Na volta do Papo de Sábado, conversamos com Thaís de Cássia Oliveira, Diretora do Departamento da Mulher, da Secretaria de Assistência Social (SADS). Ela fala sobre sua trajetória, sobre o trabalho na SADS e sobre o lançamento do 1° Concurso Destaque Mulheres Profissionais de Atibaia

JVN: Thaís, vamos começar conhecendo um pouco mais sobre você e sua origem. Fale sobre você e sua relação com Atibaia.

Thaís: Me chamo Thaís de Cássia Oliveira, nascida há 39 anos na cidade de Atibaia. Minha família materna é toda atibaiana (meu avô descendente de indígenas que deram origem a cidade e minha avó foi servente de pedreiro do seu pai, ambos ajudaram na construção da escola Major Alvim). E meu pai migrou de Minas Gerais para tentar a vida em São Paulo e acabou conhecendo minha mãe em Atibaia.

JVN: Agora gostaríamos de conhecer um pouco mais sobre sua formação e sua trajetória profissional. Você poderia compartilhar um pouco da sua história conosco?

Thaís: Claro! Apenas faço uma observação que não conseguirei resumir – admiro demais minha trajetória e vou aproveitar a ‘escrita curativa’. Ignorem por gentileza o ‘livro’ abaixo (risos).

*Minha formação: Sou Farmacêutica, Professora da Educação Básica de Ciências e de Química; Professora de Ensino Técnico de Farmacologia e disciplinas relativas à Saúde; Professora Universitária para os cursos de Licenciatura; Professora de Yoga para crianças e adultos; Terapeuta Tântrica para Mulheres; Mediadora de Retiros e Vivências Holísticas; Empresária no ramo de Sucos Naturais; Diretora do Departamento da Mulher; Mãe solo da Maria Lua. 

*Minha trajetória: Minha carreira profissional iniciou-se aos 9 anos de idade quando assumi o balcão e o caixa no empreendimento da minha mãe (um projeto de restaurante), enquanto ela assumia sozinha a cozinha e meu pai trabalhava fora (para não agravar seu alcoolismo).

Aos 15 anos, já cansada de trabalhar de domingo a domingo, tive meu primeiro emprego registrada na Farmácia e passei a estudar à noite. Lá desenvolvi muitas habilidades, desde tirar pó até tirar berne (e como eu me realizava com isso).

No entanto, no final do Ensino Médio fui contemplada pela escola estadual Aguiar Peçanha (a qual realizei toda a minha educação básica) com uma inscrição de vestibular para Pedagogia, na UNESP. Certa de que não conseguiria passar, aceitei o presente e fui, então, sozinha para a capital, conhecer o terminal Tietê, andar de metrô e fazer a maratona do vestibular.

Para surpresa de toda a comunidade, PASSEI, e novamente fui sozinha, de ônibus, fazer minha matrícula num lugar totalmente desconhecido (voltei de ônibus, 8h de viagem, encharcada e cheirando a ovos, por conta do trote sofrido na matrícula). 

Saí, então, aos 18 anos de casa e fui morar sozinha em Marília para cursar Pedagogia. Era o sonho de minha mãe: ser professora. Mas a mesma não pôde terminar nem o ensino médio. Na época, meu avô dizia que mulher não tinha que estudar e, sim, trabalhar.

Não concluí a graduação pelas dificuldades encontradas no caminho. A mais forte delas é que eu não tinha um arsenal cultural e intelectual para acompanhar meus colegas de classe. Me sentia totalmente burra e num ambiente alheio a tudo que eu vivi até então.

Voltei para Atibaia, agora já morando sozinha, na periferia que era onde meu salário da Drogaria conseguia custear e fui fazer cursinhos pré-vestibulares comunitários, para tentar realizar o meu desejo de me formar para cuidar da saúde das pessoas: amava orientar e ajudar, principalmente minha avó nas suas questões de saúde, e ela se orgulhava muito de mim.

Foi então que saí de Atibaia pela segunda vez, aos 20 anos, ao passar em primeiro lugar no vestibular da USF de Campinas como bolsista no curso de Farmácia. Ao mesmo tempo, fiz Iniciação Científica na UNICAMP. Foi um sonho, mas tive muitas dificuldades. Só que nada me impediu de ser a primeira da família, dentre mais de 20 primos, a conquistar o diploma de curso superior. Infelizmente minha avó faleceu antes da minha formatura.

