“Sustentabilidade” é daquelas palavras mágicas que cabem em qualquer discurso, e nem sempre conseguimos definir bem o significado; vamos conhecer a visão do titio Fritjof Capra, pensador e autor de “Teia da Vida”, leitura imperdível para entender nosso tempo. Capra nos ensina que o planeta é um organismo único, e algumas características que o tornam sustentável (e o mantém “vivo”): a interdependência (rede de relações – nutrição permanente); a reciclagem (sistema cíclico); a parceria/cooperação (democracia e co-evolução); a flexibilidade (conviver com a contradição e o conflito), e a diversidade (diverso = vitalidade).

Tenho experimentado estes conceitos em comunidades e empresas. Nunca falha!

Onde não se apresentam os cinco elementos, não há sustentabilidade (nem futuro possível). Assim como nos ecossistemas, cidades e coletivos demandam sustentabilidade tanto para sua sobrevivência como para a sua evolução. Quando os interesses de poucos se sobrepõe aos interesses de todos, pratica-se exatamente o contrário (dependência, competição, desperdício, inflexibilidade e preconceito). Por que um município gasta meio milhão de reais em um show do artista da moda, mas não cogita implantar um projeto de educação musical no ensino fundamental (falta dinheiro?): insustentável! Por que gastamos fortunas para desassorear rios e não investimos na solução permanente da recuperação de nascentes e mata ciliar? Insustentável! Por que empresas gastam milhões para construir a sede da matriz e não oferecem mínimas condições de trabalho aos seus colaboradores? Insustentável…

O bom é que educadores, ambientalistas, militantes e qualquer cidadão, empresário e político de bom senso polinizam ideias sustentáveis e combatem visões sectárias, míopes ou egóicas. Assim surgem exemplos que inspiram e dão esperança! Caruaru (PE), com seu escritório de projetos, Socorro (SP) e Bonito (MS), exemplos de governança em turismo, Extrema (MG), com o seu programa de gestão de recursos naturais, São Sebastião da Grama (SP), com o fomento à cultura empreendedora, Curitiba (PR), na mobilidade urbana, São Luiz do Paraitinga (SP) e Conservatória (RJ) no turismo cultural, Indaiatuba (SP) no apoio e incentivo ao Terceiro Setor, Cordeirópolis com o seu programa de hortas urbanas, que inspirou por sua vez o Projeto Cuidar de horticultura urbana, em fase de lançamento em Atibaia (SP) (https://www.instagram.com/projetocuidar.agroeco/ ), só para citar alguns exemplos.

Programa Moradia Urbana com Tecnologia Social – Fundação Banco do Brasil em parceria com ONG Mater Dei; implantação de modelo de compostagem e coleta seletiva gerou redução de 90% do resíduo urbano em conjunto habitacional do Jardim Carandá (Sorocaba-SP) – boas práticas inspiram bons projetos!

A boa governança da coisa pública implica voltarmos ao tema cooperação – eu costumo dizer que o setor governamental prioriza uma política concreta (obras, reformas, estradas, reconstrução) e raramente uma política do subjetivo, que vem a ser o essencial – cuidar das pessoas, com oferta de educação, cultura e saúde de qualidade. Precisamos pontes dos dois tipos! Governar com as pessoas, formar redes de protagonistas para compreender problemas e soluções locais, implantar infraestrutura, entender o que é como influir em uma política pública, garantir que se integrem em todas intervenções públicas e privadas o equilíbrio entre meio ambiente, mobilidade, habitação, cultura, tecnologia e desenvolvimento econômico – caminhos necessários para assegurar a qualidade de vida das futuras gerações, no local onde nasceram e onde possuem identidade.

Duas iniciativas norteiam os caminhos de municípios e organizações que desejam trabalhar nessa linha – a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (ONU 2015) – disponível em

https://brasil.un.org/pt-br/91863-agenda-2030-para-o-desenvolvimento-sustentavel, cujos 17 objetivos e 169 metas dizem respeito ao equilíbrio dos famosos 5 Pês: Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parceria. Com aval de mais de 150 países comunga um esforço mundial de busca de indicadores de sustentabilidade até o ano de 2030.

Em uma iniciativa nacional, vale conhecer o Programa Cidades Sustentáveis, uma “agenda de sustentabilidade urbana que incorpora as dimensões social, ambiental, econômica, política e cultural no planejamento municipal, sensibilizando governos locais para a implementação de políticas públicas estruturantes, que contribuam para o enfrentamento da desigualdade social e para a construção de cidades mais justas e sustentáveis” (ver em https://www.cidadessustentaveis.org.br/ ). O Programa disponibiliza uma interessante plataforma gratuita de 260 indicadores, aplicativos de uso livre e biblioteca de boas práticas, para inspirar agentes políticos em suas políticas públicas. Pronto para uso e sem custo, mas ainda pouco acessado se considerarmos a quantidade (insustentável) de municípios brasileiros. Cidades sustentáveis existem, são possíveis e precisam ser criadas e construídas coletivamente, todos os dias!

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