Boletim mensal aponta alta nos preços de alimentos in natura e pouco processados em março, elevando a pressão inflacionária sobre as famílias e sinalizando possíveis mudanças nos padrões de consumo com implicações para o setor de transporte em todo o país.
O cenário econômico nacional registra em abril de 2025 um ponto de atenção no que concerne à inflação dos alimentos. O mais recente boletim mensal aponta que, em março, houve um encarecimento significativo dos alimentos in natura e pouco processados, com uma taxa de inflação para o grupo de 1,09%, superando a alta de 0,61% observada em fevereiro. Esse movimento contrasta com a desaceleração do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 0,56%, evidenciando que o setor de Alimentação e Bebidas voltou a liderar as pressões inflacionárias, com uma variação de 1,17% – mais que o dobro da inflação geral registrada no período.
Uma análise mais detalhada revela que os produtos in natura apresentaram uma variação de preço de 1,45%, enquanto os alimentos considerados não saudáveis tiveram uma alta de 1,07%. Essa dinâmica pode ser atribuída à maior capacidade de estocagem e, consequentemente, maior controle de preços dos produtos industrializados, cuja matéria-prima também pode apresentar menor custo em comparação com os frescos. O aumento de itens básicos como ovo, tomate e café, aliados à sensibilidade do consumidor ao preço como principal fator de escolha, levanta a preocupação de uma possível substituição de alimentos frescos e mais saudáveis por produtos industrializados e ultraprocessados, especialmente entre as famílias de menor renda, que dedicam uma parcela significativa de seu orçamento à alimentação.
Essa escalada nos preços dos alimentos possui implicações diretas na segurança alimentar de milhões de famílias em todo o país. O aumento dos custos pode forçar uma redução na qualidade da dieta, priorizando a quantidade em detrimento da variedade e do valor nutricional, ou até mesmo levar à diminuição do tamanho das porções. Em níveis mais graves de insegurança alimentar, as famílias podem enfrentar a difícil realidade de passar um ou mais dias sem ter o que comer. O impacto da inflação dos alimentos é desproporcional, afetando de maneira mais severa as famílias em situação de pobreza e grupos socialmente vulnerabilizados, para os quais os gastos com alimentação podem representar uma fatia substancial do orçamento, chegando a mais de 60% para aqueles com renda de até dois salários mínimos.
Para o setor de transporte rodoviário de cargas, especialmente para empresas, empresários e corporações que atuam com caminhões em âmbito nacional, essa dinâmica inflacionária no setor de alimentos pode gerar reflexos indiretos, mas relevantes. Uma possível mudança nos padrões de consumo, com um aumento na demanda por alimentos industrializados em detrimento dos frescos, pode alterar as rotas de transporte e os tipos de cargas movimentadas em todo o território.
O escoamento da produção agrícola nacional, focada em alimentos in natura, pode enfrentar uma retração na demanda local, exigindo a busca por novos mercados ou a adaptação para o transporte de produtos com maior durabilidade e menor perecibilidade. Adicionalmente, a pressão inflacionária sobre o orçamento das famílias pode impactar o consumo geral, influenciando indiretamente a demanda por outros bens e serviços transportados no país. O monitoramento contínuo da inflação dos alimentos e seus efeitos nos padrões de consumo se torna, portanto, uma informação estratégica para o planejamento e a adaptação das empresas de transporte rodoviário na economia nacional.