Players globais têm demonstrado interesse no Brasil, buscando aquisições para entrar no país
O setor de tintas e revestimentos está passando por um momento crucial, tanto no cenário global quanto no brasileiro. Com o mercado mundial projetado para crescer a uma taxa anual composta de 4,8% até 2030 – impulsionado especialmente pela Ásia e pelas Américas – o Brasil desponta como o principal polo de expansão na América Latina, registrando um crescimento estimado de 5,9% ao ano, acima da média do PIB nacional (3,4%).
Um dos principais motores dessa transformação no Brasil tem sido o crescimento da construção civil e do setor de materiais de construção, impulsionado pelo aquecimento do mercado imobiliário. Além disso, o setor automotivo — um dos maiores consumidores de revestimentos — está em recuperação, estimulando a demanda por tintas de alto desempenho. O segmento de revestimentos industriais também se destaca, beneficiado pelo crescimento da indústria manufatureira no Brasil.
Por consequência, esse ambiente de alto crescimento tem atraído a atenção de gigantes globais do setor, que vêm expandindo sua presença no Brasil por meio de aquisições ou parcerias estratégicas.
“O setor de tintas e revestimentos no Brasil está vivendo um momento de grande interesse por parte de players globais, impulsionado pelo crescimento acima da média do mercado brasileiro em relação a economias mais maduras. Estamos observando um aumento expressivo em transações cross-border, com empresas estrangeiras buscando aquisições para entrar no país e expandir suas operações em segmentos mais tecnológicos e de maior valor agregado. Empresas com foco em tintas de alta performance e revestimentos especiais estão no foco das demandas que temos recebido”, afirma o economista e sócio da Redirection International, Gabriel Loest Cardoso.
M&A traz oportunidades e gera benefícios para todos os envolvidos
Segundo o economista especialista em fusões e aquisições, o mercado global de M&A no setor de tintas e revestimentos tem demonstrado sinais de aquecimento desde o segundo semestre de 2024. Ele cita algumas transações relevantes ocorridas no Brasil nos últimos anos. Desde 2020, foram pelo menos 14 movimentações no setor, incluindo a aquisição da Suvinil pela AkzoNobel, consolidando a presença da multinacional no mercado local, e a compra da Lidor e da Polipox pela francesa Soprema, ampliando seu portfólio no Brasil.
Para empresas internacionais, conquistar espaço no maior mercado da América Latina implica superar desafios logísticos, barreiras regulatórias e a concorrência local. Assim, a estratégia de fusões e aquisições tem se mostrado a via mais eficaz para garantir uma posição sólida.
“Esse aquecimento de M&A no mercado de tintas e revestimentos reflete não só a busca por escalabilidade e eficiência, mas também a necessidade de atender a uma base de clientes cada vez mais exigente, que valoriza inovação, sustentabilidade e desempenho”, destaca Cardoso. “Já para as empresas locais, a consolidação representa uma oportunidade de expansão operacional, acesso a novas tecnologias e melhoria das redes de distribuição.”
Outro dado que confirma essa tendência é que mais de 50% das aquisições feitas por empresas norte-americanas no setor de tintas foram direcionadas a mercados fora dos EUA. E o interesse também parte das empresas brasileiras. “O aumento dos custos das matérias-primas, as pressões na cadeia de suprimentos e a crescente demanda por soluções ambientalmente sustentáveis – com baixo teor de compostos orgânicos voláteis (VOC) – têm levado grupos menores a buscar fusões com esses players de maior porte”, complementa o economista.
Expansão via aquisições complementares e reestruturação global da cadeia de suprimentos
A movimentação de aquisições menores e complementares (bolt-on acquisitions) tem sido um dos caminhos mais estratégicos do setor. Segundo Cardoso, “essas aquisições são mais fáceis de integrar e geram sinergias rapidamente. Muitas transações que vemos hoje envolvem a aquisição de novas capacidades – sejam produtos complementares para expandir portfólios, novas tecnologias ou uma presença geográfica ampliada.”
Outro fator relevante impulsionando essas movimentações é a reestruturação das cadeias globais de suprimentos, acelerando o movimento de re-shoring e near-shoring, no qual empresas buscam aproximar pontos críticos da cadeia produtiva dos mercados consumidores finais.
“Dentro desse contexto, uma solução para enfrentar tarifas e possíveis problemas logísticos no comércio internacional é deslocar parte da produção para mais perto do cliente final. Esse movimento novamente tem favorecido países como o Brasil, que se destaca como um hub estratégico para a América Latina e recebe crescente interesse de investidores estrangeiros”, afirma Cardoso.
Oportunidades claras para o mercado brasileiro
Oportunidades para fusões e aquisições no Brasil seguem em alta. “Os múltiplos de valuation estão elevados, especialmente em nichos de química especializada, o que reflete o potencial de valorização do setor”, pontua Cardoso.
Entre as principais oportunidades no mercado brasileiro, ele cita quatro tendências estratégicas:
- Consolidação de tintas e fornecedores de matérias-primas – Empresas buscam integrar verticalmente seus processos para aumentar eficiência e reduzir custos.
- Expansão geográfica – Acompanhando o crescimento de cidades e regiões metropolitanas, empresas globais miram uma presença mais ampla no Brasil.
- Aquisição de empresas com tecnologias avançadas – Negócios voltados para setores como automotivo e industrial têm atraído investidores interessados em produtos de maior valor agregado.
- Investimento em pesquisa e desenvolvimento – Empresas químicas especializadas têm sido alvos estratégicos para inovação e desenvolvimento de novas soluções.
Com um crescimento acima da média global e um ambiente favorável a fusões e aquisições, o Brasil segue consolidando sua posição como um dos mercados mais promissores para o setor de tintas e revestimentos na América Latina.