Acabou a eleição, graças a Deus!
Vamos retomar à rotina de buscar soluções para nossos desafios cotidianos: desempregados buscam se remediar com alguma renda, pastores voltam a trabalhar a espiritualidade dos “seus” rebanhos, as ONGs se esforçam para articular financiamentos sociais para 2023, salvando um ano que foi ruim para captar doações, e a classe política faz o que sempre faz – começa a se articular para as eleições municiais de 2024. Como diz o samba, tudo está em seu lugar graças a Deus!
Como já pude conversar com nossos leitores, tudo que vimos e sofremos no processo eleitoral em nada contribui para resolver nossos problemas – bilhões jogados fora, aliás, foram os NOSSOS bilhões, para eleger um “salvador” que não vai salvar ninguém. A vida melhora quando trabalhamos para isso, não há milagre! Empresas, organizações, cidades e pessoas promoverão mudanças qualitativas quando deixarem de esperar milagres e prestarem atenção na caminhada, principalmente nos parceiros de jornada que escolhemos.
Não andamos sozinhos e para caminhar junto precisamos compreender o que é COOPERAÇÃO. Cooperar é “ fazer junto”, ou seja, imprimir o mesmo grau de esforço para atingir uma mesma finalidade. Cooperar assim implica alinhar objetivos e metas que queremos, antes de iniciar a jornada, logo, cooperar significa sair da postura individualista e conseguir enxergar o outro. Este ato de empatia é a solução para a quase totalidade de conflitos no mundo… se é tão bom por que não somos cooperativos?
Na sociedade de consumo aprendemos desde cedo a competir. Competir é dividir o mundo entre forte e fraco, certo ou errado, bonito ou feio, vencedores e perdedores. É ver o mundo através de pedacinhos sociais no tecido que nós mesmos retalhamos. Cooperar é praticar o patchwork e juntar de forma criativa estes pedaços de potencialidades. Uma sociedade avança na proporção de sua capacidade de cooperar e não de competir.
Empresas concorrentes tornam-se mais fortes quando compreendem a força de um arranjo produtivo local, como o cluster das flores em Holambra ou a Associação do Morango de Atibaia. Produtores rurais conseguem alavancar sua atividade ao participar de cooperativas que contribuam para ampliar espaços de comercialização. Minha rua fica mais segura e bonita quando os vizinhos se comunicam e cuidam do espaço e uns dos outros. Na aldeia indígena, todas as crianças são filhas da aldeia.
Para cooperar precisamos “abrir a guarda” – quando ocorre uma catástrofe em qualquer local, gera-se o sentimento de solidariedade e urgência, onde diferentes religiões, partidos políticos, pessoas de diferentes origens, sexo e idades deixam de lado suas rusgas e se concentram na solução do problema. Então sabemos que a cooperação É possível.
A insistência em competir faz com que cada um defenda sua ilha de poder – já assisti empresas irem à falência por brigas entre sócios ou colaboradores, pesquisadores sonegarem informações e atrasar descobertas científicas, bons projetos de desenvolvimento local/regional paralisados por não conseguirem conciliar interesses partidários, uma história sem fim de perdedores, que se julgam vencedores por que não deram a mão ao suposto inimigo.
Talvez a gente precise desconstruir e competição e entender como deixar de não-cooperar! Será que empresas, governos e sociedade organizada não conseguem olhar para sua cidade ou bairro, situar um problema e gerar uma solução onde todos participem? Seja tapar um buraco na rua, ou apoiar um coral da terceira idade… cooperação é possível quando conseguirmos olhar a dor do outro e enxergarmos nela a nossa própria dor. E rirmos junto de todo esse sofrimento.
Vejo por exemplo a economia compartilhada como expressão de um capitalismo que já não se sustenta no modelo competitivo; a economia solidária por sua vez, é a manifestação de nossa capacidade de fazer junto. Uma sociedade inteligente coloca a ética e a sustentabilidade acima dos desejos individuais por compreender só vai sobreviver se cooperar!
Fecho com o mestre Raul Seixas:
É sempre mais fácil acha que a culpa é do outro, evita o aperto de mão de um possível aliado…
Convence as paredes do quarto e dorme tranquilo, sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo…
Coragem, Brasil! Vamos sair do nosso quarto e trabalhar juntos o nosso futuro!
Empreendedor social, consultor empresarial, educador e músico, pai da Mariana e cidadão de Atibaia. Possui mais de 40 anos de trajetória profissional transitada entre o meio corporativo e o terceiro setor. Atualmente é dirigente da ONG Mater Dei de Atibaia-SP e violonista do grupo Sentido do Samba.