Startup SO+MA desenvolve sistema que personaliza programas de logística reversa e envolve moradores, prefeituras e empresas

Em um país que perde cerca de R$8 bilhões por ano ao não reciclar seus resíduos de forma adequada, segundo a Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), soluções que combinam tecnologia, comportamento social e gestão pública começam a ganhar destaque. Esse é o caso da SO+MA, startup brasileira que criou uma plataforma digital voltada à logística reversa e à gestão de dados sobre reciclagem.

A proposta vai além da simples coleta: o sistema desenvolvido pela empresa permite que cidadãos entreguem resíduos em pontos de recebimento, acumulem pontos em um aplicativo gratuito e os troquem por alimentos, produtos de higiene, descontos em comércios locais ou aplicativos nacionais. Ao mesmo tempo, a plataforma coleta e organiza informações em tempo real, oferecendo indicadores úteis para políticas públicas e estratégias corporativas.

Segundo a fundadora e CEO da startup, Claudia Pires, o objetivo é deslocar o foco da coleta para o uso dos dados. “A SO+MA não é uma empresa de coleta, é uma startup de dados e comportamento. O que entregamos é uma ferramenta de gestão, totalmente customizável, para que marcas, prefeituras ou comunidades entendam seus próprios padrões e encontrem caminhos estratégicos para transformá-los”, afirma.

Claudia Pires, fundadora e CEO da empresa

Um dos diferenciais da tecnologia está na personalização: o sistema pode se adaptar a diferentes contextos, desde escolas e bairros periféricos até grandes indústrias e municípios inteiros. Essa flexibilidade, segundo a empresa, possibilita que cada programa de reciclagem seja ajustado conforme o território em que se insere, sem perder rastreabilidade ou efetividade.

Exemplos já podem ser vistos em diferentes regiões do país. No Jardim Lapenna, zona leste de São Paulo, a SO+MA atuou em parceria com coletivos locais para criar uma rede de troca de recicláveis por benefícios no comércio de bairro. Já em Salvador, a prefeitura incorporou a ferramenta e está em processo de formalização da iniciativa como política pública, alcançando mais de 20 mil usuários cadastrados.

Outro ponto ressaltado por Claudia Pires é o papel ativo do cidadão no processo. “A maioria das soluções ainda opera numa lógica transacional, de quem coleta e quem compra. O que propomos é um modelo sistêmico, onde o cidadão deixa de ser espectador e passa a ser peça central do processo de circularidade”, explica.

O sistema oferece ainda recursos como rankings de reciclagem por região, extratos ambientais individuais, notificações por aplicativo, quizzes educativos e até a possibilidade de doação de pontos a organizações sociais. Para gestores, públicos ou privados, há painéis que permitem acompanhar em tempo real o desempenho de bairros, escolas ou empresas, auxiliando na definição de metas e alocação de recursos.

Até agora, a plataforma já contabiliza mais de 5,1 mil toneladas de resíduos reciclados, cerca de 12,8 milhões de quilos de CO₂ que deixaram de ser emitidos e impacto direto em mais de 52 mil pessoas. Além disso, a SO+MA coordena o programa Empreendedoras da Reciclagem, voltado à capacitação de mulheres catadoras.

Para a CEO, a tecnologia pode ser um caminho para aproximar reciclagem e equidade social. “Tecnologia, quando bem aplicada, é ferramenta de equidade. E reciclagem, quando pensada com inteligência e respeito ao território, deixa de ser obrigação para virar valor coletivo. É essa a transformação que estamos propondo”, conclui.

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