Nos últimos anos tenho sido crítico à ilusão criada pelos processos midiáticos digitais, que cria maquiagens tão poderosas quanto inconsistentes, tratando o internauta-cidadão-consumidor como um debiloide de plantão a ser capturado e catequizado, e não raro, completamente enganado.
Temos no mundo uma vivência de banda larga de menos de 25 anos – uma curva de aprendizagem pequena considerando que a grande massa de consumidores acessa a rede somente com smartphones, ainda não populares antes de 2014/2015… ou seja, ainda estamos engatinhando nas redes, mas já podemos tirar aprendizados interessantes:
NINGUÉM SEPARA O JOIO DO TRIGO?
Os canais e estratégias de ofertas verdadeiras, de empresas sérias, são exatamente os mesmos de quem te oferece tônico capilar, jogo do tigrinho, sistemas de dieta, coaching do milênio e o escambau. Difícil perceber a diferença entre uma oferta de serviços ou ideia confiável no meio de milhares de especuladores e estelionatários digitais. Aliás o meio digital facilitou incrivelmente o crime e a contravenção, turbinado por canais “paralelos” de notícias “de verdade” e uma horda de influencers de todos gabaritos, uma babel de estontear até o mais atento e experiente internauta.
CLIENTE NO CENTRO?
O conceito fartamente propagado dos 4 Cs, em contraponto ao tradicional formato dos 4 Ps do marketing crava a verdade: O CLIENTE NO CENTRO! Até parece que estamos reinventando o marketing, pois o cliente sempre esteve no centro – os 4 Ps eram para quem, cara pálida??? É verdade que no meio digital redesenhamos conceitos, mas tendo a encarar a internet como mídia e não como novo marketing – mudamos a forma de comunicar, vender e distribuir, mas o cliente continua com percepções tradicionais em relação ao produto/serviço e seu custo benefício – o cliente sente-se enganado e frustrado quando é tratado como uma “persona” por algum algoritmo – se é o cliente quem precisa se adaptar ao novo sistema/modelo, ele deixou de ser o centro (ou nunca foi) e a credibilidade de quem vende conceitos falsos ou genéricos como soluções personalizadas, perderá força, ou demandará muito investimento em comunicação, como cabe aos produtos ruins…
MENTIRAS VIRAM VERDADES?
Vi um anúncio sobre comunicação digital que vendia a metodologia para triagem de informações verdadeiras e incremento de credibilidade na construção de narrativas digitais – R$ 980,00 o workshop de 4 horas (on line) e 3 x R$ 45,00 o e-book. Como não li o e-book, fiquei sem ferramentas para avaliar a oferta…!
Um conhecido meu está vendendo tônico capilar para carecas – R$ 40,00 o frasco (ou 3 por R$ 100,00) – nunca soube que exista patente disso, esta que é a Meca de todas indústrias de beleza e farmacêuticas!! Mas tá vendendo…!!!!!
E ainda há quem acredite que nosso sistema eleitoral é falho, inseguro, e que toda eleição que a direita não ganha foi fraudada (as que eles ganham ficam fora de contestação). Mas se há justiça real, teremos crimes reais a serem apurados, expondo quem se fartou nos últimos anos de utilizar mídias digitais para vender inverdades sobre a democracia, as instituições, o país, e promover a perspectiva de um regime similar a uma Venezuela brasileira… a verdade o tempo dirá (!?)
CADEIAS DE VALOR?
O que de fato nossos clientes desejam? A grande virtude dos meios digitais é fornecer múltiplas ferramentas de consulta e acompanhamento, para formação de massa crítica de consumidores “de verdade” – os nichos com quem desejamos interagir e conseguimos criar ativos valorosos para nossos produtos e serviços especializados. Há muitos negócios voláteis, que se lastreiam em volumes de faturamento/transações (ex. workplaces, plataformas de educação on line), sem intenção de consolidar marca ou reconhecimento de mercado – apenas cumprem sua função de capital especulativo para eventual revenda ou fusão – considero estes protagonistas uma categoria diferenciada de investidores digitais, mas não consigo nominá-los como empreendedores!
Concebo o empreendedorismo como um processo de transformação interna (realização pessoal) e externa (transformação do meio) – o empreendedorismo só existe quando compreendemos que o retorno financeiro é consequência do sucesso de nosso empreendimento, e não sua razão de existir! Carteira ativa de clientes, metodologias reconhecidas, feedbacks positivos, patrimônio material e imaterial, marca forte , reconhecida e…desejada!
PRECISAMOS DE MENTORES?
Informação só vira conhecimento quando acessada E experimentada. Ninguém prova valor só por ter acesso a dados da babel digital. Essa narrativa não me convence, porque é morna, e me dá vômito! Rechaço quem venda verdades ou futurismos, sem ao menos ter experimentado o risco de empreender, aprender ou ensinar. São habilidades e talentos que não posso desprezar – sou educador e empreendedor, vivi parte da minha vida em consultoria, treinamento e gestão de projetos – venho de uma família de educadores e empresários, que ralaram muito, que ganharam ou perderam, como ocorre no mundo real! Tenho negócios de verdade, em comércio e serviços, com funcionários, ativos, e todo desafio de atrair, conquistar e manter clientes.
Longe de desmerecer os milhares de empreendedores digitais, ou ignorar a potência que significa o meio digital nos negócios, fecho este artigo com uma reflexão: quanto valem os conselhos de quem tem o mérito de angariar 5 milhões de seguidores, e está na mira da polícia federal por evasão de divisas, enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro, associação criminosa etc., etc.??
POR FIM…
Como eu costumo dizer, abre mão do glamour digital quem não precisa falsificar o próprio talento! Eu sigo correndo riscos no mundo real, nos negócios físicos, tradicionais ou inovadores; os novos negócios digitais são atrativos, e potencialmente rentáveis, e demandam a correta avaliação de riscos e custo-benefício, no melhor estilo do velho marketing! Sem pressa, com o posicionamento estratégico correto, o mundo é apenas o limite para quem aventura no digital. É preciso entender para intervir, arriscar as próprias experiências, sem confiar plenamente nos duendes de plantão. Afinal, quem paga tuas contas?? E como diria Boris Casoy, durma com um barulho desses.
Empreendedor social, consultor empresarial, educador e músico, pai da Mariana e cidadão de Atibaia. Possui mais de 40 anos de trajetória profissional transitada entre o meio corporativo e o terceiro setor. Atualmente é dirigente da ONG Mater Dei de Atibaia-SP e violonista do grupo Sentido do Samba.