Mais da metade dos turistas com deficiência relatam dificuldades para viajar por falta de acessibilidade
A inclusão de pessoas com deficiência no turismo ainda é um desafio significativo no Brasil, apesar de avanços e programas voltados para esse público. Dados do Ministério do Turismo revelam que, em 2024, 53,5% dos turistas com deficiência deixaram de viajar no país devido à falta de acessibilidade. Essa realidade reflete um cenário de exclusão que não apenas limita o acesso a experiências turísticas, mas também inibe o potencial econômico desse setor.
De acordo com a Rede Empresarial de Inclusão Social (REIS), esse quadro é resultado da invisibilização das pessoas com deficiência na sociedade e nos mercados de consumo. “Além do dever ético e social, a inclusão de pessoas com deficiência é fundamental para as empresas acessarem um mercado volumoso e ávido por consumo no setor de turismo,” afirma Djalma Scartezini, CEO da REIS.
O mapeamento do Perfil do Turista com Deficiência, conduzido pelo Ministério do Turismo, revelou que 23,39% dos entrevistados possuem renda de até um salário mínimo, enquanto 21,3% possuem renda superior a seis salários mínimos. Esses dados demonstram a diversidade de perfis econômicos dentro desse público e destacam o potencial de consumo do segmento.
Barreiras enfrentadas no turismo
Os desafios começam no planejamento das viagens. Faltam sites acessíveis e agências preparadas para atender as necessidades desse público. Além disso, hotéis, transporte público e pontos turísticos frequentemente não possuem infraestrutura adaptada. A escassez de informações claras sobre acessibilidade nos destinos também dificulta a autonomia dos viajantes.
“Eu adoro viajar, mas tenho muita dificuldade e não tenho autonomia quando preciso fechar um pacote turístico. Os sites das agências de viagem não trazem acessibilidade para que possamos escolher um hotel ou passeio com informações detalhadas,” relata Dinacleia Galdino, analista de dados do Serasa e deficiente visual.
Segundo Scartezini, embora o Ministério do Turismo tenha proposto melhorias, ainda há muito a ser feito. “Além de infraestrutura física, como rampas e audioguias, é crucial investir em acessibilidade atitudinal e na capacitação de profissionais,” defende.
Avanços e oportunidades
A Lei Brasileira de Inclusão assegura às pessoas com deficiência o direito ao turismo, esporte, cultura e lazer em igualdade de condições. Entretanto, a realidade ainda está distante desse ideal. Levantamento da Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) indica que o Brasil conta com 545.940 pessoas com deficiência ou reabilitados do INSS no mercado formal, um público considerável que poderia usufruir dos serviços turísticos se houvesse mais inclusão.
Investir na acessibilidade no turismo não é apenas uma questão de direitos, mas também uma oportunidade econômica. Políticas públicas robustas, sensibilização sobre os direitos dos turistas com deficiência e iniciativas do setor privado são passos necessários para transformar o cenário atual. “O futuro do turismo acessível depende de investimentos que promovam experiências inclusivas e permitam que todos desfrutem do que o Brasil tem a oferecer,” conclui Scartezini.