Iniciei a carreira na indústria farmacêutica e me decepcionei muito com a relação dinheiro x acesso à saúde. Meses depois minha mãe teve um diagnóstico de câncer de mama e retornei para Atibaia em 2010, para cuidar e acompanhá-la no tratamento que durou nove anos e meio. Dividia meio período do dia com hospitais, tratamento, idas e vindas a outras cidades para radioterapia, e outro período trabalhando na Drogaria, agora como farmacêutica responsável, a mesma a qual deixei para estudar.

No ano seguinte engravidei de um affair (conheci no último dia de carnaval, ao sair para tentar distrair a cabeça e todas as mudanças de planos repentinas, além do medo da morte da minha mãe). Com uma gravidez surpresa e com a grande carga de responsabilidades, fiz uma prova na Diretoria de Ensino de Bragança Paulista, para trabalhar como professora eventual e deixar o balcão da Farmácia (motivada pelos avós paternos da minha filha que ainda não havia nascido). Para minha surpresa, fui tão bem colocada que já iniciei com turma fechada na considerada melhor escola pública da cidade, na época, José Alvim. Lecionei lá até minha filha nascer, em 2012. Após isso, inicie a graduação de licenciatura em Química, na UNIFRAN. Logo abandonei a farmácia, era professora concursada e efetiva de Química na mesma escola.

Morando apenas eu e minha filha, dividia meus dias entre aulas, hospitais, maternidade, e, então um Mestrado em Ensino de Ciências, no Instituto Federal de São Paulo (foi a fase mais difícil da minha vida). Em 2016, me formei Mestre em Ensino e minha dissertação me permitiu conhecer muitas cidades do Brasil e do exterior, como Portugal, apresentando para o mundo meu trabalho sobre o ensino de química na escola referida acima. Tudo isso graças a rede de apoio de mulheres incríveis que o Universo sempre colocou em meu caminho. Então as portas se abriram e fui lecionar em escolas técnicas de farmácia e enfermagem, curso de cuidadores, também na universidade para futuros professores, além da escola da minha filha, para que a mesma tivesse bolsa.

Foi quando me mudei para a casa da minha mãe, pois o caso estava se agravando. Além de lecionar em cinco locais diferentes, passamos a morar nós três: minha mãe, eu e minha filha. Após muita luta e longas estadias em hospital, tive que me afastar de um trabalho e me demiti de outro. Lecionava à noite, retornava para o hospital de madrugada e passava o dia com minha mãe. Minha filha pulava de casa em casa de amigas, aprendendo desde muito nova (6 anos de idade) que mulheres lutam, que autonomia é sobrevivência e que amigos são anjos sem asas. Até que em março de 2019, após conseguir ver sua neta completar 7 anos (era uma meta pra ela), minha mãe faleceu e ficamos apenas eu e Lua.

Estávamos reaprendendo a viver, passei para a Coordenação Pedagógica da escola pública a qual estudei a vida toda, e nos deparamos com uma pandemia. Fiquei apenas com o emprego efetivo da escola estadual e vivi um tremendo desafio: motivar a todos, quando todos estavam desesperados. Coordenei uma escola pública em meio ao caos; dei aulas online para crianças de 05 a 10 anos e fui tutora do ensino EAD da USF para os licenciandos de todo o Brasil.

Nesse mesmo ano recebi o convite para sair candidata a vereadora. Neguei por diversas vezes, pois como uma grande parte do povo brasileiro, dizia que não gostava de política e de político. Mas o que eu fazia era politizar alunos, defender ideologias, enfim, sempre fui um ser político no meu entorno.

Então, sem grandes expectativas e nenhum conhecimento, fui para a rua fazer campanha. E, para surpresa de todos, fui a terceira mulher mais votada de Atibaia. Depois disso, fui convidada a compor o governo como Diretora do Departamento da Mulher na Prefeitura de Atibaia no final de 2021, onde fiquei por um ano, aprendendo e entendendo sobre políticas públicas e papéis dos agentes políticos nos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Trabalhando na Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social testemunhei de perto as mazelas que algumas mulheres vivem, como extrema pobreza e os diversos tipos de violência. Trabalhei por um ano e me encontrei, principalmente nesse período, por estar como gestora do Centro de Referência da Mulher, atendendo mulheres vítimas de violência, atuando fortemente em favor do respeito e do acolhimento das mais diferentes instâncias pelas quais essa mulher era atendida. 

