Na Semana da Consciência Negra, estudo do Sebrae expõe as desigualdades enfrentadas por mulheres negras no empreendedorismo, evidenciando os entraves que limitam seu avanço no mercado

O empreendedorismo foi a alternativa encontrada por Edilaine Bueno, moradora de Passos (MG), para transformar a crise em oportunidade. Artesã de “amigurumis” – bonecas feitas em crochê – ela viu no artesanato uma nova forma de gerar renda após o desemprego. Hoje, microempreendedora individual (MEI), Edilaine fatura cerca de R$ 1.500 mensais com as vendas, feitas principalmente por redes sociais, enquanto busca capacitação para digitalizar e expandir o negócio.

“Acredito que estamos no melhor momento para empreender, pois as redes sociais nos dão muitas ferramentas que ajudam no crescimento e na especialização. Eu não tive muita rede de apoio, mas minha família e meu esposo me incentivaram”, comenta Edilaine.

Desigualdade de renda entre gêneros e raças

Apesar de histórias inspiradoras como a de Edilaine, o cenário para mulheres empreendedoras ainda é marcado por desafios. Segundo o estudo do Sebrae, realizado com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), embora o rendimento das mulheres à frente de empresas tenha crescido 5,7% entre 2019 e 2023 – acima do crescimento dos homens (4,5%) –, a desigualdade de renda persiste, reduzindo apenas de 32% para 30% no período.

Quando o recorte é feito por raça, o cenário é ainda mais desafiador. “Se para as empreendedoras a situação já é difícil, para as mulheres negras os obstáculos são ainda mais complexos,” afirma Margarete Coelho, diretora de Administração e Finanças do Sebrae. A pesquisa aponta que a diferença de renda entre um empreendedor branco e uma empreendedora negra ultrapassa 60%. Mesmo com um crescimento de 13,9% no rendimento médio real das mulheres negras nos últimos quatro anos, contra 10,3% dos homens negros, elas ainda possuem os menores rendimentos entre todos os grupos analisados.

Acesso ao crédito e barreiras estruturais

Além das dificuldades relacionadas à renda, as empreendedoras negras enfrentam barreiras culturais e econômicas que restringem o desenvolvimento de seus negócios. Entre os desafios, o acesso ao crédito se destaca como uma das principais limitações. “As taxas de juros para empresas lideradas por mulheres são, em média, quatro pontos percentuais mais elevadas que aquelas praticadas para negócios com homens na liderança,” aponta Margarete.

Para ela, essas desigualdades reforçam a necessidade de políticas públicas voltadas para acelerar a abertura de espaços e proporcionar uma competição mais equilibrada. “Hoje, as empreendedoras, especialmente as negras, precisam encarar barreiras culturais e sociais, resultado da cultura machista entre nós, e entraves que impedem o desenvolvimento dos seus negócios,” explica.

Progresso com desigualdades persistentes

O Sebrae ressalta que, embora as mulheres tenham conquistado avanços significativos no empreendedorismo, ainda há um longo caminho a percorrer. Entre 2019 e 2023, a renda de mulheres empreendedoras cresceu mais do que a de homens empreendedores, mas isso ainda não foi suficiente para corrigir desigualdades históricas.

“Ainda assim, as mulheres negras continuavam ganhando abaixo de todos os demais segmentos,” reflete Margarete. A Semana da Consciência Negra é um momento para refletir sobre essas desigualdades e reforçar a importância do afroempreendedorismo como ferramenta de emancipação econômica e social.

Inspirando mudanças

Casos como o de Edilaine mostram o impacto positivo do empreendedorismo feminino, especialmente entre mulheres negras. No entanto, Margarete destaca que é essencial criar um ambiente mais favorável, com iniciativas que facilitem o acesso ao crédito e a capacitação, reduzam as disparidades salariais e combatam barreiras culturais. “É fundamental que todos os setores da sociedade colaborem para reduzir essas desigualdades. Só assim será possível permitir que histórias como a de Edilaine inspirem mudanças em um mercado mais justo e inclusivo,” conclui Margarete.

Compartilhar:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *