Estudo da Diversitera aponta que profissionais com deficiência recebem menos promoções do que colegas sem deficiência, mesmo quando possuem o mesmo nível de formação, evidenciando barreiras estruturais no ambiente corporativo
Apesar dos avanços nas políticas de inclusão, pessoas com deficiência (PcD) continuam enfrentando dificuldades significativas para progredir no mercado de trabalho. Um levantamento realizado pela Diversitera, com base na plataforma Diversitrack, analisou dados de 90 mil funcionários em 50 empresas de médio e grande porte entre junho de 2022 e julho de 2024. Os resultados evidenciam uma exclusão estrutural que vai além da contratação, afetando diretamente as oportunidades de crescimento profissional.
Embora representem 4,6% da força de trabalho nas empresas avaliadas, pessoas com deficiência receberam, em média, 10% menos promoções nos últimos dois anos, em comparação com colegas sem deficiência. A disparidade aumenta entre profissionais com maior qualificação: PcD com ensino superior foram promovidas 9% menos, enquanto aquelas com pós-graduação receberam 14% menos promoções que seus pares sem deficiência e com o mesmo nível de formação.
Além disso, a pesquisa mostra que a maioria das PcD está concentrada em cargos de entrada. Enquanto 43% ocupam posições administrativas operacionais, como auxiliares administrativos e assistentes, apenas 22% das pessoas sem deficiência desempenham essas funções. Apesar disso, 33% das PcD em cargos administrativos possuem nível educacional igual ou superior ao bacharelado, superando os 23% de pessoas sem deficiência nas mesmas funções.
Barreiras à liderança e inclusão limitada
As barreiras enfrentadas por pessoas com deficiência também se refletem nos cargos de liderança. Apenas 1,5% das PcD estão na alta liderança, enquanto 2,2% ocupam posições de média liderança, números que revelam uma sub-representação preocupante.
Para Marcus Kerekes, especialista em inclusão corporativa e fundador da Diversitera, os dados apontam para um problema sistêmico que exige atenção. “A inclusão não pode se limitar a preencher vagas demandadas pela lei de cotas. Profissionais com deficiência precisam de oportunidades reais de crescer dentro das empresas. O fato de tantos PcD qualificados permanecerem na base da pirâmide hierárquica é um reflexo claro de falhas nos processos de avaliação e na valorização desses talentos”, avalia.
Preferência por deficiências menos aparentes
Outro ponto levantado pela pesquisa é a preferência por pessoas com deficiências menos aparentes, um viés que perpetua a exclusão. Segundo Kerekes, “essa prática silenciosa contribui para a manutenção de barreiras que impedem o avanço das PcD nas hierarquias corporativas”.
Entre os tipos de deficiência mais presentes no mercado de trabalho estão a física/motora (36%), visual (35%), auditiva (16%), intelectual (1,5%) e outros tipos (10%). Apesar dessa diversidade, os dados reforçam que as políticas de inclusão precisam ir além do preenchimento de cotas, promovendo mudanças estruturais que assegurem oportunidades de desenvolvimento e valorização profissional para todos.
Um caminho a ser trilhado
A pesquisa da Diversitera destaca a necessidade urgente de as empresas revisarem suas políticas de inclusão, desde os processos de contratação até as oportunidades de crescimento e liderança. Para construir um mercado de trabalho verdadeiramente inclusivo, é fundamental que as organizações reconheçam e enfrentem os desafios estruturais que continuam a limitar o potencial das pessoas com deficiência no ambiente corporativo.