Insatisfação profissional e busca por propósito motivam transições de carreira; especialistas destacam importância de planejamento e apoio terapêutico
A busca por realização profissional tem levado muitos brasileiros a reconsiderarem suas trajetórias de carreira. Segundo uma pesquisa realizada pela plataforma Infojobs, 90% dos trabalhadores que nunca mudaram de área consideram fazer essa transição no futuro. O levantamento, que ouviu 832 profissionais entre abril e junho de 2024, também revelou que quase metade dos entrevistados (47,2%) está insatisfeita com sua profissão atual.
Histórias como a de Shirley Fachetti, massoterapeuta desde 2021, refletem a realidade de muitos. Antes de mudar de área, Shirley atuava no setor administrativo de um hospital público. Insatisfeita com a rotina exaustiva e o baixo salário, ela decidiu transformar sua paixão pela massoterapia em profissão. “Eu trabalhava nove horas por dia e só ganhava um salário mínimo. Durante a terapia, lembrei de duas paixões: gastronomia e massoterapia. Recuperei minha confiança, comprei uma maca e comecei a atender. Hoje, meu negócio cresceu, e estou realizada profissionalmente” conta Shirley.
Mudança como reflexo de escolhas anteriores
Para a psicanalista e especialista em desenvolvimento profissional Rachel Poubel, o desejo de mudar de carreira muitas vezes está relacionado a escolhas feitas no início da vida adulta, influenciadas por circunstâncias financeiras ou familiares. “Muitos escolhem a profissão sem considerar suas aptidões ou paixões, apenas por necessidade ou influência externa. Quando chegam a uma etapa da vida em que podem refletir sobre suas escolhas, percebem que não estão satisfeitos e decidem mudar” explica.
Essa realidade também aparece no caso de Daiane Gambarte, graduada em engenharia elétrica, que encontrou realização profissional na área de estética. “Ainda na faculdade percebi que não me identificava com a área. Comecei um curso de estética e, aos poucos, passei a atender paralelamente ao meu emprego. Dois anos atrás, decidi empreender exclusivamente na estética. Hoje, me sinto realizada” relata.
Os desafios de mudar de carreira
Apesar de ser uma oportunidade para alinhar interesses pessoais e profissionais, mudar de carreira exige planejamento financeiro e emocional. “A insegurança financeira é um grande obstáculo. Quem tem estabilidade em cargos públicos, por exemplo, pode enfrentar dificuldades ao lidar com a instabilidade inicial da transição” ressalta Rachel Poubel.
Outro desafio comum é a falta de apoio de amigos e familiares. Nesse contexto, ter clareza sobre os objetivos profissionais é essencial. “É importante saber o que se deseja alcançar antes de iniciar a mudança. Não espere adoecer ou atingir um ponto de exaustão para buscar algo novo. Quando trabalhamos alinhados ao nosso propósito, conseguimos melhores resultados e maior satisfação” aconselha a especialista.
Apoio terapêutico como aliado no processo
O acompanhamento terapêutico pode desempenhar um papel fundamental durante uma transição de carreira, ajudando os profissionais a lidarem com as incertezas e o estresse associados ao processo. “A terapia auxilia na identificação de valores e motivações, ajudando a pessoa a escolher um caminho mais alinhado ao seu propósito de vida. Tratar as emoções nesse período é crucial para tomar decisões seguras e assertivas” explica Rachel.
Para Shirley Fachetti, o suporte psicológico foi determinante para o sucesso da transição. “A terapia foi essencial para superar meus medos e recuperar a confiança. Não foi fácil, mas foi transformador. Hoje, me sinto segura e realizada na minha nova profissão” afirma.
Transformando desafios em oportunidades
Embora a mudança de carreira possa ser desafiadora, ela também representa uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional. “A carreira é uma construção dinâmica. Cada escolha, mesmo fora da área inicial, pode agregar valor e ampliar horizontes. Planejamento, resiliência e apoio emocional são os pilares para uma transição bem-sucedida” conclui Rachel Poubel.