Um sopro de bom senso e otimismo nos ajuda a confrontar dúvidas e angústias.

A visão espiritualista nos ensina que muitas vezes aquilo que perseguimos obstinadamente – riqueza, sucesso, fama, poder, reconhecimento – é exatamente o que nos enfraquece, pois nos distancia de nossa essência espiritual. Na ausência das coisas terrenas, ou nas dificuldades em obtê-las, desenvolvemos medo, raiva, ressentimento, angústia, ansiedade, sentimentos que nos levam a doenças físicas e psicológicas.

Não vou pregar aqui uma vida de jejum e meditação para que todos encontrem seu propósito espiritual. O grande impacto que teve (e tem) a COVID em nossas existências traz reflexões mais profundas e preocupações de longo prazo – como de fato queremos viver? Empresas e pessoas perceberam que as zonas de conforto estão longe de serem lugares seguros, mas não morreram por deixar seus paraísos de crenças… ao contrário, sempre podemos reinventar vidas e negócios quando desafiados.

Não precisamos necessariamente de uma existência tranquila – talvez faça bem ter um desafio para evoluir nossos talentos e capacidade de transformar o mundo onde vivemos. A felicidade pode ser uma bolha ilusória, em especial num mundo condicionado ao status de consumo, onde o ­ter define o nosso ser e estamos amarrados à crença da necessidade de aprovação dos outros. Nossas conquistas são troféus empoeirados na prateleira, ou ecoam dentro de nós como inspiração evolutiva?

A vida urbana moderna nos coloca em permanente estado de alerta, temendo reprovações, absorvendo informação sem critério, da mesma forma que insanamente nos encharcamos de vodka ou chocolates. Não tenho o celular do ano, fui preterida numa entrevista de emprego, não consegui comprar a varinha do Harry Potter, não dei à minha filha uma festa de aniversário… pessoas caem no vazio existencial ao não atingir objetivos materiais, que não fazem parte de nossa natureza humana.

O que precisamos é respirar, dormir, beber, comer, reproduzir, e com isso sobrevivemos biologicamente. Mas nossa natureza evoluiu para uma vida consciente com capacidade de raciocinar e interagir com o mundo. Podemos criar e recriar coisas novas – ideias, produtos, relações, processos, aspirações e inspirações que desenharam em poucos milênios toda beleza e torpeza de nossa civilização humana.

Nós somos os criadores deste formato de sociedade e podemos criticamente exercer nossa liberdade e decidir como devemos ou queremos estar neste mundo. Não precisamos viver para provar nada a ninguém (certo, Renato Russo?), pois somos livres para descobrir e viver nossas paixões, vocações, talentos e compreender como trabalhar e contribuir para as coisas que o mundo à nossa volta precisa. Sem isso não temos um propósito, uma razão de ser.

Se isso faz sentido, vem o desafio da jornada pessoal onde vamos descobrir nossos caminhos e objetivos. Uma jornada de dúvidas e descobertas, onde conheceremos amigos e mentores, demônios e perigos. E de repente, a tempestade vai amainar, e a brisa da consciência soprará constante – uma vez encontrado o propósito pessoal, nos reconectamos com nós mesmos, adquirimos a serenidade para lidar com nossas emoções e problemas, e desenvolvemos uma visão positiva e responsável da vida.

Se compreendemos nossa razão de existir, traçamos nosso caminho, assumimos a liberdade e a vigilância, onde fica irrelevante alguém nos julgar ou punir e onde também não precisamos de premiação ou elogios. Neste patamar de maturidade sabemos quem somos, porque estamos aqui e à serviço de que colocamos nossa existência – um novo sentido que leva à felicidade, e faz a “felicidade” como conhecemos, perder o sentido.

Meu caminho pelo mundo, em mesmo traço

A Bahia já me deu, régua e compasso,

Quem sabe de mim sou eu, aquele abraço!  (Gilberto Gil)

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