Olá, leitor(a). Vamos retomar os assuntos abordados no primeiro artigo dessa série e entender mais sobre as características dos investimentos em renda variável?

No artigo anterior, explorei os seguintes temas: principais características dos títulos de renda fixa e de renda variável e a importância de compreender a relação risco-retorno na hora de investir. Também tratei da tributação incidente sobre tais investimentos. Nesse contexto, apresentei medidas de performance do índice Ibovespa (IBOV), Letra do Tesouro Nacional (LTN ou Tesouro Prefixado), Assaí Atacadista (ASAI3) e das ações que apresentam o melhor e o pior nível rentabilidade nos últimos 11 meses: Embraer (EMBR3) e Azul Linhas Aéreas Brasileiras (AZUL4). O objetivo foi explorar, por meio desses casos extremos, o funcionamento do Mercado de Capitais.

O gráfico 1 apresenta os retornos mínimos e máximos da taxa de retorno diário da AZUL4, EMBR3, IBOV e da ASAI3. Observe que a AZUL4 e EMBR3 se destacam. Particularmente, a AZUL4 apresentou grande amplitude nas cotações (diferença entre a taxa de retorno diária máxima e mínima), seguida pela EMBR3. Isso mostra que ambas apresentaram maior nível de risco. No mesmo período, o IBOV e a ASAI3 verificaram menor amplitude. Por exemplo, em determinado dia quem investiu na AZUL4 obteve ganho de mais de R$ 0,22 por R$ aplicado; mas houve um dia em que a perda foi de R$ 0,24. Ao menos no período analisado, isso evidencia o grau de incerteza dessa opção de investimento, quando comparada às demais. Já quem investiu na EMBR3 alcançou resultados entre R$ 0,10 e – R$ 0,07.

Gráfico 1: Retornos mínimos e máximos dos ativos de mercado e de risco entre 02/01 e 29/11.

Uma forma mais eficiente de verificar isso é por meio da medida de volatilidade do retorno desses ativos, o que pode ser feito por meio do desvio padrão (DP). Quanto maior a volatilidade maior o risco da alternativa de investimento, mas também maior a possibilidade de retorno elevado. Enquanto o DP da AZUL4 foi de 4,69%, o DP da EMBR3, IBOV e ASAI3 foram de 2,57%, 0,75% e 0,26%, respectivamente. Esses dados contrastam com o DP da LTN que foi de apenas 0,03%. Na verdade, quanto maior o DP maior a possibilidade de obtenção de retornos muito elevados ou muito baixos.

Como vimos no artigo anterior, tanto a AZUL4 quando a EMBR3 apresentaram elevados níveis de exposição à variação do dólar. Os custos da Azul e suas dívidas estão intimamente relacionadas à variação da taxa de câmbio. Já a Embraer possui grande parcela de seus custos em R$ e suas receitas são cotadas em US$. Finalmente, o resultado dessas empresas divergiu em meio à dinâmica do cenário econômico.

Outra importante medida do grau de exposição ao risco é feita por meio do coeficiente beta do ativo. Esse mede a sensibilidade da variação do preço de uma ação em relação aos movimentos de mercado medidos pelo IBOV. O beta de um ativo mede o que chamamos de risco diversificável ou risco não sistemático. A rigor, o IBOV é um aferido como a média de retorno das ações mais negociadas. No período analisado, esse índice apresentou retorno médio e DP de -0,02% e 0,75%. Isso aconteceu porque o IBOV representa uma carteira de investimentos diversificada e, embora o mercado tenha sofrido nos últimos 11 meses, enquanto as ações de certas empresas apresentam retornos médios negativos outras apresentam retornos médios positivos, se compensando na média.

Importante frisar, como feito no artigo anterior, que o Ibovespa foi o índice que teve a maior redução em 2024 entre as principais bolsas globais, retorno de – 6% ao longo do período, fato que foi acompanhado pelas incertezas quanto aos rumos da Política Econômica do Governo Federal e desvalorização do R$ ante ao US$.

A partir daqui podemos apresentar e discutir o coeficiente beta dos ativos analisados. Conforme a tabela 1, o beta da AZUL4 foi de 2,48. Isso significou que a cada variação de 1% no IBOV as ações da AZUL4 variaram 2,46%; ou seja, dentre os ativos analisados as ações dessa empresa foi a que apresentou maior sensibilidade aos movimentos de mercado. Isso contrasta com os movimentos da EMBR3 e ASAI3. Outro fato verificado é que as variações nas cotações da AZUL4 e ASAI3 estão diretamente associadas às variações no IBOV. Isso é indicado pelo p-Valor desses ativos, pois quando esse é próximo a zero, como regra menor do que 0,05 ou 0,01, é possível afirmar com fundamentação estatística que, de fato, tais variações estão diretamente relacionadas aos movimentos de mercado medidos pelo IBOV.

