As fake-falácias de direita ou esquerda propagadas pelas duas forças políticas estão mais para divertir que para gerar pânico nos cidadãos, mas o Brasil continua com grandes desafios estruturais que podem comprometer nosso projeto de nação, independente de quem venha a ser presidente.
É difícil digerir o festival de mentiras ou verdades torcidas, geradas pela polarização política: são ameaças, acusações, declarações amorais, atitudes criminosas e baixezas incompatíveis com o tamanho do desafio dos próximos 4 anos. Uma guerra santa inventada entre caricaturas de direita ou esquerda, onde no fundo todos apenas querem…o poder!
Sou privilegiado – nasci numa família de classe média, de empresários e professores, logo convivo desde dedo com os desafios de empreender e ensinar no Brasil. Batalhas hercúleas.
Como empreendedor-empresário desde os meus 22 anos, conheço bem a dificuldade de acessar mercados, vencer burocracias, lidar com incertezas de cenário institucional, conviver com protecionismos, alta carga tributária e pouca infraestrutura do Estado. Ainda assim, acredito na livre-iniciativa, e respeito quem assume riscos ao produzir bens e serviços, colocando seus talentos à serviços do capital, gerando empresas, empregos e riqueza.
Aprendi com as vivências dos meus ancestrais educadores, o valor do conhecimento, as dificuldades dos alunos das periferias, as profundas diferenças que dividem nosso país há mais de 500 anos, as lutas injustas entre capital e trabalho, feitores e escravos, letrados e néscios, fome e abundância. Respeito assim, profundamente, quem defende suas ideias e clama seus direitos, estabelecidos universalmente pelos países que acreditam nos direitos humanos como um valor que nos distingue da barbárie e da violência.
Presenciei os desafios dos governos de centro-esquerda desde 1995, quando o socialista Fernando Henrique precisou se mascarar de neoliberal para garantir oito anos de governabilidade numa era de estabilidade monetária e avanços sociais e econômicos. O político de esquerda moderada que mais promoveu privatizações no país (do PSDB inimigo mortal do PT, hoje aliadíssimos). Nos 8 anos de FHC o Brasil não acabou e… melhorou!
Também vivemos quase uma década e meia com governos petistas, que promoveram políticas públicas consistentes no campo dos direitos das mulheres, do meio ambiente, da segurança alimentar, dos idosos, da agricultura familiar, habitação social e cultura, assistência social e transferência de renda (projetos aprovados pelo mesmo congresso demagogo de FHC, inclusive com voto do então deputado da base, Jair Bolsonaro). O Brasil não acabou, e melhorou.
Tivemos uma transição política gerada pelo impeachment da Dilma, operada pelo então “nacionalista” Michel Temer, (o Iago tupiniquim que inventou o movimento pendular do centro-esquerda ao centro-direita), onde convivemos poucos meses com um nervoso balcão de negócios parlamentares, com o auge da lava-jato, geramos uma oportuna reforma trabalhista e desmontamos toda política de agricultura familiar. Mas o Brasil não acabou – e tem uma CLT mais adequada ao século 21!
E vem o Messias, catapultado do baixo clero para ser o ultranacionalista salvador, eleito legitimamente pelo processo democrático e voto direto, consolidado pelos 24 anos de governos “de esquerda”, (que curiosamente não transformaram o Brasil numa Venezuela…)!!! O Messias trabalhou uma reforma previdenciária, enfrentou uma pandemia mundial, fortaleceu a imagem do agrobusiness brasileiro, promoveu uma revolução digital nos serviços públicos, acabou com os ministérios da cultura, trabalho, fez diversos estragos na política ambiental, social e habitacional, criou o orçamento secreto e o Auxílio Brasil. E adivinhem: o Brasil não acabou! Só está supostamente mais confuso, armado e evangélico!
Repito sempre que não me incomodam as pautas de direita ou esquerda – precisamos desta diversidade de forças para estabelecer equilíbrios entre os interesses sociais e econômicos – não há uma coisa sem a outra – a palavra SUSTENTABILIDADE deveria ser sinônimo de BOM SENSO, convergindo dialeticamente nossas diferentes percepções e interesses da sociedade, numa saudável zona de conflitos, onde democraticamente se constrói uma sociedade mais igualitária.
O Brasil destas falsas narrativas de esquerda ou direita, terá como lidar com a fome REAL de mais de 30 milhões de pessoas? Como integrar nossas políticas de desenvolvimento agrícola de pequeno E grande porte (para não sermos os reis da soja e termos que importar alface…)? Como manter mais de 120 milhões de trabalhadores ativos no mundo dos negócios digitais? Como podemos deixar de ser um dos países com maior desigualdade social do mundo? Como vamos parar ou reduzir o feminicídio crônico, a homofobia, o racismo, a intolerância religiosa, a violência policial?
O Brasil precisa ser “terrivelmente” inclusivo e diverso! Essa é a nossa formação histórica e genética! O Brasil precisa ser de todas religiões, de Santo Agostinho a Mãe Menininha… o Brasil precisa da força dos pequenos e brilhantes empreendedores, de investimento em inovação e pesquisa, no fomento de startups ousadas, de fortalecer a agricultura familiar sustentável, de criar sólidas políticas de exportação, de premiar o risco com juros baixos e crédito facilitado, deixando o conceito que empresário brasileiro é o cara de terno verde-amarelo que importa toneladas de produtos de baixa qualidade do extremo oriente, e vende em lojas com a icônica Statue of Liberty. Wake up Brazil!!!
Que venha a “direita” do saudável fortalecimento do capital, da meritocracia do risco, da preservação de valores conservadores, que compõe parte significativa de nossa identidade.
Que seja também a “esquerda” de nossos direitos minoritários, da inclusão social e da diversidade sociocultural, própria dos países progressistas e democráticos.
Que seja o Povo Brasileiro, democracia forjada de Monteiro Lobato a Anitta, de Darcy Ribeiro a Dercy Gonçalves. Incluídos, elitizados, favelados, remediados, catedráticos e fubangos, pescadores e parasitas. O Brasil não vai acabar! Ou não somos todos herdeiros de Macunaíma?!?
Empreendedor social, consultor empresarial, educador e músico, pai da Mariana e cidadão de Atibaia. Possui mais de 40 anos de trajetória profissional transitada entre o meio corporativo e o terceiro setor. Atualmente é dirigente da ONG Mater Dei de Atibaia-SP e violonista do grupo Sentido do Samba.
O Brasil não vai acabar, mas precisamos de um novo Avatar.