Bom senso:

a) faculdade natural de julgar (algo, alguém) de maneira correta e equilibrada;

b) capacidade ou aptidão de distinguir o certo do errado, o bem do mal, o verdadeiro do falso, em questões cotidianas e corriqueiras que não exijam grandes reflexões ou soluções científicas ou técnicas, resolvendo assim problemas conforme o senso comum.

Tem sido cada vez mais complexo manter a lucidez e a leitura acurada do mundo em que vivemos – eu transito diariamente entre a tentação de me alienar completamente, ou afirmar meu desejo de compreender o que se passa com o ser humano neste momento de muita informação e tanto desencontro.

Nunca estivemos tão conectados, nem tão isolados, em nossos games, filmes e chats, que nos distraem sem fazer nenhum sentido em nossas vidas. Inventamos guerras onde bastava um aperto de mão. Deletamos e cancelamos bons amigos, por não vestirem a mesma camisa que nós. Nos punimos com os moralismos e regras que nós mesmos criamos, e depois corrompemos as mesmas regras para atender nossos interesses pessoais, culpando um “sistema opressor” do qual somos construtores.

Em nome de Deus, pecamos, em nome da verdade, mentimos, em nome da justiça, transgredimos. E pobre de quem deseja viver livre, sem engajar em batalhas insanas e estéreis – este é visto como fraco, moralismo invasivo num mundo onde a força virou sabedoria!

A liberdade de expressão da internet fez com que criássemos nossas próprias constituições, verdades rasas como açude na seca – criticamos, julgamos, reclamamos, invejamos, nos deprimimos com realidades que não vivemos, temas dos quais nada sabemos, ávidos de participar de alguma forma de um mundo incompreensível para quem não deseja sofrer a dor de conhecer.

Contra o isolamento, as tribos – aparelhamentos ideológicos e estéticos viram dogmas repetidos por seus radicais seguidores. Nenhuma outra verdade é aceita, a rigidez cognitiva em seu melhor momento, a intolerância à flor da pele.

Como humanista, poeta, pai, orgulhoso cidadão do mundo do alto das minhas brancas madeixas, olho este cenário com desconforto e compaixão; tenho motivos diários para me decepcionar com a espécie humana, mas acolhemos o ser humano em sua imperfeição (bênção, Nelson Rodrigues!), e podemos ouvir, compreender, orientar, conversar, e quem sabe, ajudar a levantar os muitos véus do entendimento, reduzindo as angústias e incertezas que a sociedade causa, mas não cura.

Toca tratar as árvores doentes, para que deem frutos saudáveis. Vamos plantar novos brotos, para a gente respirar e a alma não se atrofiar (bênção, Aldir Blanc), e vamos saber o momento de regar, esperar e colher. Com sorte traremos conforto aos angustiados franco atiradores, que a riqueza desta vida passa ao largo neons do ego, dos holofotes das celebridades, da força da grana que ergue e destrói coisas belas (bênção, Caetano).

Afinal, os fluxos da natureza já nos ensinam tudo que precisamos!  

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