É, leitor(a)… Além das ondas de calor nesse inverno, as mudanças climáticas afetarão cada vez mais, direta ou indiretamente, seus negócios.
O Global heatmap divulgado pelo XDI, empresa especializada na análise de riscos climáticos, indica que, no Brasil, além do Rio Grande do Sul, os estados de São Paulo e Minas Gerais, que fazem parte da região coberta pelo JVN, tendem a ser severamente afetados até 2050 (Veja neste LINK) .
Na edição 691 de 08/23, o Jornal da Unicamp apresentou resultados de pesquisas que indicaram que a temperatura máxima no município de Campinas subiu em média 1,2° C em 34 anos. Segundo o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), apenas na cidade de São Paulo o prejuízo com enchentes ultrapassa R$ 762 milhões ao ano.
Não importa o setor no qual você atua ou porte da sua empresa, a mudança climática e seus impactos devem estar no “radar da gestão do seu negócio” quando toma suas decisões operacionais, de investimento e de financiamento.
Independente do bem ou serviço que oferta, seu negócio depende do funcionamento de cadeias de suprimentos (CS), sistema responsável pela gestão de recursos humanos, processos produtivos, informações e recursos envolvidos nas atividades de transporte de bens dos fornecedores para a sua empresa e dessa aos seus clientes finais.
O funcionamento da CS engloba atividades de compra, transporte, armazenamento, formação e controle de estoques, dentre outras, envolvendo desde a produção até a avaliação do nível de satisfação de seus clientes.
Por essa razão, você precisa avaliar a exposição de suas CS aos riscos climáticos físicos para que seja possível, desenvolver e implantar projetos destinados à redução desses nos pontos onde está exposto.
Por exemplo, sua empresa pode investir em níveis maiores de estoques como meio de garantir maior segurança caso parte de sua CS seja interrompida devido a eventos climáticos extremos. E os fornecimentos de água e energia? Se a oferta cair os custos aumentarem?
Há dois tipos de riscos relevantes relacionados às mudanças climáticas: riscos físicos e riscos de transição.
- Os riscos físicos decorrem da ocorrência de eventos climáticos extremos (inundações causadas por precipitações; calor ou secas prolongadas; ventos e tornados; incêndios florestais; redução nos níveis dos rios e reservas hídricas, entre outros).
- Já os riscos de transição surgem quando as empresas buscam reduzir níveis de poluição, devido as seguintes necessidades: mercado e marketing; produção, tecnologia e distribuição; atendimento de exigências legais e regulatórias.
Considerando esses dois tipos de risco, cada empresa enfrenta desafios específicos. O impacto desses dependerá, dentre outros fatores, da natureza do negócio, tipos de ativos empregados, localização da empresa, seus fornecedores e consumidores unidos por CS locais ou globais.
Para você ter uma ideia sobre o tema, a Resolução do Conselho Monetário (CMN) no.4943/21, órgão que normatiza os mercados financeiro e de capitais, estabeleceu diretrizes para que em 2022, além das instituições financeiras (IF’s), empresas que atuam na Bolsas de Valores, divulguem informações sobre os impactos das mudanças climáticas.
Parece distante de você, mas lembre-se: a maior parte das empresas, inclusive a sua, recebem suprimentos de grandes empresas que captam recursos por meio da Bolsa de Valores.
Seja pela força da necessidade ou como meio de atender a regulação pública e novas diretrizes vinculadas à concessão de financiamentos, cada vez mais empresas, investidores e IF’s tenderão considerar os riscos físicos.
Por outro lado, novos critérios de análise de investimentos e oferta de financiamento por parte das IF’s levarão em conta não apenas os riscos físicos, mas também os riscos de transição na concessão de financiamentos às empresas.
Não deixe de considerar esses aspectos no desenvolvimento de seus negócios.
Marcello Muniz é economista e mestre em Engenharia pela USP. Com 20 anos de experiência profissional, é perito judicial, atua como Analista de Negócios junto à Data Science Business Management (DBSM) e é professor de Economia junto à Unifaccamp (de Campo Limpo Paulista) e Faculdade Impacta de Tecnologia (FIT).
Atuou como pesquisador da Divisão de Economia e Engenharia de Sistemas do IPT (DEES), consultor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Analista de Projetos da Fiesp.
Apaixonado por temas relacionados a políticas públicas e economia, participou na qualidade de coautor de 13 livros, entre esses: Política Industrial (Jornal Valor Econômico), Outward FDI from Brazil and its policy context (Vale Columbia Center on Sustainable International Investment), Gestão da Inovação no Setor de Telecomunicações (Fapesp) e Ressurgimento da indústria naval no Brasil: 2000-2013 (projeto-Ipea-BID).