Tabela 1: Coeficiente beta, erro padrão e p-Valor dos ativos de risco analisados.

Assim, no período e estatisticamente falando, AZUL4 e ASAI3 acompanham diretamente os movimentos do IBOV, mas a EMBR3 não, fato indicado pelo seu p-Valor = 0,30 ≥ 0,05 ou 5%. O que está por traz disso? O mercado usa de maneira eficiente toda a informação disponível e percebeu que no contexto de cambio em alta esse ativo representava uma boa opção de investimento, fazendo a cotação da EMBR3 valorizar, não acompanhando de maneira significativa os movimentos de mercado medidos pelo IBOV.

Finalmente, se o investidor tivesse aplicado todos os seus recursos na AZUL4, EMBR3 e ASAI3 teria obtido, ao longo desses 11 meses, retornos de – 66%, 164% e – 5,91%, respectivamente. No entanto, é possível demonstrar que essa opção seria demasiadamente arriscada, sendo melhor ter diversificado o investimento pois, ao fazer isso, o investidor não ficaria tão exposto ao risco ou volatilidade de um ativo individual, medido pela volatilidade (DP) do ativo. Como diz o ditado, “não ponha todos os ovos na mesma cesta”.

Agora, pasmem: quem investiu apenas em LTN no período obteve retorno médio de 8,9% e esteve exposto a um risco de apenas 0,03%.; no entanto, no médio e longo prazo a renda fixa tende a render menos que a renda variável. Maior exposição ao risco implica em maior retorno no longo prazo e vice-versa.

Embora esse assunto pareça demasiadamente técnico, podemos extrair os seguintes insights do que foi exposto nesse e no artigo anterior.

Quanto maior o retorno médio maior tende a ser a amplitude e a volatilidade de retorno de um ativo. O risco está presente em qualquer alternativa de investimento e, embora investir em títulos de renda fixa, como na LTN, seja menos ariscado, a taxa de retorno costuma ser mais baixa no longo prazo quando comparada à renda variável. Há diversas formas de medir a relação risco-retorno da renda variável, sendo o retorno médio e o desvio padrão a forma mais comum de avaliar tal relação.

Os preços dos ativos e sua variação dependem dos movimentos do mercado e coeficiente beta de uma ação mede a sensibilidade da variação do preço das ações de uma empresa em relação aos movimentos de mercado (medidos pela variação do índice Ibovespa) e, quanto maior o beta, maior tende a ser o grau de exposição ao risco de investir em um ativo individual; ou seja, maior o risco não sistemático ou risco diversificável.

Embora as estatísticas reflitam a performance passada das opções de investimento ao longo de apenas 11 meses, no momento de decidir investir sempre é prudente buscar informações sobre os fatores que tendem a afetar a performance das empresas e sua capacidade de gerar ganhos de capital e proventos. Finalmente, o IBOV apresentou retorno médio e DP de -0,02% e 0,75% no período, refletindo o fraco desempenho da economia, dadas as incertezas nos rumos da Política Fiscal do Governo, valorização do US$ em relação ao R$ e aumentos na inflação e taxa Selic.

Mesmo que tenha tratado de dois casos extremos, as estatísticas apontam que, caso o investidor tivesse aplicado 25% de seus recursos na EMBR3, AZUL4, ASAI3 e LTN teria obtido um retorno de 0,03% e se exposto a um nível de risco de 0,02% no período, fato que contrasta com o retorno do IBOV que, como vimos, representa uma carteira bem diversificada. De fato, essas últimas estatísticas indicam que a diversificação é sempre a melhor opção, sobretudo no longo prazo, e o investidor prudente procura e pode obter uma melhor relação risco-retorno ao investir em uma carteira de ativos diversificada. Lembrando que o retorno médio e DP do IBOV no mesmo período foi de -0,02% e 0,75%, esse caso extremo mostra que perda devida à queda na AZUL4 seria anulada pela performance da EMBR3 e da LTN.

O aumento da Selic, que passou de 11,25% para 12,25% a.a. na última semana, ante a pressão da inflação e desequilíbrio nas contas públicas, além da valorização do dólar, darão a tônica do comportamento do mercado de capitais em 2025. Por isso, é sempre bom estar atento e bem-informado na hora de decidir investir e será inevitável abordarmos tais temas ao longo do próximo ano.

Desejo a você e aos seus, Boas Festas e um 2025 com a melhor relação risco-retorno!

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