Fato esse que me pegava na alma, na minha criança interior, afinal minha mãe também era vítima de violência, assim como eu vim a ser quando adulta. Foi um ano de muitas conquistas e também de acompanhar muitas dores. Logo entreguei meu cargo efetivo na educação pública estadual, pois queria continuar esse trabalho que pra mim era a minha missão de vida.

Porém, fui desligada do cargo da Prefeitura, bem como muitos outros, por questões judiciais. Como provedora da minha família, iniciei no universo do empreendedorismo, profissionalizando minhas Práticas de Yoga, minha formação em Terapia Tântrica e criei a Namastê Sucos Naturais – 7 sabores específicos para cada ponto de energia no corpo (os Chakras), combinado frutas e vegetais que contribuíssem com o alinhamento dos mesmos.

Enfim, há alguns meses, fui convidada a retornar para esta função, devido ao bom trabalho desempenhado anteriormente. E agora estou à frente das ações em caráter de prevenção a violência contra a mulher, ou seja, promover a igualdade gênero; dar subsídios e fomentar o desenvolvimento da autonomia, da independência (financeira e emocional), da saúde (física e psíquica), por meio de ações, projetos e políticas públicas.

JVN: Qual sua função na Diretoria da Mulher da Prefeitura de Atibaia e qual a missão dessa diretoria?

Thaís: Meu trabalho se concentra especialmente em planejar, monitorar e avaliar as políticas públicas, as ações, os programas e os serviços que dizem respeito à prevenção da violência contra meninas e mulheres, de acordo com a política de governo municipal. 

JVN: E como nasceu a ideia do Concurso Destaque Mulheres de Atibaia?

Thaís: No final de 2023 iniciamos o planejamento das ações para o Mês da Mulher de Atibaia de 2024. No ano de 2022 fizemos várias ações que contemplavam as mulheres que estavam iniciando no mundo do empreendedorismo, em que oferecemos capacitações gratuitas, palestras presenciais e online e criamos até a 1ª Feira de Mulheres, juntamente com o Concerto Voz de Mulher e foi um sucesso. Muitas mulheres puderam ter a experiência, a grande maioria pela 1ª vez, de expor e vender seus produtos numa feira aberta com grande público. A partir daí, nasceu a Feira de Artesanato do Balneário e alguns grupos foram criados com mulheres empreendedoras.

Portanto, para esse ano, a programação também tinha de contemplar essas mulheres. Em conversa com uma amiga empreendedora e administradora de um desses grupos, surgiu a ideia de um concurso para dar visibilidade às empreendedoras da cidade, aliás ampliei e incluí as professoras e empregadas domésticas, que não são necessariamente empreendedoras, mas merecem esse reconhecimento, justificando o título do concurso: “Destaque Mulheres Profissionais de Atibaia 2024”.

Thaís de Cássia (Diretora do Departamento da Mulher da SADS), André Devecchi (Secretário Adjunto da SEDEC) e André Elesbão (Diretor do Departamento de Indústria e Comércio da SEDEC)

Na mesma semana, visualizei uma chamada no site da Prefeitura sobre o resultado do Festival Gastronômico Comida de Boteco de Atibaia edição 2023, e naquele momento pensei em utilizar o formato de votação do Festival para o Concurso. Então, iniciei uma maratona de reuniões para verificar a possibilidade da ideia do concurso para as mulheres. Foram diversas conversas com a Secretaria de Turismo, Departamento de Tecnologia da Informação, Secretaria de Comunicação, Departamento Jurídico, Secretaria de Desenvolvimento Econômico, além de pesquisas via internet e inúmeras consultas com amigas do ramo.

JVN: Conte como este prêmio vai funcionar e quem pode concorrer.

Thaís: O concurso será realizado em duas fases, ambas de maneira digital: 

1ª FASE – Inscrições das candidatas (05/02 a 25/02) no site da prefeitura da Estância de Atibaia: https://atibaia.sp.gov.br/destaque-mulheres-profissionais-de-atibaia

Podem se candidatar profissionais do gênero feminino (cisgênero e transgênero) que exerçam suas atividades profissionais na cidade de Atibaia.

Ao fazer a inscrição, a candidata, além de preencher seus dados, escolhe uma categoria, a qual concorrerá com outras inscritas e deverá também inserir uma foto do seu rosto para publicarmos na plataforma de votação.

