A comoção gerada pelos recentes ataques a escolas pelo país vem gerando emotivas e inúteis reações por parte da imprensa, famílias e governos, mas servem de cortina de fumaça para uma discussão necessária e mais profunda sobre o que estamos entregando a nossas crianças e jovens.
Não serei insensível ao horror de assistir crianças mortas a machadinha, ou uma professora ser esfaqueada na sala de aula fazendo o que mais amava; mas devemos tratar estes fatos isolados como sintoma e não como a doença em si. Há muito tempo que a violência na escola reflete uma sociedade cada vez mais preconceituosa e despida de empatia – vivemos num mundo competitivo, que promove falsas ilusões de felicidade, e não exercitamos junto aos adolescentes o senso crítico, tornando-os verdadeiros sujeitos de direito e aptos a perceber a realidade a sua volta.
Continuamos assim tratando crianças e adolescentes (e suas famílias) como seres desprovidos da capacidade de participação na construção social – quem tem a obrigação de fomentar políticas públicas inclusivas e progressistas na educação, não pretende educar ou conscientizar ninguém, pois não quer dividir o bolo. Panis et circense!
Temos escolas cada vez mais distantes da sociedade e do mundo do trabalho. Professores frustrados, desqualificados e sem o merecido reconhecimento. Ainda assim, militam com suas crenças e poucos recursos, procurando construir um mundo melhor – perlo menos os que não sucumbiram ao cinismo!
As escolas, em geral, são ambientes insalubre, fechados, anacrônicos e muito pouco democráticos. Repito – são reflexo da sociedade onde se insere. O bullying silencioso, a falta de comunicação não violenta, os preconceitos que não se revelam e que ajudam a montar a bomba de efeito retardado, que explode todos os dias em nossa cara. A Escola não suporta mais o peso de “ser” o futuro do país, de “substituir” a família inadaptada para a tarefa de educar, ou de “acreditar” que o repositório de conhecimento de milênios de civilização ainda serve para alguma coisa para formar cidadãos ou profissionais.
Não vamos acreditar que resolvemos o problema da educação revistando mochilas e prendendo adolescentes violentos – transformar as escolas num problema de segurança pública é um desrespeito aos professores e alunos que morreram em diversos eventos: são sintomas que vão continuar a aparecer – precisamos é combater o câncer do descaso, que impede nossa sociedade de praticar uma educação de verdade, com escolas equipadas, abertas, sem medo de estimular a participação, a inclusão, com professores valorizados, com acesso a tecnologia e olhando para o futuro.
Os pais e mães, assustados com razão pela propaganda oportunista, deveriam neste momento refletir qual o impacto que a escola vem tendo no comportamento de suas crias, e assumir o papel de acompanhar, cobrar, fiscalizar o que os filhos fazem e aprendem. A escola não pode ser uma caixa fechada de verdades que já não existem – ela precisa de outra dinâmica e motivação para existir e cumprir seu propósito maior – formar cidadãos plenos! Quero para minha filha uma escola que invista forte em aprendizagem, respeito e cooperação – lá não precisamos de grades ou seguranças – a vida já é uma prisão e tanto!
Empreendedor social, consultor empresarial, educador e músico, pai da Mariana e cidadão de Atibaia. Possui mais de 40 anos de trajetória profissional transitada entre o meio corporativo e o terceiro setor. Atualmente é dirigente da ONG Mater Dei de Atibaia-SP e violonista do grupo Sentido do Samba.