados pelo TD são vendidos com desconto sobre seu valor de face. Por exemplo, em determinado dia a LTN pode ser adquirida por R$932 e pagará R$1.000 no vencimento. No entanto, e dependendo das condições de mercado, esse pode ser recomprado pelo TD por R$950 e, ao fazer isso, o investidor obtém um retorno bruto de R$18 na operação.
É importante saber que títulos de renda fixa são títulos de dívida, pois ao aplica nesses o investidor se torna credor do emissor, seja banco, governo ou empresa de capital aberto; fato quem contrasta com os títulos de renda variável, cujos principais são as ações. Aqui cabe destacar que ações são títulos de propriedade. Retornarei a esse tema a seguir.
Como vimos, ao investir em títulos de renda fixa pós-fixada o investidor sabe qual será o índice aplicado na formação de juros, mas a rentabilidade dependerá da variação da taxa DI, da inflação medida pelo IPCA ou de outro indexador, como a TR ou Selic, contratado no momento da aquisição do título e que será a base do processo de formação dos juros do ativo financeiro adquirido. Assim, no caso dos títulos de renda fixa pós-fixados, o máximo que o investidor pode ter é uma expectativa em relação a variação da taxa empregada para a formação dos juros. Por exemplo, IPCA+ é uma boa opção pois cobre a inflação medida pelo IPCA e uma taxa fixa que gira em torno de 6% a.a. Assim, ao aplicar e manter recursos nesse título durante um ano, o investidor receberá 10,7%, caso a inflação medida pelo IPCA seja de 4,7% durante esse período.

Finalmente, como a taxa ou o indexador aplicado na formação dos juros é conhecida pelo investidor no ato da compra, títulos de renda fixa são opções seguras de investimento. Além disso, muitos desses são garantidos em até R$ 280 mil por CPF pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Já os títulos emitidos pelo TD apresentam o mais baixo nível de risco; afinal, o Governo Federal pode aumentar a carga tributária ou emitir mais moeda como meio de devolver o capital aplicado e garantir a taxa de remuneração dos títulos emitidos. Isso só tende a acontecer em situações extremas, no contexto de severas crises econômicas.
Investimentos em renda variável
Em contraste às aplicações em renda fixa, ao investir em ações, que são títulos de renda variável, o investidor espera obter Ganhos de Capital e proventos.
Os ganhos de capital ocorrem em função da diferença entre o preço de aquisição da ação e o preço que obterá no momento que decida ou necessite vendê-la. Por exemplo, ao comprar um lote de 100 ações de uma empresa de capital aberto ao preço de R$50 por ação e vendê-las por R$55, o investidor obtém um ganho bruto (ou seja, antes do pagamento de taxas à corretora, emolumentos cobrados pela B3 e IR) de R$5 por ação; ou seja, o rentabilidade bruta será de R$500 pelo lote de 100 ações.

Além disso, quem investe em ações ordinárias (ações que dão direito a voto aos acionistas nas Assembleias Gerais, nas quais são aprovadas as contas e deliberados os rumos estratégicos da empresa emissora) tem direito a receber proventos, dentre esses: parcelas dos lucros obtidos pelas empresas distribuídas na forma de dividendos; bonificações (juros sobre os lucros não distribuídos e que ficaram retidos na empresa); direitos de subscrição (privilégios associados ao direito de compra de novos lotes de ações emitidos pelas empresas). Ao investir em ações preferenciais os investidores não participam dos processos decisórios, mas tem preferência na distribuição de dividendos pagos pelas empresas.
Investir em ações apresenta mais riscos em relação aos investimentos em renda fixa. Isso acontece porque os investidores não sabem e não têm como saber qual será a rentabilidade obtida uma vez que a obtenção de ganhos de capital dependerá dos preços das ações, sendo esses definidos nos pregões da Bolsa de Valores pelas forças de demanda e oferta desses ativos no mercado. Adicionalmente, a capacidade de gerar proventos depende da capacidade da empresa em gerar lucros em suas operações e das oportunidades de implantação de novos projetos de investimento realizados pelas empresas (expansão da produção, lançamento de novos produtos ou adoção de processos de produção mais eficientes).
Importante frisar que “ações são a menor parcela do capital de uma empresa e quem as compra torna-se sócio desta, compartilhando os lucros que essa gera e os riscos do negócio“. Em suma, ao adquirir ações os investidores estão sujeitos ao risco de variações nos preços desses títulos e a capacidade das empresas emissoras gerarem lucros com o emprego de seus ativos (marcas, patentes, máquinas, equipamentos, instalações, dentre outros ativos) por meio da oferta de bens e ou serviços.

Embora investir em ações seja mais arriscado devido a exposição das empresas aos movimentos do mercado, são aplicações seguras, pois a Bolsa de valores (B3) organiza, mantem, controla e garante o funcionamento de sistemas dedicados à realização de compra e venda de ações e outros valores mobiliários.
Como meio de assegurar a confiabilidade das operações, todas as empresas têm de cumprir inúmeras de regras relacionadas à transparência na divulgação de informações. Inclusive são obrigadas a dotar mecanismos de Governança Corporativa e de Compliance.
Ademais, sistemas de monitoramento e controle asseguram a compensação e liquidação dos negócios realizados e, além da autorregulação feita pela própria B3, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia do governo federal, é responsável por regulamentar, fiscalizar, julgar e punir os agentes que não cumprem as regras definidas.
Como meio de proteger quem investe em renda variável há o pouco conhecido Mecanismo de Ressarcimento de Prejuízos (MRP). Esse assegura o ressarcimento de até R$120 mil decorrente de prejuízos causados por corretoras, distribuidoras ou agentes autônomos autorizados a operar no mercado de capitais em nome dos investidores, podendo esse ser reivindicado quando ocorrem perdas causadas pela execução incorreta de ordens de compra ou venda feitas pelos investidores ou emprego de recursos desses em operações não solicitadas e ou falência da corretora.
Importante destacar que, no Brasil, os investidores só podem negociar na Bolsa de Valores por meio de corretoras e distribuidoras de valores mobiliários. Assim, esses são obrigados a escolher e se cadastrar em uma corretora ou outro intermediário habilitado para negociar ações e intermediar transações na B3. Ao investir pelo app do seu banco este passa a operar por meio de sua área de corretagem.

