Notícias positivas acerca da performance econômica brasileira têm sido veiculadas pela imprensa, nas semanas mais recentes. Não sem motivo, muitos textos, entrevistas e comentários em geral, têm ressaltado os “bons resultados” que, por sua vez, inspiram expectativas igualmente boas. Candidatos(as) a cargos eletivos, particularmente os apoiadores de nosso Presidente (candidato à reeleição, como sabemos) têm utilizado parte das boas novas, como insumo da argumentação defensora de suas plataformas. Até este ponto, quase nada vejo que me cause algum desconforto. “Quase nada” eu disse. Sob meu ponto de vista, precisamos esperar aspectos conjunturais amadurecerem e se tornarem estruturais.

Há 4 dias, o relatório Focus mostrou que a mediana das expectativas para a inflação de 2022, medida pelo IPCA, era de 6,61%, há 10 semanas consecutivas. No mesmo documento, lê-se que a mediana das expectativas para a taxa Selic, no final de 2022, era 13,75%, há 11 semanas consecutivas. Em relação ao centro da meta, a citada inflação esperada para este ano está 1,61 ponto percentual acima do teto da meta (5,0%), números que podem ser explicados, haja vista o cenário global. No que se refere à taxa de juros, a estabilidade das expectativas para Selic-dezembro/2022,  mostrada no relatório Focus, sugere, ao menos, a percepção de que o Banco Central não promoveria aumento na meta da taxa Selic, nos poucos meses restantes do ano corrente.

Recentemente, diante das “boas novas” a que me referi, alguns (poucos, é verdade) analistas passaram a trazer ao debate uma possível redução da taxa de juros, principalmente diante da deflação apontada em julho (variação mensal do IPCA = [-] 0,68%) e da esperada para agosto (IPCA-15 apontando [-] 0,73% de variação mensal do IPCA). Voltando ao boletim Focus mais recente: mediana das expectativas de IPCA/agosto era (-) 0,35% e tem sido reduzida por 13 semanas consecutivas!

Na mesma data de publicação do boletim Focus, tantas vezes citado neste texto, 5 de agosto, o economista Roberto Campos Neto, Presidente do Banco Central do Brasil, em evento noturno fez alguns alertas aos planejadores, investidores e outros interessados em política monetária. “Alertas” que não podem ser negligenciados, no mínimo em consideração às credenciais de seu autor.

Campos Neto, sem rodeios ou qualquer outra cortina de fumaça, tratando de gestão da inflação, por meio da taxa de juro, afirmou: “…a gente não olha, não pensa, em queda de juros neste momento.” (…) “A gente pensa em finalizar o trabalho – finalizar o trabalho significa convergir a inflação.[Nota da coluna: ‘convergir a inflação’ significa trazer a inflação para o máximo de 5,0%, em 2022,  e, em 2023, máximo de 4,75% – para este ano, não se considera esse objetivo factível.] Ele disse mais: “A gente entende que a inflação teve alguma melhora recente, mas grande parte da melhora foi por medidas do governo(…) a gente entende que ainda tem um elemento de preocupação grande e a mensagem é que a gente precisa combater esse processo, entendendo que a gente vai passar por 3 meses de deflação, muito provavelmente, mas que a batalha ainda não está ganha.

O calendário 2022 do COPOM aponta para 3 reuniões restantes. A próxima ocorrerá em 20 e 21 de setembro. Podemos esperar redução na meta da taxa Selic? Diante do mostrado acima, não! Seria realista a expectativa de 14,0 % a.a., de meta Selic, ainda em 2022? Sim, aliás, em sua comunicação aos mercados, referente à última reunião (2 e 3 de agosto), o COPOM deixou a “mesa posta” para um aumento de 0,25% ponto percentual, o que levaria a meta para 14,0% a.a.. Entretanto “mesa posta” não é certeza de realização do banquete. Apenas 3 dias após a próxima decisão do COPOM, ocorrerá a publicação de mais um texto desta coluna. Excelente oportunidade para uma próxima conversa. Concordam?

Até breve!

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