Especialistas alertam para os impactos da nova tributação sobre a gestão patrimonial e a necessidade de modelos mais tecnológicos e independentes
Mudança no cenário tributário
A possível taxação progressiva sobre grandes patrimônios no Brasil tem potencial para transformar a dinâmica de gestão de investimentos no país. Segundo o Relatório Global Wealth 2024 do UBS, um imposto mínimo de 2% sobre a riqueza dos super-ricos afetaria cerca de 267 mil brasileiros, que representam 0,2% da população e possuem patrimônio superior a R$ 13 milhões. A medida poderia gerar entre R$ 40 bilhões e R$ 160 bilhões anuais em arrecadação.
Para Felippe Pires, CEO da Louro Tech, o impacto não é apenas financeiro, mas estrutural. “A fragmentação dos investimentos, que já é alta, tende a aumentar. Com ativos distribuídos em bancos, corretoras, estruturas internacionais, imóveis e criptoativos, o patrimônio se torna um quebra-cabeça complexo de gerir”, analisa.
Desafios culturais e estruturais
Pires explica que dois fatores dificultam a adaptação: o primeiro é cultural, pois o investidor brasileiro ainda prefere modelos tradicionais de remuneração embutidos em produtos financeiros, resistindo ao pagamento direto por serviços de gestão. O segundo é estrutural, já que o modelo fee-based, comum em mercados maduros e baseado em honorários, exige que o assessor de investimentos atue de forma independente, muitas vezes reconstruindo sua base de clientes.
Estruturas offshore e fragmentação de dados
A busca por proteção patrimonial leva investidores a recorrer a estruturas offshore e diversificação internacional. Embora funcionem como instrumentos de planejamento sucessório e proteção de ativos, essas estratégias ampliam a pulverização de dados, tornando difícil a visão consolidada do patrimônio.
Segundo Pires, “o modelo tradicional, com múltiplos profissionais cuidando de partes isoladas do patrimônio, já não atende a essa realidade. É necessário consolidar informações, integrar dados e tomar decisões baseadas em uma visão completa”.
O papel da tecnologia e da inteligência artificial
A gestão unificada de dados é apontada como fundamental para lidar com a nova realidade tributária. Ferramentas tecnológicas, incluindo inteligência artificial, podem consolidar dados de várias fontes, cruzá-los com informações de mercado e oferecer uma visão estratégica de longo prazo.
Essas soluções também auxiliam consultores que migram para o modelo fee-based, ajudando a construir novas carteiras de clientes e reduzir conflitos de interesse. “Estamos entrando em um movimento de descomissionalização. A relação entre profissional e investidor precisa ser baseada em dados, transparência e geração de valor real”, afirma Pires.
Perspectivas do setor
Para o CEO da Louro Tech, o mercado de assessoria de investimentos caminha para uma estrutura mais independente e tecnológica. “O futuro da gestão patrimonial no Brasil passa pela integração de tecnologia, inteligência artificial e um ambiente regulatório mais rigoroso. Quem se antecipar a essa transformação terá vantagem competitiva”, conclui.