Apresentando algumas estatísticas
Vamos às estatísticas de alguns ativos negociados entre 02/01 e 29/11? Considerando que, além do IBOV, ASAI3 e LTN, são apresentados dados das ações que apresentaram o melhor e pior resultado no primeiro semestre de 2024: EMBR3 (Embraer) e AZUL4 (Azul Linhas Aéreas Brasileiras). Isso é importante, pois ao conhecermos os casos extremos poderemos compreender melhor o funcionamento do mercado de capitais.
A tabela 1 apresenta estatísticas relacionadas a cinco ativos financeiros registradas nos últimos 11 meses, de 02/01 a 29/11. Particularmente, mostra as taxas de variação máxima e mínima do preço dos ativos, a amplitude da taxa de variação (diferença entre a taxa de variação máxima e mínima), o retorno médio, o desvio padrão (estatística que mede o grau de dispersão do retorno de cada ativo financeiro em relação à sua média) e o percentual de retorno de cada ativo ao longo do período analisado.

Foram geradas estatísticas do Índice Ibovespa (IBOV), Embraer (EMBR3), Azul Linhas Aéreas Brasileiras (AZUL4), Assaí Atacadista (ASAI3) e a Letra Financeira do Tesouro Nacional (LTN). O IBOV é apresentado porque esse importante índice mostra o comportamento do mercado de capitais, uma vez que esse é aferido como média de retorno das ações mais negociadas na bolsa. Importante frisar que as estatísticas foram calculadas com base nas cotações diárias desses ativos no período assinalado e não refletem tendências de longo prazo ou visam estimar a rentabilidade futura de tais ativos.
O Ibovespa foi o índice que teve a maior redução em 2024 entre as principais bolsas globais, retorno de – 6%, fato que foi acompanhado pela incerteza quanto aos rumos da Política Econômica do Governo Federal e desvalorização do R$ ante ao dólar. Ressalte-se que o R$ apresentou um dos piores desempenhos ante ao dólar quando comparado a outras moedas. A taxa de câmbio ultrapassou R$6 por dólar no final de novembro.
Como destacado, as estatísticas da EMBR3 e AZUL4 são apresentadas porque tiveram o melhor e o pior desempenho no primeiro semestre de 2024 e ainda são destaque no mercado de capitais, pois atualmente representam casos extremos. Observe que quem investiu e manteve as ações dessas empresas obteve retorno de cerca de 67% e – 50%, respectivamente, por R$ aplicado nesse período. Nada mal, para quem investiu na EMBR3, mas péssimo para que optou pela AZUL4.

A capacidade de geração de lucros dessas empresas é fortemente condicionada à variação do dólar. Grande parcela dos custos da EMBR3 são cotados em R$ e essa recebeu diversas encomendas e opções de compra de aeronaves de empresas estrangeiras. Portanto, além de ter custos cotados em R$, produção garantida para os próximos anos, suas receitas estão atreladas ao dólar. Esses fatos explicam a variação positiva da EMBR3.
Em contraste, a AZUL4 possui grande parte de seus custos e obrigações financeiras cotadas em dólar, sofrendo também com o aumento nas taxas de juros e com o fraco desempenho da economia. Já o ASAI3, escolhido aleatoriamente dentre as 86 ações mais negociadas na IBM&FBovespa em nov/24, obteve boas margens de lucro, resultante da maturação de seus projetos de expansão e otimização de suas estratégias comerciais. No entanto, sofreu com o aumento de suas despesas financeiras e impostos.
Esperando ter aguçado sua curiosidade e “animal spirit” de investidor, pretendo explorar de forma um pouco mais detalhada esses assuntos no próximo artigo. Inclusive, além de analisar com mais profundidade as estatísticas aqui apresentadas, irei apresentar e discutir os seguintes conceitos:
- Risco sistemático (ou risco não diversificável);
- Risco não sistemático (ou risco diversificável)
- Coeficiente beta (esse vinculado à variação no preço das ações de uma empresa em relação aos movimentos de mercado medidos pelo Ibovespa).
Além disso vou discutir a importância de mantermos uma carteira de investimentos diversificada.
Portanto, não deixe de ler o próximo artigo e de se preparar para investir de maneira consciente em 2025!

Marcello Muniz é economista e mestre em Engenharia pela USP. Com 20 anos de experiência profissional, é perito judicial, atua como Analista de Negócios junto à Data Science Business Management (DBSM) e é professor de Economia junto à Unifaccamp (de Campo Limpo Paulista) e Faculdade Impacta de Tecnologia (FIT).
Atuou como pesquisador da Divisão de Economia e Engenharia de Sistemas do IPT (DEES), consultor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Analista de Projetos da Fiesp.
Apaixonado por temas relacionados a políticas públicas e economia, autor do livro Matemática para Economia (Ser Educacional), participou na qualidade de coautor de 13 livros, entre esses: Política Industrial (Jornal Valor Econômico), Outward FDI from Brazil and its policy context (Vale Columbia Center on Sustainable International Investment), Gestão da Inovação no Setor de Telecomunicações (Fapesp) e Ressurgimento da indústria naval no Brasil (projeto-Ipea-BID).