2ª FASE – Votação pública (04/03 a 20/03) também no site da Prefeitura, em que qualquer pessoa com CPF poderá votar nas profissionais inscritas e, assim, eleger os destaques deste ano. 

O concurso será realizado pelo Departamento da Mulher, da Secretaria de Assistência Social (SADS), em parceria com as secretarias de Turismo e Desenvolvimento Econômico (SEDEC).

JVN: E quais as expectativas com esse prêmio – como você acredita que ele deva impactar as profissionais de Atibaia?

Thaís: O 1º Concurso Destaque Mulheres Profissionais de Atibaia, edição 2024, dará visibilidade as profissionais inscritas por meio da divulgação da sua imagem (de maneira gratuita) e do seu nome na plataforma de votação, a qual esperamos que tenha muitos acessos, possibilitando aos eleitores conhecer todas as mulheres inscritas naquela categoria.

Além de reconhecer o trabalho dessas mulheres por meio da opinião popular, buscamos valorizando as profissionais da cidade em diversas áreas e inspirar outras mulheres a investir e a não desistir dos seus sonhos.

JVN: Quando e como será a cerimônia de reconhecimento das eleitas?

Thaís: Bem, não teremos nenhuma premiação com bens materiais – optamos por algo muito valoroso: o reconhecimento da população, que se dará por meio de um certificado impresso. A entrega dos certificados será em cerimônia solene no dia 26 de março, às 19h, no Cine Itá Cultural, encerrando as ações do Mês da Mulher. Convidaremos as três mulheres mais votadas de cada categoria para participarem do evento e receberem seus certificados. E, para dar mais emoção a esse dia, revelaremos apenas na hora da entrega o primeiro lugar, que subirá ao palco receber os aplausos da plateia.

JVN: E quanto a outros projetos da Diretoria da Mulher – o que mais vem por aí em 2024?

Thaís: Bom, ainda falando da Programação do Mês da Mulher, está em construção na nossa diretoria:

  • Dia da Mulher: cada Unidade Básica de Saúde terá um dia voltado a exames específicos para público feminino, além de palestras e dinâmicas terapêuticas.
  • Concerto Voz de Mulher 2024: artistas atibaianas que se inscreveram através de chamamento público e passaram por aprovação técnica, irão “dar um show” em tributo a Rita Lee.
  • Oficina de Empreendedorismo: Seja uma empresária criativa no mundo dos negócios.
  • Rodada de Negócios – Edição Especial Mulher: por meio de inscrição empreendedoras e empreendedores, responsáveis por pequenas empresas ou grandes indústrias, terão oportunidade de apresentar seus produtos / serviços ampliando seu networking, fechando parcerias e aumentando resultados.
  • Marcha Mundial das Mulheres e Sarau aberto: que será realizado no Dia Internacional da Mulher.
  • Mulheres vão ao teatro: voltada às mulheres em situação de vulnerabilidade, cadastradas nos Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Centro de Referência da Mulher (CRM) e Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua.

Quanto às ações de prevenção à violência de gênero (para pessoas em situação de violência ou não), temos em desenvolvimento durante todo o ano:

  • Grupo de Mulheres em diferentes bairros com aulas de dança coreografadas e palestras mensais sobre temáticas do universo feminino.
  • Roda de Conversa Aberta para Mulheres – encontros semanais.
  • Roda de Conversa Aberta para Homens – encontros semanais.
  • Campanhas Educativas nas escolas públicas estaduais.

E temos também as ações realizadas no enfrentamento à violência de gênero – Centro de Referência da Mulher de Atibaia:

  • Atendimento psicossocial às mulheres vítimas de violência por equipe técnica especializada (com ou sem boletim de ocorrência, estando separada ou junto com o agressor).
  • Atendimento jurídico à essas mulheres.
  • Arteterapia em grupo ou individual para mulheres assistidas pelo CRM.
  • Grupo Reflexivo para autores de violência.
  • Capacitação para a Rede de Proteção.

* Thaís de Cássia Oliveira – atual Diretora do Departamento da Mulher da Secretaria de Assistência Social (SADS) – é Farmacêutica, Professora da Educação Básica de Ciências e de Química; Professora de Ensino Técnico de Farmacologia e disciplinas relativas à Saúde; Professora Universitária para os cursos de Licenciatura; Professora de Yoga para crianças e adultos; Terapeuta Tântrica para Mulheres; Mediadora de Retiros e Vivências Holísticas; Empresária no ramo de Sucos Naturais.

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