A resposta correta, mas insuficiente, à questão-título, é “sim”! Por que essa resposta precisa de complemento? Vejamos, pois.
Há poucos dias, o IBGE anunciou a variação dos preços em julho, medida pelo IPCA: (-) 0,68%. Tivemos, portanto, segundo o indicador, deflação naquele mês. O Boletim Focus mais recente, aponta expectativa de deflação, também em agosto (mediana da taxa de inflação esperada pelos entrevistados = (-) 0,15).
É natural que notícias como as descritas, despertem a atenção de muitos – natural e desejável que assim seja. Dentre os diversos comentários a que tive acesso, alguns traziam a informação de que deflação pode ser ruim (grifei a palavra que faz toda a diferença nesse assunto). Sem a inclusão dessa palavrinha mágica no discurso, não se deve escrever ou falar sobre efeitos potenciais da deflação. A taxa negativa de inflação não é ruim por si; ao contrário, em determinadas circunstâncias, pode ser fonte de novos olhares e novas e melhores expectativas. “Determinadas circunstâncias”, neste caso, significa não ser continuada, prolongada. Por quê? Exemplos modestos podem ser mais eficazes que rebuscadas explicações, não é? Vamos a eles então.
Imagine que você deseja comprar um bem ou contratar um serviço, que não sejam considerados imprescindíveis. Suponha que o produto custe R$ 1.000,00, e que no mês passado custava R$ 1.100,00. Se você tiver a expectativa de que no mês seguinte o preço seja ainda mais reduzido, provavelmente você não fará a aquisição no mês corrente. Esse argumento tenderia a ser mantido enquanto persistisse a expectativa de deflação, ou ao menos enquanto você pudesse postergar a compra ou contratação. Essa análise considerou o seu ponto de vista, isto é, o ponto de vista do consumidor; ok? Vejamos, agora o mesmo caso abordado sob o ponto de vista dos produtores do bem ou dos prestadores do serviço.
Ao contrário da demanda por produtos normais, que se movimenta em sentido contrário ao do movimento dos preços (maiores preços implicam demanda menor), a oferta se movimenta no mesmo sentido dos preços. Assim, se o mercado se dispõe a pagar mais por um produto, o fornecedor desse bem ou serviço será estimulado a produzi-lo em maior quantidade; por conta disso, ele contratará mão de obra, comprará matéria-prima e equipamentos, destinará verba para campanhas de marketing etc. Resumindo e concluindo, em certa medida (“certa medida” é um conceito de aplicação necessária a todos os assuntos), elevação de preços é saudável para a atividade econômica. A ideia principal apresentada aqui é: inflação, em certa medida, é saudável!
Nos últimos dois dias, vi alguns debates sobre esse tema, mas com algum desvio do eixo Economia para outros eixos menos relevantes para um momento histórico em que deveríamos estar debatendo programas de governo, propostas para os problemas nacionais, muito maiores que preferências pessoais ou simpatias de grupos organizados e direcionados em seus objetivos. Pena que isso aconteça! Pena que oportunidade de levar informação a nossa prezada gente seja desperdiçada com pautas menores. Foram-me oferecidas oportunidades de tratar desse tema, nos últimos dias. Aproveitei todas, da melhor maneira de que sou capaz.
Espero ter esclarecido, finalmente, a questão-título. A melhor resposta, então, é “pode ser”, com ênfase no uso do verbo poder.
13 de agosto – Dia do Economista. Parabéns aos colegas!
Até breve!
Economista e Mestre em Administração, desenvolveu carreira em instituições financeiras de grande porte. Paralelamente e por escolha, tem trabalhado em educação corporativa e acadêmica, neste último caso, exercendo docência e gestão de cursos. É autor e revisor de material didático para diversos cursos de graduação e pós-graduação, além de autor de livros não didáticos. No meio corporativo, dedica-se à consultoria e assessoria, na gestão financeira e na análise de conjuntura econômica.