Você já deve ter percebido que, nos últimos anos, os negócios de impacto social se tornaram um dos eixos de transformação econômica e social.
Esses empreendimentos unem lucro e propósito, ao atenderem às demandas do mercado e, ao mesmo tempo, enfrentarem desafios sociais e ambientais.
Pensando em quem deseja construir ou reinventar seu negócio com essa visão, compartilho algumas práticas que podem ser aplicadas na criação de soluções que geram valor real para a sociedade.
O estágio atual dos negócios de impacto
Diferente das organizações filantrópicas ou ONGs, os negócios de impacto operam com modelos que geram receitas enquanto buscam resolver problemas sociais ou ambientais, combinando práticas de mercado com uma missão social clara.
Alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, esses negócios abrangem áreas como educação, segurança alimentar, saúde, proteção ambiental, igualdade de gênero e produção e consumo sustentáveis.
Esse modelo híbrido tem atraído tanto investidores quanto empreendedores, formando um ecossistema amplo em oportunidades.
O mapeamento realizado pela plataforma Pipe.Social identificou mais de 1.500 negócios de impacto no Brasil em 2023. A Global Impact Investing Network (GIIN) estimou que há mais de 40.000 iniciativas com foco social em todo o mundo.
Além disso, o número de organizações dedicadas ao apoio e investimento nessas empresas vem crescendo muito. Gestoras como SITAWI, Vox Capital, Positive Ventures, Yunus Negócios Sociais e aceleradoras como Artemisia, ImpactHub e Quintessa são algumas das referências, oferecendo suporte e promovendo o desenvolvimento de soluções que geram transformações positivas.
Ferramentas e abordagens que fazem a diferença
A criação de negócios de impacto pode ser aprimorada com metodologias que estruturam ideias e validam produtos e serviços escaláveis de forma eficiente.
O Design Thinking por exemplo, com suas etapas de empatia, definição, ideação, prototipagem e testes, permite uma compreensão profunda das necessidades das pessoas. Com esse entendimento, é possível desenvolver soluções alinhadas às demandas reais, garantindo que o processo de inovação seja efetivamente centrado no ser humano.
Metodologias como Lean Startup são valiosas para testar soluções de forma ágil e com baixo custo, validando hipóteses rapidamente por meio dos ciclos “construir, medir, aprender”. Com o uso de um Produto Mínimo Viável (MVP), é possível obter feedback real e ajustar a solução com base em métricas precisas para otimizar os resultados socioambientais.
Ferramentas como o Business Model Canvas e o Lean Canvas ajudam a estruturar o modelo de negócios. O Business Model Canvas oferece uma visão abrangente das propostas de valor, parcerias e formas de monetização. Já o Lean Canvas, voltado para startups, prioriza a resolução de problemas específicos e a identificação de métricas essenciais para alcançar sucesso social e financeiro.
O Design de Serviços, por sua vez, é utilizado para mapear as jornadas dos beneficiários, otimizando cada ponto de contato para assegurar uma experiência positiva e soluções mais eficazes.
A Teoria da Mudança é um método estratégico que planeja, implementa e avalia projetos com objetivos sociais e ambientais, indicando como uma intervenção levará aos resultados desejados e facilitando a compreensão da transformação no curto, médio e longo prazo.
Integrar essas abordagens pode potencializar ainda mais o desenvolvimento de negócios com propósito socioambiental.
Fair play hub: transformando o esporte em ferramenta de mudança
O projeto Fair Play Hub é um ótimo exemplo de como a inovação pode promover transformações reais na sociedade.
Esta plataforma se dedica à formação e educação de jovens atletas de futebol, promovendo o respeito e combatendo a violência de gênero, com um foco claro no ODS 5 (Igualdade de Gênero).
Liderado por Anny Sevilha, Jenny Ohara, Paloma de Melo e Thayana Salgueiro, o projeto nasceu no Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Negócios e Inovação da Fatec Sebrae.
O Fair Play Hub oferece cursos, oficinas e conteúdos interativos e gamificados, utilizando o esporte como uma ferramenta de transformação social para atletas da categoria de base dos clubes. A plataforma atua na formação contínua de atletas e na promoção de uma cultura de respeito e equidade.
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Instituto Avon mostram um aumento de 23,7% nos registros de ameaças e de 25,9% em lesões corporais em dias de partidas de futebol na própria cidade, reforçando a importância de iniciativas como o Fair Play Hub.
Embora o projeto ganhe destaque especial no Agosto Lilás, mês dedicado à conscientização pelo fim da violência contra as mulheres, a mobilização deve ser permanente.
Conheça o projeto aqui: https://youtu.be/ZpTHIKjbyHw
Olhando para o futuro dos negócios de impacto
O futuro dos negócios com propósito social é promissor e cheio de oportunidades, mas também enfrenta desafios.
Para que esse setor continue a crescer, é fundamental avançar em áreas como o fortalecimento de políticas públicas, o acesso a financiamento, a capacitação e a criação de ambientes colaborativos.
Cada vez mais, empreendedores demonstram que é possível construir modelos rentáveis que abordam problemas urgentes. Como Peter Drucker, pai da administração moderna, disse certa vez: “A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo.”
Com mais de 30 anos de experiência nos ambientes corporativo e acadêmico, Paulo Izumi é um consultor especializado em facilitar a inovação e orientar gestores e empreendedores, utilizando abordagens integradas de inovação e design de negócios. Graduado em Publicidade e Marketing, mestre em Administração e doutor em Negócios Internacionais e Inovação, Paulo combina conhecimento teórico com uma prática diversificada. Seu trabalho abrange criatividade e inovação, design thinking, lean startup, design de serviços, marketing e prototipagem de negócios, além de lecionar e orientar projetos em cursos de graduação e pós-graduação na FATEC, ESPM, ESEG e MBA USP ESALQ.