Grandes corporações nos Estados Unidos estão reduzindo investimentos em diversidade, equidade e inclusão (DEI), e a tendência começa a impactar o mercado brasileiro
Redução de investimentos em diversidade
Nos últimos meses, algumas empresas têm reavaliado ou reduzido investimentos em políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI). O movimento, inicialmente pontual, tem ganhado força e resultado em cortes de orçamento, mudanças estratégicas e redução do espaço para a pauta no ambiente corporativo.
Nos Estados Unidos, empresas de grande porte passaram a reavaliar suas iniciativas de diversidade. Segundo um levantamento da plataforma de empregos Indeed, as ofertas de vagas na área de DEI caíram 44% em 2023, em comparação com o ano anterior. Um dos fatores que impulsionam essa mudança é a decisão da Suprema Corte dos EUA, que restringiu políticas de admissão universitária baseadas em critérios raciais, influenciando o ambiente corporativo.
Outro aspecto relevante é o ajuste de operação realizado por grandes empresas de tecnologia após o crescimento acelerado na pandemia. Desde 2022, companhias como Amazon, Microsoft e Meta reduziram cerca de 300 mil postos de trabalho, afetando também setores dedicados à diversidade.
Cenário no Brasil
A mudança no panorama internacional também reflete no mercado brasileiro, onde a implementação de políticas de diversidade enfrenta desafios estruturais. De acordo com um estudo da To.gather, 60,9% das empresas no Brasil não possuem uma área dedicada à diversidade e inclusão (D&I). Na maioria dos casos, a responsabilidade pela pauta fica a cargo do setor de Recursos Humanos (RH), onde compete com outras demandas operacionais.
A pesquisa também indica que, entre as empresas que possuem um setor específico para diversidade, 93,6% contam com orçamento destinado a essas iniciativas. No entanto, quando a pauta está sob gestão do RH, esse número cai para 27,3%.
Desafios para a inclusão
O impacto da falta de políticas estruturadas de diversidade se reflete no mercado de trabalho. Dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra) mostram que apenas 4% das pessoas trans e travestis estão empregadas formalmente e 0,02% tiveram acesso ao ensino superior.
Especialistas destacam que iniciativas estruturadas podem contribuir para a construção de um ambiente corporativo mais equitativo e inovador. Pesquisas indicam que equipes diversas tendem a ser mais produtivas e criativas, trazendo vantagens competitivas para as empresas que apostam na inclusão como estratégia de crescimento.
Perspectivas futuras
Apesar das mudanças observadas em alguns setores, a diversidade continua sendo pauta de debate no ambiente corporativo brasileiro. Enquanto algumas empresas nos Estados Unidos diminuem investimentos na área, outras companhias no Brasil seguem desenvolvendo ações voltadas à inclusão.
O cenário indica que o avanço da pauta dependerá da consolidação de políticas consistentes e estruturadas, garantindo que a diversidade e a equidade sejam parte da estratégia empresarial de longo prazo.