Com a Lei do Combustível do Futuro e o aumento gradual da mistura de biodiesel no diesel, o setor se prepara para 2025 em meio a desafios como fraudes, volatilidade de preços e necessidade de investimentos
O mercado de biodiesel no Brasil registrou avanços importantes em 2024, impulsionado pela aprovação da Lei do Combustível do Futuro, que trouxe previsibilidade e segurança jurídica ao setor. A medida estabelece um aumento gradual na mistura de biodiesel no diesel, passando dos atuais 14% para 15% em março de 2025, com a meta de atingir 20% até 2030. A partir de 2031, o percentual poderá chegar a 25%, dependendo de estudos de viabilidade técnica.
Segundo Filipe Cunha, Head de Biodiesel da SCA Brasil, o cenário é promissor, mas traz desafios significativos para o próximo ano. “O avanço regulatório é um marco positivo para o setor, mas precisamos enfrentar fraudes na mistura, oscilações de preços das matérias-primas e modernizar o monitoramento do mercado.”
Fraudes preocupam o setor
Um dos principais desafios de 2024 foi o aumento das fraudes na mistura do biodiesel ao diesel comercializado, especialmente após o reajuste do percentual para 14% (B14). De acordo com dados do Programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis (PMQC), irregularidades foram identificadas em distribuidoras, afetando a qualidade do produto entregue ao consumidor.
A suspensão temporária do PMQC nos últimos meses de 2024, devido a restrições orçamentárias e de pessoal da ANP, agravou a situação. A falta de fiscalização coincidiu com relatos de aumento das não conformidades, reforçando a urgência de intensificar o combate às fraudes em 2025. Medidas como o uso de equipamentos portáteis para detectar o teor de biodiesel e punições mais rigorosas estão entre as propostas para minimizar o problema.
Volatilidade no preço do óleo de soja
A instabilidade no preço do óleo de soja, principal matéria-prima do biodiesel, foi outro ponto crítico. Em 2024, os preços registraram alta volatilidade devido à quebra das safras americana e argentina, questões climáticas no Mato Grosso e à demanda interna aquecida. A combinação desses fatores, aliada à variação cambial, fez o preço do biodiesel acumular alta de 44,5% até novembro, segundo a ANP.
Para 2025, o abastecimento do mercado dependerá do desempenho da nova safra de soja. A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE) projeta uma produção de 167,7 milhões de toneladas, com um esmagamento de 57 milhões de toneladas. “Essa expectativa de safra recorde deve garantir o equilíbrio da oferta interna e sustentar o crescimento do setor,” analisa Filipe Cunha.
Expansão e investimentos
O setor de biodiesel deve entrar em um ciclo de investimentos nos próximos anos. Algumas usinas já anunciaram ampliações de capacidade e novos aportes, com destaque para a abertura de novas plantas industriais voltadas ao esmagamento de soja. O movimento de consolidação também tem ganhado força, com aquisições de usinas por grandes players, como ocorreu em 2023 e 2024.
Além disso, a Lei do Combustível do Futuro inclui metas mínimas de uso de óleos e gorduras residuais na produção de biodiesel, diesel verde e combustível sustentável de aviação (SAF), estimulando a economia circular e a agricultura familiar.
“A lei traz segurança jurídica e previsibilidade, atraindo investidores e garantindo que o setor esteja preparado para atender ao aumento gradual da mistura até 2030,” reforça Filipe Cunha.
Perspectivas para 2025
Com o aumento da mistura para 15% previsto para março e a expectativa de uma safra recorde, o mercado de biodiesel inicia 2025 com boas projeções. A prioridade, no entanto, será fortalecer a fiscalização, combater fraudes e garantir investimentos que sustentem o crescimento da indústria de combustíveis renováveis no país.