Vivemos uma era onde as gerações falam línguas diferentes dentro das mesmas empresas. De um lado, líderes e gestores acostumados com e-mails formais, reuniões longas e processos estruturados. Do outro, uma nova força de trabalho que se expressa em memes, vídeos curtos e mensagens diretas, moldados pela linguagem digital e creator. O resultado? Uma comunicação truncada, mal-entendidos e, no pior dos cenários, um abismo geracional que afeta a produtividade e o engajamento. Mas será que um lado precisa simplesmente se adaptar ao outro? Ou o verdadeiro caminho está na construção de uma comunicação fluida, onde ambas as partes aprendem e evoluem juntas?

A linguagem creator não é apenas um conjunto de gírias ou referências de redes sociais. Ela representa uma nova forma de pensar e comunicar ideias, baseada na objetividade, na visualidade e na interação instantânea. “As novas gerações estão crescendo em um ambiente onde a criatividade e a autenticidade são mais valorizadas do que a formalidade,” destaca Jean Twenge, psicóloga e autora do livro Generations. Isso significa que um e-mail formal de cinco parágrafos pode ser menos eficiente do que um vídeo de 30 segundos ou um áudio direto e dinâmico. As empresas que compreendem essa mudança e ajustam sua comunicação conseguem se conectar melhor com a Geração Z e a Geração Alpha, reduzindo ruídos e tornando suas mensagens mais eficazes.

No entanto, há um ponto fundamental que precisa ser discutido: a comunicação é uma via de mão dupla. Se as gerações mais velhas precisam entender a linguagem creator para manter a conexão com os novos talentos, as novas gerações também precisam desenvolver fluência nas linguagens tradicionais do mundo corporativo. Como ressalta Cal Newport, professor de ciência da computação e autor de Deep Work, “as habilidades de comunicação profunda e escrita clara continuam sendo diferenciais cruciais no mercado de trabalho, independentemente da geração.” Ou seja, os jovens profissionais não podem se limitar a emojis e vídeos curtos; eles precisam dominar a arte da comunicação estruturada, assim como esperam que os mais velhos compreendam sua forma de expressão.

Isso nos leva à provocação essencial: estamos, de fato, dispostos a aprender a linguagem do outro? Muitas empresas falham ao tentar adaptar seu discurso apenas por um lado, seja impondo um modelo ultrapassado ou tentando parecer “moderninhas” sem autenticidade. O verdadeiro desafio da comunicação intergeracional não está em escolher um idioma, mas sim em criar um bilinguismo corporativo, onde cada geração ensina e aprende ao mesmo tempo. Como afirma o especialista em comunicação Simon Sinek, “o verdadeiro líder não é aquele que impõe um caminho, mas o que constrói pontes entre diferentes formas de pensar.”

O que está em jogo aqui não é apenas o tom dos e-mails ou o formato das reuniões, mas a própria cultura organizacional. Empresas que não desenvolvem essa fluência intergeracional correm o risco de perder talentos, diminuir sua inovação e, no longo prazo, se tornarem irrelevantes. O caminho para uma comunicação eficiente não é o embate entre linguagens, mas a construção de um espaço onde todas elas coexistam. Afinal, o mercado não é feito apenas de quem sabe falar, mas principalmente de quem sabe se fazer entender.

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2 Comentários

  1. Concordo totalmente que é preciso entendimento de todas as pessoas para finalmente ultrapassarmos a barreira rasa de “quem é melhor”, “quem salva quem” – porque isso é balela. Não estamos falando de um mundo que precisa de um herói salvador, mas sim de um mundo – corporativo ou não – que é dinâmico, é vivo, é latente, e tem necessidades de comunicação muito variadas a depender do local, das pessoas envolvidos, do momento. São vários contextos. Nem sempre um email de 5 parágrafos resolve. Mas às vezes ele é necessário para explicar o que um vídeo de 30 segundos não explica. Mas com certeza um o vídeo de 30 segundos, se bem elaborado, pode despertar a atenção e interesse de quem precisa ler o email de 5 parágrafos. Formalidade não é antagônica à objetividade. É totalmente possível ser formal e objetivo ao mesmo tempo. E o excesso de objetividade, por outro lado, pode tornar a comunicação rasa. É preciso trabalhar a criatividade ao mesmo tempo em que se desenvolve também a paciência para compreender que nem tudo pode ser comunicado em um meme. Tudo sempre vai depender do público com o qual quero me comunicar, como ele entende e quais meios/canais tenho à minha disposição. Exercitar o rapport em todas as pontas para haver equilíbrio e fluidez na comunicação. Sempre haverá uma nova geração chegando e sempre haverá as gerações que vão acumulando todas as idades anteriores dentro de si. Então, ninguém ‘salva’ ninguém – já a boa vontade para se comunicar como o ambiente pede, essa sim, salva a todos.

    1. Author

      Perfeito comentário! Essa reflexão propõe esse caminho, é necessário empatia, respeito, amor em todo esse processo de aprendizagem entre gerações.
      Uma ponte, uma via de mão dupla, uma mesa, são construções que podem ajudar o mundo corporativo, as escolas, as casas, até porque todos esses ambientes existem gerações dialogando entre si.

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