Quem já teve oportunidade e/ou interesse de estudar (mesmo que pouco) o processo de comunicação humana, aprendeu, inicialmente, que ela só ocorre se a mensagem é compreendida pelo receptor – isto é, a quem se destina a mensagem. Diversos fatores podem comprometer a eficiência do processo (os chamados “ruídos”) e até mesmo sua eficácia. Citam-se, entre os potenciais fatores, (i)a incapacidade – parcial ou total – do emissor (de quem parte a mensagem), (ii)a ineficiência de canais (os meios escolhidos para transmitir a mensagem) e (iii)a incapacidade – parcial ou total – do receptor. Mas, o que tem isso a ver com Economia, Banco Central etc.? Vejamos.
A Economia emite sinais, durante todo o tempo e a maior ou menor habilidade de compreender seus significados é fator crítico de sucesso, por parte dos planejadores corporativos e daqueles a serviço de governos. Os sinais emitidos são códigos que, devidamente interpretados pelos receptores, serão vistos como mensagens a esses últimos destinadas. Considero que, em tempos atuais, os dois principais responsáveis pela adequada interpretação das citadas mensagens são o Presidente do Banco Central e o Ministro da Fazenda, cada um com suas incumbências, sobejamente conhecidas. Neste momento do texto, cabe ressaltar que “Garantir a estabilidade do poder de compra da moeda, zelar por um sistema financeiro sólido, eficiente e competitivo, e fomentar o bem-estar econômico da sociedade” é a missão do BC, que tem atuação autônoma, por força da Lei Complementar 179, vigente desde 25/2/2021.
O presidente do BC recebe, pela instituição, elogios e críticas. O Governo Federal, como sabemos todos, tem dirigido críticas diretas e severas à autoridade monetária. A autonomia do BC, por definição, impede que objetivos políticos do governo justifiquem atitudes, no que se refere à política monetária. De outra forma, pode ser entendido que a “autonomia” garante que política monetária seja, exclusivamente, uma pauta técnica. Exatamente isso incomoda o Governo Federal e a liderança do principal partido político a ele ligado, do qual o Ministro da Fazenda, diga-se, é integrante. “Tudo isso” em nome da não limitação do poder presidencial! Sob meu ponto de vista, uma pena, que se veja isso no Brasil, uma pena.
Por não subestimar a competência técnica do Ministro da Fazenda, não acredito que ele interprete de maneira diferente (em relação ao presidente do Banco Central) os sinais que as Economias (Brasileira e mundial) têm emitido, há tempos, no que se refere a fluxo internacional de capitais, inflação global, taxas de juros internas (presentes e suas expectativas no mais distante horizonte) e suas consequências. Nunca soube que o presidente do nosso BC tenha dito que o remédio seria doce. Isso não seria próprio de um profissional do gabarito dele. Em nome de interesses políticos (maior possibilidade de imposição de preferências presidenciais, principalmente), com enorme tristeza e ainda maior frustração, vejo o que todos vemos, com relação ao questionamento da autonomia do BC.
Durante muito anos, invejei os países que tinham seus BCs autônomos. Participei de inúmeras discussões sobre o tema, sempre defendendo a autonomia – e ainda a defendo! Assisto, preocupado e temeroso, a aproximação de ameaças à autonomia, em tempos futuros. Os tempos são “futuros”, mas acredito que os efeitos nocivos à credibilidade brasileira, além de nossas fronteiras, já estão batendo à nossa porta.
Ameaça de retrocesso, é o que penso, mas torço para estar errado. Quem me conhece, sabe – não torço para “A” ou para “B”. Minha torcida é pelo Brasil, portanto, se uma de minhas teorias estiver errada e a correta mostrar-se melhor para nosso país, eu me considerarei vencedor!!!!
Até breve!

Economista e Mestre em Administração, desenvolveu carreira em instituições financeiras de grande porte. Paralelamente e por escolha, tem trabalhado em educação corporativa e acadêmica, neste último caso, exercendo docência e gestão de cursos. É autor e revisor de material didático para diversos cursos de graduação e pós-graduação, além de autor de livros não didáticos. No meio corporativo, dedica-se à consultoria e assessoria, na gestão financeira e na análise de conjuntura econômica.