“Existe aquela frase: ‘é preciso uma aldeia para criar uma criança’. Também é preciso uma aldeia para destruí-la.”
Essa frase dita por Sebastián Lelio, co-diretor da minissérie Adolescência, resume com sensibilidade o que muitos de nós já pensamos: Ninguém cresce (ou se perde) sozinho.
Somos moldados por nossas famílias, nossos círculos de amizade, pelas instituições que frequentamos e pelas ideias às quais somos expostos.
E se isso vale para adolescentes como Jamie, o protagonista da série, também vale para as novas gerações que estão entrando no mercado de trabalho agora.
Por isso, Adolescência não é apenas uma história sobre um garoto que é acusado de homicídio. É um convite à reflexão sobre o que realmente significa estar presente, ouvir e entender quem vive uma realidade diferente da nossa. E esse convite vale para famílias, escolas e, sem dúvida, para as empresas.
Sobre a série: O que é adolescência, da Netflix?

A vida da família Miller muda drasticamente quando Jamie (Owen Cooper), de 13 anos, é preso sob a acusação de assassinar uma colega de escola. Seu pai, Eddie (Stephen Graham), luta para compreender o que aconteceu, enquanto a psicóloga Briony Ariston (Erin Doherty) tenta desvendar a mente do garoto. O inspetor Luke Bascombe (Ashley Walters) lidera a investigação, determinado a descobrir a verdade por trás do crime. À medida que o caso avança, segredos são revelados e a linha entre inocência e culpa se torna cada vez mais tênue. A pressão da mídia e a opinião pública transformam a vida dos Miller em um pesadelo, colocando em xeque os laços familiares e a confiança entre pai e filho. Mas o que começa como uma busca física logo se revela uma jornada mais profunda: Jamie vivia em um universo digital cheio de códigos, símbolos e subculturas que poucos adultos ao seu redor conseguiam compreender.
Ao longo dos episódios, percebemos que Jamie foi impactado por diversos fatores:
- Um sistema educacional que falhou em apoiá-lo;
- Pais que não conseguiam enxergar suas necessidades emocionais;
- Amigos que talvez não tenham alcançado sua dor;
- A química do seu próprio cérebro;
- E as ideias — muitas delas perigosas — às quais foi exposto nas redes.
Todos esses fatores estavam em jogo. E é sobre isso que a série fala com tanta delicadeza.
A comunicação entre gerações é o centro da história!
Uma das cenas mais marcantes de Adolescência mostra um diálogo entre um policial e seu filho adolescentes que estuda na mesma escola.
O policial tenta decifrar as mensagens trocadas nas redes sociais, mas se perde ao tentar aplicar suas referências, como as pílulas azul e vermelha do filme Matrix, em um contexto que não se aplica.
O adolescente, então, explica que ele nunca assistiu a Matrix.
Para ele, a pílula vermelha tem outro significado: está ligada à “Manosfera”, comunidades digitais que promovem ideologias radicais, muitas vezes misóginas.

Essa cena revela como uma comunicação falha pode gerar mal-entendidos e perder informações valiosas. O policial estava de fato tentando entender, mas seu referencial não era o mesmo daquele jovem.
Quantas vezes isso acontece também nas empresas.
O desafio de dialogar com as novas gerações vai muito além de saber o significado de emojis ou memes.
Trata-se de compreender o contexto em que esses símbolos surgem e o que eles querem expressar.
Na série, o adolescente fala sobre o uso de alguns emojis que, para os adultos, podem parecer simples ou banais:
Dinamite: representa frustração extrema, frequentemente usado em conversas sobre o sentimento de exclusão de quem se considera um incel.
Pílula vermelha: nas subculturas digitais, representa uma visão radicalizada de mundo, desconectada da referência do filme Matrix.
100: associado à ideia da “Regra 80/20”, que sugere que 80% das mulheres se interessam apenas pelos 20% dos homens mais desejados, um conceito popular em fóruns de masculinidade extrema.
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: cada cor de coração tem um significado diferente — amor, tesão, interesse, amizade… e uma resposta errada pode mudar uma conversa inteira.
Esses exemplos mostram como a comunicação digital das novas gerações têm nuances e códigos próprios. Nas empresas, isso não significa que líderes e gestores precisem adotar a mesma linguagem, mas que precisam aprender a decodificá-la. É uma nova forma de escuta, mais atenta e aberta.
Mas Gabriel, o que isso tem a ver com o mundo corporativo?
Tudo!
As novas gerações trazem consigo formas diferentes de se expressar, valores e prioridades que muitas vezes parecem distantes da lógica das gerações anteriores. Isso impacta diretamente:
- O ambiente de trabalho;
- A comunicação interna;
- As relações de liderança;
- E a retenção de talentos.
Muitos jovens não se sentem compreendidos e, às vezes, nem ouvidos.
E isso pode gerar afastamento, desmotivação e até silêncios que escondem desafios emocionais importantes.
Voltando à frase do codiretor da série, podemos refletir:
“É preciso uma aldeia para criar uma criança. Também é preciso uma aldeia para destruí-la.”
No mundo corporativo, também é assim.
As empresas fazem parte do ecossistema que influencia as novas gerações.
Elas têm a chance de serem espaços que acolhem, desenvolvem e potencializam esses jovens talentos ou, sem querer, podem reforçar as barreiras que os afastam.
A série nos lembra que, muitas vezes, as gerações não se afastam porque querem, mas porque não encontram pontes para atravessar. A falta de compreensão pode criar muros invisíveis, mesmo quando há boa vontade de ambos os lados. Cabe às empresas se posicionarem como construtoras dessas pontes. Para formar equipes diversas, plurais e conectadas, onde cada geração contribua com sua visão e energia.
Adolescência é um convite a olhar para além da superfície e entender o que está sendo comunicado pelas novas gerações.
Assim como na série, quando conseguimos decifrar esses códigos, encontramos não só respostas, mas oportunidades de construir relações mais sólidas, verdadeiras e transformadoras.
Que tal começar essa conversa dentro da sua empresa?

Palestrante, comunicador e entusiasta das gerações. Estuda recursos humanos e empreende nas áreas de Comunicação e Marketing. Criou a primeira agência de marketing do Brasil focada em comunicação geracional (Pós Z Company), sediada em Bragança Paulista, onde atualmente só contrata colaboradores da Geração Z e Geração Alpha. Dedica-se a construir um ecossistema de comunicação geracional para preparar jovens para o mercado de trabalho futuro e conscientizar as empresas para receberem esses jovens com sua nova agenda e visão de mundo.